A Bahia já contabilizou 663 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes entre janeiro e maio deste ano, segundo informações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. De acordo com a delegada Simone Moutinho, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derca), muitos deles começam ou passam pela internet.
Neste ano, já são 202 registros de estupro e 93 de exploração sexual. Uma criança pode ser vítima de mais de um desses crimes, na mesma situação. Os números são computados anualmente no Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e ficam disponíveis para os cidadãos.
“Temos uma subnotificação tremenda de casos de exploração e apenas 10% de tudo que acontece é noticiado. Só 1% gera condenação. A lei do silêncio ainda é muito forte e os dados mostram isso”, afirmou a delegada ao g1 Bahia.
O levantamento sobre as estatísticas da Bahia foi divulgado neste sábado, 18, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
A Bahia é o quinto estado com mais notificações, que englobam crimes como estupro, exploração sexual, importunação sexual e violência sexual mediante fraude. Entre janeiro e abril deste ano, foram contabilizados 564 casos. No mesmo período do ano passado, o número foi praticamente o mesmo: 565.
Conforme o g1, em relação a exploração sexual, os registros diminuíram em todo o estado. Segundo a Polícia Civil, comparando os primeiros quatro meses de 2023 com os de 2024, é possível perceber que os casos reduziram, tanto na capital do estado, como no interior, onde ocorre a maior parte dos crimes.
Agressores e vítimas
No Brasil, a maior parte das vítimas são meninas pardas e pretas e os agressores, “pessoas de confiança”. O painel do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aponta que eles são pais, padrastos, vizinhos, tios e avôs, e usam dessa proximidade para cometer os abusos.
A delegada Simone Moutinho explica que o cenário muda quando se entra no campo da internet, onde abusadores se escondem atrás de perfis para iniciar relacionamentos com a vítimas. “As crianças hoje são aliciadas e exploradas principalmente pela internet”, afirmou Moutinho.
De acordo com a delegada, as redes sociais facilitaram as ocorrências por diversos motivos: a possibilidade de conhecer pessoas de fora do ciclo social, a chance de esconder a identidade, a rapidez de disseminar uma informação e até mesmo a facilidade de lucrar com a venda de conteúdos.
“Na maioria dos casos que passam pela internet, vítimas e agressores se conhecem em chats de jogos, grupos e aplicativos de relacionamento, por exemplo”, contou.
Segundo o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, neste ano já foram registrados 15 casos de estupro virtual, quando o agressor usa fotos íntimas ou até mesmo montagens para ameaçar as vítimas. Muitas vezes, elas são obrigadas a enviar conteúdos pornográficos para que a “foto inicial” não seja publicada, momento que começa o ciclo de ameaças e abusos.
Ainda segundo a delegada, o modus operandi dos suspeitos é bem parecido nesses casos: eles se apresentam como pessoas da mesma idade e com os mesmos interesses das vítimas; ganham a confiança e se tornam pessoas presentes no dia a dia, mesmo que virtualmente; a vítima e o agressor trocam fotos íntimas e praticam sexting; a vítima passa a ser ameaçada.
Sinais de atenção
O comportamento de cada vítima é muito pessoal, contudo, a delegada indica alguns pontos que podem ser analisados pelos pais e responsáveis, como:
– Mudanças abruptas de comportamento;
– Automutilação;
– Passar muito tempo na internet;
– Apagar histórico de pesquisas e dificultar o acesso dos pais ao próprio computador e/ou celular.
Prevenção
De acordo com Simone, em relação às redes, o que acontece na maioria dos casos é o “abandono digital”, quando crianças e adolescentes usam as redes sociais livremente, sem nenhum tipo de monitoramento.
Ela explicou que a medida também não passa por hiper monitorar ou proibir o uso, já que as ferramentas se tornaram parte fundamental do dia a dia das pessoas. Uma das possibilidades é o letramento digital dos próprios responsáveis, para que possam acompanhar as crianças de forma sadia e conversar sobre o tema com propriedade.
A prevenção parte da informação e do diálogo aberto entre crianças/adolescentes e seus responsáveis, afirma a delegada. Esse diálogo deve abordar o corpo humano e também a internet.
“É preciso fazer com que a criança pequena, de dois anos, saiba identificar as suas partes íntimas, porque assim ela consegue entender o que não pode ser feito e comunicar os pais caso o abuso aconteça”, aconselhou.
Como denunciar
As vítimas podem registrar os crimes online ou presencialmente. A Delegacia Virtual ampliou as opções de registros de ocorrências e é um alternativa importante para pessoas que podem ter dificuldades para se dirigir até uma unidade física. As denúncias podem ser feitas pela internet, no site www.delegaciavirtual.sinesp.gov.br.
Os crimes contra crianças, adolescentes e mulheres também podem ser registrados nas delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deams) e as Delegacias de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derccas).
O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) tem uma assistente virtual, a Judi. Pelo número de WhatsApp (71) 99978-4768, é possível obter informações sobre os tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher (psicológica, física, sexual, moral e patrimonial), além de ter acesso aos canais de denúncia. Também é possível relatar casos através do serviço nacional Disk 100.
Fonte: A Tarde