Não é só nos palcos e nas salas de aula que Renata Saldanha dança conforme a música. Vencedora do “Big Brother Brasil 25”, a cearense deu um baile nos concorrentes e, há pouco mais de dez dias fora da casa mais vigiada do Brasil, vem tentando acertar os passos na tentativa de conciliar a agenda corrida de uma ex-BBB com as descobertas trazidas pela fama. Entre os compromissos oficiais da Globo e presenças vip em eventos, a bailarina de 33 anos ainda dá atenção aos obstinados fãs que vão visitá-la diariamente onde quer que esteja (até quarta-feira, vinha se hospedando num hotel na Barra, no Rio).
— É tudo muito novo para mim, mas estou inteiramente feliz com o que estou vivendo. Como sempre, tento me entregar com muita excelência. Mas fico sem saber como lidar com algumas coisas. Ainda acho estranho, por exemplo, ver artistas que eu admiro saberem o meu nome. Também tenho recebido muito carinho de fãs. É legal essa troca, me fortalece demais, principalmente nesse início, em que tudo está muito confuso — afirma a professora de dança, que, apesar de tanta novidade, não perde o compasso.
Com os R$ 2,72 milhões do prêmio do reality show na conta — sem contar as outras conquistas da loura no programa, que somam R$ 560 mil —, a nova milionária do pedaço mantém a mesma ideia de antes sobre o real valor do dinheiro.
— É só mais um ingrediente para eu conquistar os meus sonhos. É algo importante, obviamente, porque não vem fácil. Sei o quanto tem que ralar para tê-lo, mas a minha determinação e força para lutar pelas coisas em que eu acredito são muito mais valiosos do que qualquer grana — afirma a campeã, que estava com o nome sujo na praça, mas já conseguiu limpá-lo após o “BBB”.

Renata cresceu com dificuldades financeiras na Comunidade do Barroso, em Fortaleza. Para complementar a renda como professora de dança, trabalhou como maquiadora e como “social media” criando vídeos para redes sociais de empresas. Para essa função, precisou desembolsar quase R$ 5 mil para comprar um celular, item mais caro que havia consumido na vida até o “BBB 25”:
— Era um investimento. Na pandemia, com todo mundo em casa, passei a dar aula para a galera pelo celular. Aí comecei ajudando os meus amigos com posts, isso foi crescendo e ganhando força. A internet, então, me abriu portas dentro da minha cidade. Fiz trabalhos para marcas locais. Como eu fazia a gravação e a edição do vídeo, eu precisava de um aparelho com boa qualidade.
Infância feliz
Apesar da “dureza”, Renata foi uma criança contente no subúrbio.
— Independentemente de eu ter sido criada na comunidade, minha infância foi muito divertida. Só que, para eu ir às aulas de balé, o deslocamento era muito exaustivo, além da (falta de) segurança. A dificuldade financeira era algo presente na nossa família, mas a gente conseguiu desenrolar. Dona Eulália (a mãe) deu o sangue para que conseguíssemos ter o melhor possível naquele momento. Nunca passei fome, mas sempre tive uma vida muito apertada. Chegaram a cortar nossa água, por exemplo. De qualquer maneria, a questão maior do lugar que eu morava era o medo, por conta de assalto, roubo, tentativa de invasão… — pontua a dançarina, citando a mãe como sua inspiração: — Ela me ensinou que não existe sonho impossível. E nunca passou a mão na minha cabeça. Se eu não fosse aprovada numa audição, me falava que alguém havia se preparado melhor e me pedia para me dedicar mais. Ela queria mudar essa perspectiva de vida que a gente tinha dentro da comunidade, achando que só podia ir até ali. Minha mãe me ensinou o valor da força, da resiliência, de nunca desistir.

Dona Eulália foi mãe e pai de Renata, que cresceu sem a figura paterna. Apesar disso, a moça afirma não ser traumatizada pelo abandono.
— A minha mãe deu suporte em tudo e nunca deixou faltar nada. Óbvio que, em alguns momentos, senti (a falta do pai). E não somos totalmente desligados um do outro, ele me manda mensagens esporádicas, como no meu aniversário. Fato é que a gente não tem aproximação. Depois que saí do “BBB”, ele me mandou parabéns por ter vencido o programa, disse que estava muito feliz e que tinha acompanhado. Escreveu mensagens falando de Deus, nada com segunda intenção — enfatiza.
Disciplina e arte
A tia Renata, como é chamada pelos alunos, começou a dançar aos 8 anos, através de um projeto social de Fortaleza, o Edisca, que já foi apoiado pelo Criança Esperança.
