Bula do papa Inocêncio III anuncia a Inquisição

Em 25 de março de 1199, o papa publicou a bula que instituía um procedimento de combate aos herege

Em 25 de março de 1199, o papa Inocêncio III publicou a bula Vergentis in senium, que instituía um procedimento de combate aos hereges. Depois do segundo Concílio de Latrão, naquele ano, a perseguição aos hereges estava no centro das preocupações da Santa Sé. Os movimentos maniqueístas dualistas – que acreditavam numa existência separada do bem e do mal, de Deus e do Diabo, como os cátaros – prosperavam e passavam a representar um risco. A bula papal anunciava o envio de religiosos para doutriná-los e estabelecia as bases da Inquisição.

Dez anos depois, em julho de 1209, o exército dos cruzados, encarregado de erradicar os cátaros por determinação do papa, toma a cidade francesa de Béziers. A heresia cátara provocou a “cruzada albigense”, na qual vários considerados “hereges medievais” das cidades e arredores sofreram agressões e mortes violentas. Toda a região de Rennes-le-Château carrega o estigma dos resíduos dessa história de amargura e sangue até hoje.

Wikicommons

Papa Inocêncio III

Sob a direção do legado papal, Arnaldo Amalrico, e da autoridade local, Simão de Monfort, a cidade foi saqueada e a população massacrada. Ainda que majoritariamente católica, Béziers não desejava livrar-se dos cátaros. Antes de partir para o ataque, os cruzados perguntaram a Amalrico como reconhecer os hereges e distingui-los dos verdadeiros cristãos. A resposta teria sido: “Matem todos. Deus acabará por reconhecer os seus”.

Durante 20 anos, os combates causariam estragos na região. Os albigenses – povos de Albi, comuna francesa da região dos Médios Pirineus, que não reconheciam as divindades de Cristo e eram avessos às autoridades eclesiásticos da Igreja, num primeiro momento vencidos, conseguiram organizar uma reconquista antes de se chocar com o exército real francês. Gloriosa para os católicos, a cruzada dos albigenses não eliminou completamente o catarismo. O fato constituiu um dos fatores fundamentais para a criação da Inquisição alguns anos mais tarde.

Em novembro de 1215, Inocêncio III presidiu a última sessão do Concílio de Latrão, que terminou com a condenação dos cátaros e dos valdenses, habitantes dos vales alpinos; na proibição de criar novas ordens religiosas; na manutenção de discriminação contra os judeus; e no surgimento da expressão “transubstanciação” – termo escolástico usado pela Igreja Católica para explicar a conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo. De resto, o papa convocou uma nova cruzada. Mas seria seu sucessor, o papa Honório III que a organizaria, dois anos depois.

Em fevereiro de 1231, ao assinar a constituição Excommunicamus, o papa Gregório IX instituiu formalmente a Inquisição. Doravante, não caberia mais aos bispos lutar contra a heresia e sim aos prelados diretamente subordinados à Santa Sé, gozando de poderes extraordinários. A prisão perpétua e a morte na fogueira tornaram-se meios reconhecidos pela Igreja para lutar contra a heresia. Em setembro do mesmo ano, os primeiros inquisidores começariam sua temida missão na Europa.

Gregório IX deu início à Inquisição, nomeando o primeiro inquisidor, Conrado de Marburgo. Sua missão se estendia a todo o Império. Os inquisidores subsequentes seriam recrutados essencialmente entre os dominicanos e os franciscanos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *