O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) foi um “péssimo gestor”, especialmente para os povos indígenas, e deve “responder por tudo o que fez”, disse à AFP o cacique Raoni Metuktire, um emblema da luta indígena no Brasil.
Bolsonaro deve prestar depoimento nesta quarta-feira (26) à Polícia Federal no âmbito de uma investigação sobre os ataques de 8 de janeiro na sede dos Três Poderes em Brasília.
“Ele tem que responder por isso”, disse Raoni, referindo-se à invasão e à destruição perpetrada por bolsonaristas radicalizados, insatisfeitos com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.
Mas o líder kayapó, de mais de 90 anos, também fez uma denúncia mais geral ao legado do ex-presidente (2019-2022).
Ele deve “responder por tudo o que fez (…) Ele foi um péssimo gestor para nós, povos indígenas, nos atacou”, disse Raoni a uma equipe da AFPTV, durante encontro anual de indígenas de todo o país em Brasília.
A Justiça pediu a inclusão de Bolsonaro na investigação para identificar os mandantes da violência, citando um vídeo que o ex-presidente postou em suas redes sociais dois dias depois das agressões em que questionava o resultado eleitoral de outubro.
Raoni, que junto com outros cidadãos entregou a faixa presidencial a Lula em sua posse no dia 1º de janeiro, disse que os povos indígenas “estão cada vez mais fortalecidos” com a volta ao poder do esquerdista, que já governou o Brasil entre 2003 e 2010.
A grande maioria dos indígenas apoiou a candidatura de Lula contra Bolsonaro, que cumpriu a promessa de não demarcar “nem um centímetro a mais” dos territórios indígenas e estimulou a agricultura e o extrativismo nessas áreas.
Após três meses no poder, o presidente de esquerda sofre pressões de lideranças indígenas, embora Raoni tenha se mostrado esperançoso com as promessas do novo governo.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, anunciou recentemente que em breve serão aprovadas 14 novas reservas indígenas, com uma área total de 1,5 milhão de hectares.
Raoni participou nesta terça-feira da 19ª edição do acampamento Terra Livre, encontro de indígenas de todo o país, cujo lema este ano é “Sem demarcação, não há democracia”.
O encontro, realizado em um campo próximo à emblemática Esplanada dos Ministérios, no coração político de Brasília, começou na segunda-feira (24) e segue até sexta-feira (28).