— Eu estudava de manhã numa escola particular de bairro. Minha mãe se esforçava muito para pagar. As professoras sempre falavam que eu era ótima aluna, mas conversava demais (risos). Já o projeto funcionava à tarde. Foi o balé que me fez ser organizada. Eu precisei ser, porque no Edisca eles trabalhavam a autonomia e o protagonismo de cada menina. Quando comecei, não era uma criança habilidosa. Tive que me dedicar muito para conseguir passar para a turma mais avançada. Além da disciplina, a dança me trouxe o lado artístico, criativo e estético. Tanto que hoje amo muito o universo da maquiagem e da beleza em geral — explica Renata, que costuma ter uma alimentação regrada e sempre está de olho na balança: — Para se ter uma ótima performance e se sentir mais à vontade no palco, vestindo vários figurinos, tem que existir um grande cuidado com a alimentação. É necessário estar sempre em forma. Eles pedem que o físico esteja no padrão. Já tive altos e baixos. Em alguns momentos, fiquei acima do peso e isso mexeu comigo. Então, faço muita atividade física.
Ansiedade e vida amorosa
Apesar da rotina saudável, Renata viu sua vida se transformar de uma hora pra outra durante a pandemia da Covid-19 em 2020. Nesse período, a ansiedade começou a bater forte, e ela desenvolveu uma doença autoimune.
— Foi uma fase difícil em que perdi dois empregos. Tive que voltar a morar com a mamãe e comecei a fazer terapia. Tenho psoríase (doença crônica de pele), que é totalmente ligada ao emocional. Nessa época, tinha crise praticamente todo mês. Parecia que estava toda intoxicada, a dermatite ficava inflamada e demorava muito para sarar. Dentro do “BBB”, com a pressão psicológica, ela quase quis aparecer, mas consegui segurar — conta a aquariana, que não se considera uma pessoa desapegada, como dizem ser os nativos do seu signo: — Quando me relaciono com alguém, é muito genuíno para mim. Quando chega alguém novo, tenho cautela. O meu coração é grandão. Tento sempre ser muito racional nas minhas escolhas, apesar de, às vezes, falhar. Nas relações amorosas, sou superentregue. Me dou 100%. Namorei cinco vezes, entre relações mais longas e uma mais curtinha.
A ex-BBB, aliás, se diz descomprometida. Na véspera deste bate-papo com a Canal Extra, num show em comemoração aos 60 anos da TV Globo, no Rio, ela havia virado as costas para uma repórter que quis saber como estava seu relacionamento com Maike, já que os dois viveram um romance na reta final do “Big Brother”. A imagem da entrevista viralizou.:
— Estou tentando entender como vai ser a vida daqui pra frente. Minha rotina mudou. Ainda tenho que saber onde vou morar (Renata viajou na última quarta-feira para Fortaleza). Preciso me reestruturar antes. Para só depois dedicar meu coração a alguém. É até injusto não ser assim. Já conversei com o Maike sobre isso. Não vou chegar para a pessoa e falar: “pronto, agora estamos namorando”. A gente tem que se conhecer — afirma a bailarina, antes de decidir se vai mesmo rolar um “pas de deux” (como se chama um dueto entre um homem e uma mulher no balé): — Está tudo bem entre mim e ele. A gente se fala sempre. Lá dentro foi intenso, mas aqui fora a gente ainda está se alinhando. Para tomarmos qualquer decisão em relação a algo maior, precisamos ter esse tempo aqui fora também. Não me incomodo em falar dele, mas acho que é um assunto repetitivo. As pessoas me pedem esse posicionamento o tempo inteiro. Aí me dá a sensação de que isso anula outras coisas importantes que aconteceram na minha história.
Ao rememorar todas as realizações de sua vida nos últimos meses, a palavra de Renata é gratidão, principalmente a Deus.
— Deus já fez parte da minha vida desde muito nova, porque a minha mãe também é uma mulher de muita fé. Ela é aquela que acorda de manhã e me manda áudio de dois minutos fazendo uma oração. Eu me converti na igreja evangélica quando tinha 15 anos. Tive meus distanciamentos em alguns momentos, mas a minha conexão com Deus nunca se perdeu. Ele é meu guia — finaliza.
Créditos:
Texto: Thomaz Rocha
Edição: Camilla Motta
Fotos e styling: Márcio Farias @marciofariasfoto
Assistente de foto: Felipe Santana @felipe.s.fotografia
Beleza: Vivi Gonzo @makegonzovivi
Agradecimento: Fluminense Football Club e Atelier João Correa @atelierjoaocorrea