Por Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo – O Brasil terá 3 médicos para cada grupo de 1.000 habitantes em 2025. A marca fará o país ultrapassar as que são registradas hoje nos EUA, com 2,7 médicos por 1.000 habitantes, o Canadá, com 2,8, o Japão, com 2,6, e a China, com 2,5.
DADOS
Os dados são do estudo “Demografia Médica no Brasil”, coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Mario Scheffer.
A projeção foi feita considerando todos os cursos de medicina já abertos no país, e também o edital lançado pelo Ministério da Educação (MEC) neste ano, que autorizou a criação de mais 5.700 vagas em 95 cursos. Levou em conta também os ajustes de população do censo do IBGE.3
O Brasil chegou ao fim de 2023 com 597.428 médicos diplomados, ou 2,91 por 1.000 habitantes. Neste ano deve alcançar a marca de 597.428 médicos numa população de 205 milhões de pessoas.
Em 2025, enfim, serão 635.706 doutores diplomados, para uma população de 206 milhões de habitantes.
RITMO ACELERADO
Se o ritmo permanecer, o país chegará à marca de um milhão de médicos em 2035, diz Scheffer.
Apesar do número emblemático, o país precisa resolver diversos problemas, como o da distribuição dos médicos pelo país e a sua boa formação.
“O momento é de dar uma pausa para investirmos em planejamento”, afirma Scheffer, referindo-se ao debate sobre a abertura de mais cursos de medicina no Brasil.
“Como vamos garantir a boa formação de todos eles? E o seu posterior deslocamento para as regiões desassistidas?”, questiona.
SINAL AMARELO
“Estamos diante de uma oportunidade, mas também de um alerta”, segue o professor.
De acordo com ele, cerca de 43 mil novos médicos se formam todos os anos no Brasil. E só existem no país cerca de 20 mil vagas de ingresso na residência, que é quando eles se dedicam ao estudo de uma especialidade.
Resultado: 40% dos doutores brasileiros não têm hoje especialidade médica. “É importante termos generalistas também, desde que bem formados”, afirma Scheffer.
A distribuição dos profissionais também tem contornos preocupantes: cidades como Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte e Vitória têm cerca de dez médicos por cada grupo de 1.000 habitantes, enquanto há regiões do país que seguem desassistidas.
Scheffer afirma que a sua projeção é conservadora. “O governo, além dos 95 cursos já anunciados, planeja ofertar outras 2.000 vagas para expansão dos cursos de medicina privados já existentes, e mais 2.000 para expansão da medicina nas universidades federais”, relembra ele.
Há também 57 mil vagas que estão judicializadas, em instituições de ensino que aguardam uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para serem efetivadas.