Bolsonaro: bom comediante não fosse fascista sem graça

Ricardo Miranda – Blog Os Divergentes

O inglês Sacha Baron Cohen já pariu diversos personagens cavernosos e, mesmo sem conhecer nossa realidade, ou assistir palestras no Clube do Exército, inventou há alguns anos o “almirante general” Aladeen, protagonista do filme “O Ditador”, uma piada mirando bobos mais notórios no planeta, mas que se adapta a qualquer candidato a déspota não esclarecido que viva num mundo paralelo de armas, medalhas e continências. Quem se der ao trabalho, e tiver estômago, para furar a bolha ideológica em que muitos de nós vivemos nas redes sociais, aquela que, segundo analistas, nos cercam de pessoas que só leem e vêem coisas que reforçam nossas próprias convicções, poderá navegar pelo Facebook do deputado-capitão Bolsonaro. É uma tarefa insalubre, mas necessária. Poucas coisas, além da gaveta de cuecas e aqueles momentos solitários no chuveiro, são tão reveladoras sobre um homem hoje quanto seu perfil numa rede social.

O perfil de Jair Messias Bolsonaro está beirando os 5 milhões de seguidores, inclusive 12 amigos meus, que devem ter suas razões para isso – mas isso a gente acerta depois. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é a frase-mantra, dentro de uma tarja verde e amarela – bem Collor de Mello -, em meio a um alvorecer sépia visto de uma varanda de um flat. Dentro, de perfil, em p&b (por que em p&b?), emerge um Bolsonaro com uniforme de parlamentar – blusa social branca e gravata básica, mirando o infinito. Poderia ser um pastor. Poderia ser um missionário mórmon com uma bíblia embaixo do braço. Poderia ser um vendedor de enciclopédias – espera, não existem mais vendedores de enciclopédias.

Na média, os vídeos são toscos. Não ingênuos. Toscos mesmos. Mas tem bastante visualização. Muito mais do que curtida. Não sou especialista, mas suponho que isso signifique curiosidade, mais do que adesão. Há vídeos do próprio Bolsonaro, vídeos de fãs – algumas beirando a psicopatia, mas não tenho licença psiquiátrica para garantir -, e vídeos dos filhos, especialmente Eduardo e Flávio. Um certo Nando Moura, em vídeo gravado num quarto de cortinas fechadas – estaria ele no Brasil? -, critica Cuba, “país massacrado por uma família de psicopatas, os Castro”, Venezuela e Coréia do Norte. Ele recomenda um filme dirigido por Angelina Jolie. Não vou recomendar junto. 11 mil curtidas.

O tema militar, a homofobia, o anti-comunismo, o anti-socialismo, o ódio a Lula e aos petistas, uma certa tara mal explicada na deputada Maria do Rosário, ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, estão sempre presentes. O número de pessoas nos eventos filmados é sempre menor que seu ruído. Se somarmos todos, Bolsonaro não se elege síndico nem em um grande condomínio na Barra da Tijuca.

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