O exame andrológico é destinado aos machos reprodutores e deve ser feito por um médico veterinário capacitado. Durante o procedimento, o veterinário avalia a saúde geral do animal, procura por alterações genéticas nos órgãos reprodutivos, como pênis e testículos, e estuda a qualidade dos seus espermatozoides, garantindo que apenas os touros com melhores resultados sejam selecionados. No caso dos bovinos, este procedimento é aplicado aos touros.
Porém, Gabriel Menezes, gerente do Senar Bahia, relata que a prática ainda não é comum na pecuária. “Infelizmente os produtores não conhecem a importância e muitas vezes nem a existência do próprio exame. O exame andrológico é uma avaliação completa do sistema reprodutivo do macho. É extremamente relevante, uma vez que um reprodutor com baixa fertilidade, tem impacto direto na diminuição da produção da propriedade”, comenta.
“São animais que pesam de 500 kg a 800 kg, então se tem um problema genético, como o que a gente chama de perna de bailarina, que tem a perna muito reta, o animal não vai conseguir saltar para cobrir (acasalar com) a fêmea. A gente também avalia o sistema reprodutor. Se o animal tem um testículo muito pequeno, ele pode ter uma hipoplasia testicular, que é uma doença que passa tanto para os filhos quanto para as filhas. (Permitir que esse animal) participe da reprodução é repassar características de subfertilidade ou até mesmo de infertilidade (para os bezerros)”, aponta Rodrigo Bittencourt, conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/BA) e diretor da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Segundo a Embrapa, um touro infértil pode representar a perda de 25 a 50 bezerros, enquanto uma vaca infértil representa a perda de apenas um bezerro. Bittencourt destaca que essa redução no rebanho de bezerros pode diminuir drasticamente a produtividade e a rentabilidade da pecuária. “Se um macho desse não é avaliado e ele fica com cem fêmeas, serão cem bezerros que deixarão de nascer. No Brasil, o abate de bovinos para a produção de carne se dá quando o animal tem em torno de 30 arrobas, e uma arroba custa em torno de R$ 230. Se você deixa de ter 100 animais que pesam 30 arrobas cada, o prejuízo causado apenas por um reprodutor que não foi avaliado pode chegar a R$ 600 mil”, aponta.
Além de examinar a fertilidade do touro, o procedimento também detecta a presença de bactérias ou vírus que podem ser transmitidas pelo sêmen. Alguns destes microrganismos provocam doenças que podem ser repassadas aos seres humanos, como leptospirose, tuberculose e brucelose.
Por isso, é recomendado que os touros sejam submetidos aos exames andrológicos a cada dois ou três meses durante a estação de monta, período em que as fêmeas são expostas aos machos para a reprodução. Antes de submeter o animal ao procedimento, é necessário mantê-lo alimentado com uma dieta adequada, para que deficiências nutricionais não influenciem um diagnóstico equivocado.
Novas tecnologias
De acordo com a Embrapa, o novo aplicativo contém informações organizadas padronizadas que auxiliam os médicos-veterinários na realização das avaliações físicas, clínicas e morfológicas que compõem o exame andrológicos.
Para usar as funções do app, é necessário que o usuário cadastre as informações da propriedade rural onde o animal está, como nome da fazenda, nome do proprietário, nome do estado e do município. Depois, é preciso inserir nome, raça, data de nascimento e número de registro do animal que será submetido ao exame andrológico.
Com base no registro de condições físicas, clínicas e morfológicas, o app determina se o animal está apto para a reprodução, temporariamente inapto – quando há alguma condição de saúde que o impeça de se reproduzir durante um período específico, mas que pode ser tratada – ou definitivamente inapto, quando o animal possui alguma condição que o torna infértil permanentemente.
Além da emissão de laudo, os registros realizados no app contribuirão para a consolidação de um banco de dados com informações relevantes para o setor pecuário, como a quantidade de exames andrológicos realizados por ano, idades dos touros, regiões que apresentam mais problemas relacionados à doenças reprodutivas, entre outras.
Para que as informações neste banco de dados se mantenham precisas, a Embrapa pede que os exames sejam feitos apenas por médicos veterinários. Por isso, é preciso que o profissional insira o seu registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) logo na tela de entrada do app.
Bittencourt destaca que o aplicativo será útil para guiar os profissionais durante todas as etapas do exame e para esclarecer os resultados aos pecuaristas. “A chave desse aplicativo é exigir que os profissionais façam o mínimo. Assim, tanto a pessoa que compra touros em leilões quanto a que está buscando um touro para cobrir (cruzar com) as suas vacas terão a garantia de que o veterinário realizou todas as etapas do exame”, afirma.
Além disso, ele comenta que os estudantes e pesquisadores da Ufba também estão estudando novas tecnologias e métodos para analisar a saúde reprodutiva dos animais. “Temos um laboratório específico para andrologia animal, se chama Androlab (Laboratório de Andrologia e Fertilidade Reprodutiva). Conseguimos fazer com que um computador faça toda a análise de parâmetros espermáticos, (avalie) como a célula está se movimentando, em qual frequência a cauda do espermatozoide está batendo. São avaliações precisas e acuradas que, em nível de tecnologia, nos permitem disputar com qualquer grande laboratório do mundo”, relata.