CCBB exibe em São Paulo obras do cineasta Jacques Rivette
O primeiro artigo do francês Jacques Rivette como crítico de cinema, intitulado Já Não Somos Inocentes, foi publicado em 1950, na revista Cahiers du Cinéma (Cadernos do Cinema). O manifesto refletia sobre a linguagem e a criação cinematográficas e o fim da inocência do telespectador diante da tela, principalmente após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando já se sabia que uma imagem no cinema poderia servir, por exemplo, como forma de propaganda política.
Para discutir o fim da inocência no cinema, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) apresenta, até o dia 21 deste mês, mostra dedicada ao cineasta, com a exibição de 26 longas e curtas-metragens dele e de seus amigos diretores Jean-Luc Godard, François Truffaut, Claude Chabrol e Eric Rohmer. Os ingressos custam R$ 2 e R$ 4.
“O título [Já Não Somos Inocentes] diz muito também sobre a concepção moderna do cinema, se formos considerar o cinema moderno como o que vem no pós-guerra. Muitos, como Godard, dizem que o cinema não mostrou os campos de concentração na 2ª Guerra, mas foi usado como propaganda de Estado, como artifício ou enganação. Não é mais possível, depois disso, pelo modo como a imagem foi usada politicamente, ser inocente perante essa imagem”, disse um dos curadores da mostra, Francis Vogner dos Reis, em entrevista àAgência Brasil. A mostra também tem curadoria de Luiz Carlos Oliveira Jr.
Nascido em 1928, Jacques Rivette começou a carreira escrevendo para a revista Cahiers du Cinéma. Pioneiro do movimento Nouvelle Vague (Nova Onda), Rivette é um dos cineastas franceses mais importantes da história. O fato de ter filmado pouco no período áureo da Nouvelle Vague (1958-1964), fez com que ele ficasse menos conhecido que seus colegas de movimento, apesar de ser uma espécie de líder intelectual deles e, junto com Godard, o mais radical em termos estéticos.
De acordo com o curador, a mostra reuniu a maior quantidade possível de filmes dirigidos por Rivette, com exceção de alguns curtas que não foram encontrados. “Tentamos fazer um percurso da carreira de Jacques Rivette desde a época dele como crítico até seu último filme [ainda inédito no Brasil], 36 Vistas do Monte Saint-Loup [2009]”, disse Reis.
Para abordar a vida de Rivette como crítico de cinema, o catálogo da mostra inclui uma compilação dos textos dele na Cahiers du Cinéma. “Provavelmente é a primeira publicação no mundo a fazer isso. Ele nunca permitiu que isso fosse feito na França”, disse o curador. O catálogo é gratuito, mas tem tiragem limitada.
Entre os filmes exibidos, estão Paris nos Pertence (1961) e Amor Louco (1969), considerado a mais radical obra de Rivette, que faz a distinção entre dois mundos: o teatro e a vida. Aliás, o cinema de Rivette tem forte ligação com o teatro. “Na comparação com seus colegas da Nouvelle Vague, ele é o que mais se preocupa com o teatro. Como o teatro é pura presença, ou seja, não se tem controle [sobre o que acontece] e ele [teatro] se dá no presente, os filmes dele também têm uma concepção de tempo que leva em consideração a duração do plano”, explica Reis.
A obsessão e o rigor de Rivette em relação ao tempo e a duração de uma cena resultam em filmes longos. Os mais curtos em exibição na mostra tem cerca de 130 minutos. Já A Bela Intrigante, por exemplo, tem quase quatro horas de duração. (Agência Brasil)