Bahia registra 42 policiais presos em apenas dois anos
Do total, 88% eram militares; especialista diz que profissionais se tornam alvos da cooptação de organizações criminosas
Por: Gilberto Barbosa
Mais de 40 policiais foram presos na Bahia nos últimos dois anos Crédito: Marina Silva/Arquivo CORREIO
Dados do Ministério Público da Bahia (MP-BA) apontaram que 42 policiais foram presos no estado nos anos de 2023 e 2024. De acordo com o órgão, entre os presos, 37 eram policiais militares, quatro eram penais, além de um policial civil. Ao todo, 18 operações foram realizadas no período para cumprir mandados de prisão contra esses agentes da segurança pública.
Dividindo os dados por ano, 16 policiais foram presos no ano passado, sendo 12 PMs e quatro da Polícia Penal. No ano anterior, foram detidos 26 agentes, dos quais, 25 eram policiais militares e um integrante da Polícia Civil. O Ministério Público não informou detalhes sobre as operações que resultaram nas prisões dos agentes, as acusações que eles respondem e nem os nomes dos detidos.
De acordo com o coronel reformado e especialista em segurança pública, Antônio Jorge Melo, há dois tipos de policiais que se envolvem com atividades criminosas: aquele que é cooptado por organizações criminosas, e outro que ultrapassa os limites da legalidade nas ações contra o crime organizado.
“Temos observado um crescimento nas ligações dos agentes com facções ligadas ao narcotráfico, além de um fenômeno onde pessoas já entram nas corporações integrando esses grupos. Não é algo exclusivo da polícia, e é um risco muito grande, tanto que as instituições estão aprimorando seus mecanismos correcionais e suas sindicâncias sociais para detectar antecipadamente esse tipo de envolvimento”, ressaltou.
Antônio Jorge também explica que, por integrarem as forças de segurança, os policiais são os alvos preferenciais dos processos de cooptação das organizações criminosas. “Os motivos são diversos, podem ser por proteção ou para obterem informações privilegiadas. Esses grupos buscam os agentes com o objetivo de obterem vantagens”, completou.
Para o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), especialista em segurança pública, Horácio Nelson Hastenreiter, o número de policiais presos pode estar relacionado a três fatores distintos: “um aumento do envolvimento de policiais em atividades criminosas, a melhoria do processo correcional com os órgãos mais atuantes e a facilidade que os crimes podem ser identificados”.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Secretaria de Administração Penal (Seap), a Polícia Militar e a Polícia Civil para ter mais informações sobre as prisões dos policiais ocorridas em 2023 e 2024, mas não houve posicionamento dos órgãos até a publicação desta reportagem.
Operações
Nas operações do Ministério Público, divulgadas à imprensa no ano passado, os policiais foram presos sob acusação de corrupção, organização criminosa, alteração de cenas de crimes e por forjarem autos de resistência para encobrir execuções de suspeitos de práticas criminosas, principalmente, tráfico.
No dia 17 de abril do ano passado, três policiais militares foram detidos na Operação Tápis, deflagrada em seis cidades baianas. Eles foram apontados como integrantes de um grupo de extermínio e, segundo as investigações, estariam forjando autos de resistência para encobrir execuções de suspeitos de práticas criminosas. A ação resultou na apreensão de armas, munição, drogas, além de placas de carros, celulares e documentos.
Em operação em setembro, quatro policiais penais foram detidos na Operação Falta Grave, deflagrada pelo MP-BA e pela Seap. Uma fonte do CORREIO na época informou que um dos suspeitos recebia pagamentos para liberar a saída dos presos em horários não autorizados.
Na ação, a polícia apreendeu uma pistola, munições de diversos calibres, aparelhos celulares, notebooks, relógios e dispositivos eletrônicos dos alvos. Os presos foram acusados de extorsão, associação criminosa e corrupção, contra internos do sistema prisional.
Já no dia 17 de dezembro, três operações deflagradas simultaneamente pelo MP-BA resultaram na prisão de três policiais militares por suspeita de invasão de domicílios, execução de pessoas rendidas e alteração das cenas dos crimes. Dois agentes foram presos em Jequié, no sudoeste do estado, e um em Ilhéus, no sul, sendo que dois deles também estavam em posse de drogas.
Foram apreendidos simulacros de arma de fogo, armas, munições, dinheiro em espécie, celulares, aparelhos eletrônicos, balança de precisão, drogas, dentre outros objetos.