Tido como “um dos braços armados” da milícia de Rio de Pedras, Laerte Silva de Lima, de 35 anos, foi preso em 2019, no âmbito da Operação Intocáveis, que surgiu como um desdobramento das investigações da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes. Um ano depois, a Polícia Civil descobriria ainda, conforme noticiado pelo GLOBO à época, que ele e a esposa, Erileide Barbosa da Rocha, também presa por suposto envolvimento com o grupo paramilitar, haviam se filiado ao PSOL cerca de 1 ano antes do assassinato da vereadora.
Quatro anos depois, a Polícia Federal aponta agora, ao fim do inquérito sobre os mandantes do crime, que Larte se infiltrou no partido de Marielle para levantar informações sobre a atuação da parlamentar, filiando-se 20 dias depois do segundo turno das eleições de 2016. Ele seria o vínculo direto entre o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão – ambos presos preventivamente neste domingo (24), junto ao ex-chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, por suspeita de serem os mandantes da morte da vereadora.
De acordo com as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco-MPRJ) e da Delegacia de Homicídios, à época, Laerte era tido como um braço armado da milícia de Rio das Pedras. Mais do que isso, era um dos responsáveis pelo recolhimento e repasse à quadrilha das taxas cobradas a moradores e comerciantes, assim como agia também no ramo da agiotagem. Sua mulher, Erileide, supostamente o ajudava a tocar os negócios ilícitos e com a contabilidade.
Num áudio interceptado pelos investigadores com autorização da Justiça, numa ligação feita por Laerte a outro membro da milicia, no dia 10 de outubro de 2018, ele relatava ter acabado de atirar contra dois indivíduos de moto, apenas por não conhecê-los, por estar escuro no local e por eles estarem de capacete. Em várias outras conversas, ele aparece tratando dos negócios ilegais do grupo paramilitar, como cobrança de taxas.
Loteamentos da milícia
Na delação premiada firmada com a PF e a Procuradoria-Geral da República, Ronniel Lessa relatou que a primeira reunião com os irmãos Brazão ocorreu por volta de setembro de 2017, quando foi acertada a execução de Marielle. O ex-policial militar está preso acusado de ser o responsável pelos tiros que atingiram a parlamentar.
Na ocasião, teriam surgido as primeiras falas sobre a motivação do crime, que dão conta de que a vítima “teria sido posta como um obstáculo aos interesses dos Irmãos”. De acordo com as investigações, essa percepção decorreria de informações oriundas de Laerte.
“Ademais, como visto em linhas recuadas, FININHO era o vínculo direto entre os BRAZÃO e a Comunidade de Rio das Pedras, área na qual a família era eleitoralmente soberana”, aponta a PF, no relatório final de investigação.
No documento, a PF cita que a infiltração remontaria a período anterior ao interesse na morte de Marielle.
“Traçou-se um paralelo sobre levantamentos de outros políticos do PSOL solicitados por MACALÉ antes do segundo semestre de 2017, atribuindo o interesse por tais consultas ao desdobramento de conversas que este mantinha com os BRAZÃO, possivelmente acerca de represálias. Contudo, à época, nada seguiu ou evoluiu para além das pesquisas”, destacam os investigadores.
Lessa contou ainda que, sem seguida, Domingos Brazão passou a ser mais específico sobre os obstáculos que a vereadora poderia representar, fazendo referências a reuniões em que ela teria mantido com lideranças comunitárias da região das Vargens, na Zona Oeste, para tratar de questões relativas a loteamentos de milícia.
“Então, mencionou-se que, por conta de alguma animosidade, haveria um interesse especial da Vereadora em efetuar este combate nas áreas de influência dos BRAZÃO, dado que seria oriundo das ações de infiltração de LAERTE. Nesse momento, ponderou- se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado”, ressalta a PF.
Segundo os investigadores, nas palavras do ex-PM, Laerte poderia “ter enfeitado o pavão”, levando os irmãos ao equivocado superdimensionamento das ações políticas de Marielle Franco nesta seara.
“Deste modo, os elementos apresentados pelo discurso do colaborador podem ser sintetizados em duas questões primordiais: a suposta animosidade dos BRAZÃO com integrantes do PSOL, apontada por conta de levantamentos de políticos da legenda que teriam sido solicitados por MACALÉ, no interesse dos Irmãos, e a atuação de Marielle Franco junto a moradores de comunidades dominadas por milícias, notadamente no tocante à exploração da terra e aos loteamentos ilegais”, frisa a PF.