O nome de batismo é Jardim Nossa Senhora das Graças. O apelido carinhoso, Carobinha, é árvore conhecida pelas propriedades cicatrizantes, curativas. A escola municipal que fica no alto da Rua do Pavão leva um nome que não condiz com a realidade local: Professor Pacífico.
Lá, não há paz. E as feridas da Carobinha estão longe de cicatrizar. Na quarta-feira, a diretora da Escola Pacífico, Mônica Cristine Rodrigues, foi agredida ao chegar para trabalhar. O tapa, dado por rapaz na garupa de uma moto, chocou a comunidade em Campo Grande, vítima de guerra sem fim entre milicianos e traficantes.
“Aqui não tem paz. O bicho pega direto. Só temos duas opções: ou a gente se acostuma, ou a gente se acostuma. Não tem outra”, revelou funcionário de posto de gasolina na Avenida Brasil, na entrada da comunidade. A Secretaria de Educação confirmou a agressão, mas não disse qual seria o motivo.
De acordo com a 9ª Coordenadoria Regional de Educação, oito unidades escolares não abriram ontem, o que significa que 3.733 crianças e adolescentes ficaram sem aula. Uma rotina para quem mora na Carobinha. “A gente vive como dá. Vai para a escola quando dá, compra gás quando dá, brinca na rua quando dá”, conta uma moradora que, claro, não quis dizer o nome.
O clima na comunidade, ontem, estava bem ruim. E não apenas pela chuva que caía sem parar. Os tiroteios, que aumentaram desde segunda-feira na disputa pelo comando de uma região onde o Estado não atua, deixaram os moradores mais assustados do que o normal.
Até mesmo os policiais que estavam na Avenida Brasil não recomendaram a entrada da equipe de reportagem do DIA no local. “Tá meio sinistro lá dentro, hein! Nem polícia tem”, disse um PM com fuzil na mão.
Até a tarde de ontem, a Carobinha era, literalmente, terra de ninguém. Nem da milícia, nem do tráfico, muito menos da polícia. Dos moradores, então, nem se fala.
Caminhões queimados e muito prejuízo
Na disputa entre traficantes e milicianos, a corda estourou, como sempre, para o lado mais fraco. O dono de uma empresa de caminhões teve três veículos incendiados na segunda-feira por um bando que, dois dias antes, tentou obrigá-lo a aumentar o preço do saco de areia para poder entrar no mercado.
Como o dono da empresa se recusou a obedecer os criminosos, acabou tendo os caminhões incendiados e calcula o prejuízo em mais de R$ 300 mil. “Como a gente faz numa situação dessas? A quem vamos recorrer? Não adianta chamar a polícia porque ela não vem. Somos eternamente reféns”, disse outro comerciante.
O Dia