Cantora foi torturada na ditadura

Jane Di Castro lembra tortura durante a ditadura

Jane Di Castro lembra tortura durante a ditadura Foto: reprodução/ instagram

Artista perfomática desde os anos 60, Jane Di Castro fez um relato sobre a perseguição que sofria durante a ditadura militar no Brasil. A cantora transexual publicou um texto em seu perfil no Facebook contando que foi perseguida e torturada por Deraldo Padilha, delegado na época e já falecido.

Jane publicou o relato depois de ser citada num texto do autor de novelas Aguinaldo Silva sobre o mesmo delegado, chamado por ele de “terror dos malandros, homossexuais e favelados”

“Delegado Padilha, o terror dos homossexuais e artistas transgêneros de teatro nos idos anos da década de 1960. Numa noite chuvosa, saindo do teatro Rival, maquiada e segurando uma peruca na mão, ia para a boite Drink fazer o meu show, em Copacabana, cujos proprietários eram Cauby Peixoto e sua irmã Andiara. Fui abordada por ele e seus capangas, escondidos ao lado do teatro.

Me levaram para o 3ª DP, na rua Santa Luzia, no centro do Rio. Me bateram, me torturaram com cassetetes e me colocaram atrás das grades. Não conformados, de vez em quando me jogavam baldes de água fria. Chegando lá, encontrei presas, Jaqueline e a eterna Fabete, também artistas do Rival. Sofreram como eu. Ele tinha ódio de mim porque sempre corria muito dele e não conseguia me pegar. Corríamos em grupo. E nesse grupo sempre estavam a saudosa Rogéria, Eloina, Aguinaldo Silva e muitos outros.

Esse miserável e infeliz me perseguiu muito, o quanto pôde, mas nesse dia foi fatal. Muitos não acreditam na ditadura. Saibam que vivi o antes, o durante e o depois. Mesmo com todos esses traumas conseguir seguir adiante com a minha arte e ser o que sempre fui. Uma pessoa de caráter e longe da marginalidade. Também amo minha família. Que esse desgraçado esteja até hoje queimando na fogueira do inferno. E que esses tempos nebulosos não voltem nunca mais”, escreveu Jane.

Jane Di Castro posa com Fernanda Montenegro

Jane Di Castro posa com Fernanda Montenegro Foto: reprodução/ instagram

Antes de Jane Di Castro fazer seu relato, Aguinaldo Silva também falou sobre o tempo em que eram perseguidos por Deraldo Padilha, que teve sua foto publicada pelo autor em seu perfil também no Facebook.

“Consegui descobrir na internet uma única foto de Deraldo Padilha, o delegado de polícia que foi o “terror dos malandros, homossexuais e favelados.

Na sua segunda volta às ruas do centro do Rio de Janeiro, na segunda metade dos anos 60, ele concentrou suas energias na caça aos gays. Por uma ironia do destino, acabou demitido da polícia pelo General Mozart Moacir, então Secretário de Segurança, ‘a bem do serviço público’, com base no famigerado Ato Institucional número 5 editado pela ditadura.

Claro que o conheci. Naquela época eu batia ponto no bar Amarelinho. Toda noite estava lá com Chiquinho, meu amigo de infância que depois virou Danielle Bianca. Nós tínhamos 1,83m de altura, chamávamos muito a atenção e Padilha, com seu olho ‘clínico’, sempre nos focava. Quando ele voltou a policiar a área concentrou todos os esforços na repressão aos gays.

Correr mais que Padilha e os outros meganhas era divertido pra caramba, a gente ia se esconder atrás das árvores lá na Via Ápia, ali no Castelo e ficava “miando” o nome dele: Padilha, Padilha! O cara enlouquecia de ódio! Mas de vez em quando ele conseguia pegar alguma criatura mais desavisada e aí… Sai de baixo. Jane di Castro tropeçou uma vez em plena correria foi pega. O que aconteceu depois disso ela pode contar melhor que eu.

Na minissérie “Tenda dos Milagres” tem uma cena em que, de forma travessa, homenageio este meu tempo. Nelson Xavier e Milton Gonçalves passaram a vida inteira correndo da polícia em Salvador. Já velhos, durante mais uma destas correrias, Milton leva um tiro e cai. Nelson vai socorrê-lo e ele diz:

‘A gente não sabe mais nem correr, compadre!’

E morre.

Quando eu escrevi a cena estava pensando em mim e no meu amigo Chiquinho”, escreveu Aguinaldo Silva, autor de novelas de sucesso como “Tieta” e “Senhora do destino”.

Aguinaldo Silva posta foto do delegado Padilha

Aguinaldo Silva posta foto do delegado Padilha Foto: reprodução/ facebook
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *