Cachaça encara de frente seus concorrentes destilados

Com as linhas artesanais e premium, bebida tem seu dia nacional na terça (13)

Marina Barbosa

Setor movimenta R$ 7 bilhões produzindo mais de 700 milhões de litros por ano

Símbolo do Brasil quando se fala em bebidas, a cachaça terá o dia todo para ela na terça-feira (13). O Dia Nacional da Cachaça, bebida que há mais de 400 anos faz a alegria dos brasileiros e movimenta a economia nacional. Produzida inicialmente por escravos, a aguardente amargou por anos uma posição inferior nas prateleiras dos bares, mas hoje já encara qualquer concorrente destilado com suas linhas artesanais e premium. E, assim, ganha cada vez mais espaço na mesa e na indústria nacional, sobretudo, na pernambucana. Afinal, o Estado é o segundo maior produtor e consumidor da caninha.

De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o setor movimenta R$ 7 bilhões produzindo mais de 700 milhões de litros por ano. E Pernambuco responde por cerca de 12% desse volume, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os números poderiam ser ainda maiores não fosse à recessão econômica, mas ainda assim são comemorados pelos produtores estaduais. Por aqui, ao contrário do que aconteceu na maior parte do País, a crise não reduziu a produção e o consumo da bebida. Prova disso são as marcas Sanhaçu e Carvalheira, que pretendem ampliar sua produção em pelo menos 15% neste ano. A Pitú também não pretende terminar o ano com números negativos. A expectativa é manter a produção estável, o que já é considerado uma vitória neste período de crise. O pensamento é o mesmo na 51, que nasceu em São Paulo e tem uma filial no Cabo de Santo Agostinho.

“O mercado, no geral, está morno por conta da crise; mas a cachaça vem mantendo bons níveis de venda. Nós, por exemplo, estamos mantendo o mesmo volume de vendas do ano passado, quando produzimos cerca de 95 milhões de litros”, comemora o diretor comercial e de marketing da Pitú, Alexandre Ferrer, dizendo que até a crise ajudou o setor. “A cachaça é o produto de menor valor agregado no nicho das bebidas, por isso larga na frente nesta época. Afinal, as pessoas não deixam de beber na crise. Elas passam a buscar produtos mais apropriados para seu bolso. Por isso, muita gente acabou migrando da vodka para a cachaça nos últimos meses”, revela Ferrer, que administra a Pitú com a irmã Maria das Vitórias Carneiro Cavalcanti. Eles representam a terceira geração da fábrica, que foi criada em Vitória de Santo Antão há 78 anos por Joel Cândido Carneiro, Severino Ferrer de Morais e José Ferrer de Morais.

Leo Motta

“A cachaça vem mantendo bons níveis de venda, declara, otimista, Alexandre Ferrer

Hoje, a Pitú é a maior produtora do Norte/Nordeste e a grande responsável pela posição de Pernambuco como o segundo maior produtor brasileiro. No cenário nacional, a marca só perde para a 51, que tem 27% do market share do mercado e produz 200 milhões de litros por ano. É cachaça suficiente para servir 104 mil doses por segundo; 374 mil doses por hora ou 9 milhões de doses por dia. O volume corresponde a 40% da produção brasileira, que gira em torno dos 700 milhões de litros apesar de a capacidade instalada ser de 1,2 bilhão.

Apesar de a 51 dominar o mercado nacional, quem larga na frente quando o assunto é exportação é a Pitú. Hoje, quase 2,5 milhões da bebida produzida em Pernambuco são levados para 20 outros países por ano. O volume corresponde a 22% da aguardente de exportação, mas ainda é pouco diante do que é destinado ao mercado interno. “Somos líderes no comércio internacional, mas o que vai para fora representa apenas de 1% a 2% da nossa produção”, conta a diretora de Produtos e Relações Internacionais da Pitú, Maria das Vitórias. Ela ainda diz que, apesar de levar a marca do Brasil para o exterior, a cachaça poderia ter índices de exportações muito maiores. “Falta apoio do Governo brasileiro na divulgação institucional da bebida”, reclama, contando que o produto ainda não tem, por exemplo, o reconhecimento de produto genuinamente brasileiro na União Europeia.

Reivindicações

Diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), Carlos Lima concorda com a produtora pernambucana e diz que o Governo poderia colaborar também com o mercado nacional. Ele pede, por exemplo, redução da carga tributária e aumento da fiscalização da produção. “O setor sempre esteve sujeito a uma carga tributária muito alta e, no fim do ano passado, o Governo Federal ainda reajustou o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para a cachaça em mais de 300%”, lembra, contando que, além de encarecer o produto final, o reajuste deixou muitos pequenos produtores incapazes de continuar suas atividades.

Não bastasse isso, muitos dos pequenos que conseguiram continuar no mercado atuam na irregularidade. Segundo Lima, o Brasil tem cerca de 11 mil produtores, mas só 1,5 mil são devidamente registrados. “É ruim para o mercado e para a indústria porque reduz a qualidade do produto”, reclama, pedindo ajuda do Governo Federal, sobretudo neste momento, em que é preciso retomar o volume de produção nacional registrado antes da crise econômica. “O Governo brasileiro precisa ‘assumir’ a cachaça como um bem e um patrimônio do Brasil. Afinal, por ter a sua produção pulverizada em milhares de produtores espalhados pelo Brasil, a cachaça se destaca por ser um dos poucos produtos, se não for o único, a comunicar a riqueza cultural e diversidade do Brasil.”

Fonte: FolhaPE

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