O Globo
O encontro do PDT no Rio de Janeiro que terminou em briga entre os irmãos Ferreira Gomes ganhou um novo capítulo neste final de semana. Isto porque o partido divulgou a ata da reunião que ocorreu no último dia 27, ocasião em que o senador Cid Gomes e o candidato à Presidência nas eleições do ano passado, Ciro Gomes, quase chegaram as vias de fato. No documento, é revelado que a interferência no diretório estadual do Ceará, antes comandado por Cid, foi proposta por Ciro.
“Ciro sugere que a única forma de conciliação seria a nacional estabelecer uma dinâmica é intervir com uma comissão executiva mista no diretório pedetista do estado do Ceará”, diz trecho da ata. A intervenção da Executiva nacional, presidida pelo deputado federal André Figueiredo, representou uma derrota para o senador Cid Gomes, cujo afastamento foi formalizado. Há meses, as alas dos irmãos movem disputas judiciais pelo comando do Ceará que, até a reunião no Rio, estava com Cid.
A ata também revela que Figueiredo, aliado de Ciro, fez críticas nominais a Cid. Um dos pontos de maior sensibilidade entre os dois, gira em torno da anuência concedida pelo grupo do senador ao presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão. Como a ala de Ciro pleiteia a reeleição do prefeito de Fortaleza, José Sarto, Cid e sua turma permitiram que o deputado deixasse a sigla para concorrer contra o seu correligionário nas eleições municipais do ano que vem.
Este tema gerou uma nova disputa judicial. No movimento mais recente, na semana passada, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) autorizou a saída de Leitão, o que ainda será avaliado pela instância superior, o TSE. Na reunião, contudo, Figueiredo afirmou que a manobra praticada por Cid feriu os artigos 10 e 11 do Estatuto do PDT, que afirma que os diretórios estaduais estão subordinados à Executiva nacional. O deputado também alegou que a eleição realizada pelo grupo do senador “foi o maior desrespeito a quem tem 39 anos de militância partidária”.
Em um dos vaivéns entre os grupos, Figueiredo destituiu a Executiva do Ceará, que acabou reestabelecida via liminar. Após a retomada, Cid convocou novas eleições locais e foi eleito presidente estadual. Horas depois, contudo, com outro acionamento judicial, o grupo de Ciro Gomes o retirou do posto, e o comando cearense voltou às mãos de Figueiredo. No último dia 27, a tensão escalonou e resultou em uma confusão generalizada envolvendo os irmãos. Em dado momento do evento os dois se levantaram da cadeira e iniciaram uma discussão acalorada, com direito a gritos e dedo no rosto.
As divergências entre os grupos do senador e do ex-presidenciável ocorrem desde o ano passado e circundam o mesmo tema: o apoio ao PT. Assim como fez no segundo turno das eleições, a ala de Cid defende que o partido retome a aliança e seja base do governador Elmano de Freitas, enquanto os ciristas preferem que a sigla fique na oposição. Nesta semana, a briga deve ganhar novos desenrolos. Na quarta-feira, o diretório nacional se reúne, um dia antes do encontro marcado por aliados de Cid. Em coletiva, Figueiredo criticou a convocação do senador. “É uma tentativa até mesmo de confrontar, mais uma vez, uma decisão da direção nacional partidária”, disse.