O brasileiro tem sofrido com as consequências extremas do El Niño ao longo de todo o ano de 2023, como ondas de calor, seca extrema e inundações. Meteorologista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcio Cataldi ressalta que as consequências mais severas do El Niño já passaram. No entanto, o Brasil pode esperar por efeitos duradouros nas bacias hidrográficas do país.
“A fase mais forte dele já passou. Então, a partir de agora, os efeitos serão mais amenos. Mas ele vai prejudicar um pouco a ‘sobra’ de água armazenada que tínhamos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, tanto para fins de energia como para fins de agricultura, consumo humano e dessedentação [matar a sede] animal”, explica Márcio Cataldi.
O Metrópoles ouviu meteorologistas que explicam a necessidade de adaptação climática às condições deixadas pelo fenômeno climático.
Os efeitos do El Niño são sentidos de formas diferentes por todo o território brasileiro. No Sul, ele tem provocado fortes tempestades e causado inundações. No Norte, uma seca extrema culminou na morte de milhares de animais, principalmente botos. O Sudeste e o Centro-Oeste, por sua vez, sofrem com altas temperaturas e ondas de calor cada vez mais frequentes.
O fenômeno teve início em junho, e desde então o Brasil tem passado por extremos climáticos e registrado tragédias humanas e ambientais. Segundo a Defesa Civil do Amazonas, mais de 600 mil pessoas foram afetadas pela estiagem histórica. No Rio Grande do Sul, 28 mil tiveram que deixar suas casas em razão das fortes chuvas ao longo do mês de novembro.
Já a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Andrea Ramos pontua que a incidência do fenômeno climático deve acontecer até meados de fevereiro, com destaque para alteração no regime de chuvas nas diferentes regiões.
Fase neutra
“A partir de fevereiro, ele já vai começar a diminuir a intensidade, e com isso ele já não vai proporcionar essa intensidade que proporcionou em 2023, apesar de que, ainda nos primeiros três, quatro meses, ele ainda vai estar com uma influência”, afirma Andrea Ramos. “A partir de abril, maio e junho, já começa uma fase neutra.”
Com a possibilidade de eventos climáticos extremos, o meteorologista da UFF reforça a necessidade de adaptação climática dos governos e também da população em geral. Segundo ele, essas medidas devem ser adotadas para evitar a perda de vidas e danos cruciais às comunidades que estão em situação de vulnerabilidade social.
“Os governos federal, estaduais e municipais, na minha opinião, devem trabalhar em paralelo para investir em ciência e tecnologia para aumentar a capacidade de prognóstico. Afinal, isso é que ajuda a salvar vidas em eventos extremos”, aponta Márcio Cataldi.
O meteorologista também enfatiza a necessidade de os governos investirem em educação ambiental, uma forma de a população entender o que está acontecendo com o planeta e as consequências para as próximas gerações.
Márcio Cataldi explica que o papel do cidadão comum na adaptação climática é pela busca de reduzir o consumo e diminuir as emissões de gases poluentes, como priorizar o transporte coletivo, reciclar e reutilizar.