Centrão predomina em cidades grandes e médias do Nordeste

 

Partidos do chamado centrão tiveram melhor resultado nas urnas neste domingo (27) nas grandes e médias cidades do Nordeste, região que historicamente é ligada à esquerda e que foi responsável por dar a vitória a Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

Levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo aponta que partidos do centrão saíram fortalecidos entre as 50 cidades mais populosas do Nordeste –somente oito delas serão comandadas pela esquerda, sendo quatro pelo PT e quatro pelo PSB.

O União Brasil lidera o ranking com 14 cidades, sendo três capitais: Salvador (BA), Teresina (PI) e Natal (RN). A legenda também comandará cidades médias da região como Feira de Santana (BA), Petrolina (PE), Campina Grande (PB) e Mossoró (RN).

“O recado das urnas foi que a ponderação e o diálogo venceram, o centro ganha em detrimento dos extremos. Você vê a esquerda quase que aniquilada a nível Brasil, tendo uma pequena sobrevida no Nordeste”, diz Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil.

Ele destaca ainda que, mesmo no campo da esquerda, prevaleceram nomes que, na avaliação dele, estão longe dos extremos e são “quadros muito qualificados”. Cita como exemplos o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

“Não consigo entender Camilo e João Campos como pessoas de ideologia muito forte, eles são muito mais do centro, da ponderação e do diálogo”, afirma.

Internamente, a avaliação é que resultado consolida uma mudança de perfil nas prefeituras do União Brasil no Nordeste, partido que vem de uma tradição de presença em cidades pequenas desde os tempos do antigo PFL. Agora, a sigla ganha alcance em municípios maiores.

Depois do União Brasil, siglas como PP e PSD aparecem como os partidos que mais prevaleceram nos grandes centros da região, com seis prefeituras cada. Entre as capitais, o PP elegeu o prefeito Cícero Lucena para um novo mandato em João Pessoa (PB). O PSD reelegeu Eduardo Braide para a Prefeitura de São Luís (MA).

Os prefeitos eleitos pelos três partidos têm perfis ideológicos distintos e posicionamentos nacionais diversos, ora mais próximos ao presidente Lula, ora ligados ao ex-presidente Bolsonaro.

O União Brasil tem perfil mais claro de oposição ao PT. Dos 14 prefeitos eleitos entre as maiores cidades nordestinas, 13 estavam em lado oposto ao dos petistas na eleição. A exceção é Maracanaú, no Ceará, onde Roberto Pessoa foi reeleito com apoio formal do PT e do governador petista Elmano de Freitas.

Mas o PSD tem nomes ligados a Lula, sobretudo na Bahia. É o caso dos prefeitos eleitos de Itabuna, Augusto Castro, e de Alagoinhas, Gustavo Carmo. No PP, Cícero Lucena é próximo ao governador João Azevêdo (PSB) e foi apoiado pelos petistas no segundo turno.

Os partidos de esquerda, por sua vez, ficarão restritos a oito prefeituras entre os principais centros urbanos no Nordeste, sendo quatro prefeitos do PSB e quatro do PT.

Além do Recife, o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin conquistou as prefeituras de Garanhuns, em Pernambuco, e de Timon e Paço do Lumiar, no Maranhão.

O PT teve sua vitória mais significativa no país em Fortaleza (CE), com Evandro Leitão (PT). Também vai comandar a Prefeitura de Camaçari, quarto maior colégio eleitoral da Bahia, além das cidades cearenses Itapipoca e Crato.

Por outro lado, o partido sofreu derrotas consideradas amargas neste segundo turno nas cidades de Natal (RN), Caucaia (CE) e Olinda (PE).

O resultado em Fortaleza representou uma retomada para o partido, que voltou a vencer em uma capital brasileira após oito anos. O partido não ganhava em uma capital nordestina fazia 12 anos –o último eleito tinha sido Luciano Cartaxo, que venceu em 2012 em João Pessoa.

O resultado também reafirmou a força do partido no Nordeste, já que Fortaleza é cidade mais populosa da região. Dois em cada três prefeitos eleitos pelo partido nas eleições deste ano são de estados do Nordeste. Ao todo, o PT elegeu 252 prefeitos, sendo 170 deles na região, sobretudo no Ceará, Piauí e Bahia, comandados por governadores petistas.

Em Fortaleza, a disputa foi acirrada e decidida por cerca de 10 mil votos. Com reflexos da polarização nacional, teve de um lado Leitão, apoiado por Lula, e do outro, André Fernandes (PL), chancelado por Bolsonaro.

Lula participou de dois atos de campanha de Leitão. Em um deles, no segundo turno, o presidente da República criticou Fernandes e disse que ele fazia parte da “praga de gafanhotos” de Bolsonaro.

O candidato petista teve 50,4% dos votos válidos contra 49,6% do bolsonarista. “Muito simbólico Fortaleza dar uma resposta ao bolsonarismo. Fortalecemos a democracia”, afirmou Leitão após a confirmação da vitória nas urnas, no domingo (27).

A vitória apertada em Fortaleza, no entanto, acendeu o alerta para o avanço da direita nas capitais do Nordeste. Deputado federal, Fernandes tem 26 anos, ganhou notoriedade como youtuber e é um representante das franjas mais radicais do bolsonarismo.

Entre integrantes da campanha de Evandro, a avaliação é que o patamar alcançado pelo adversário não inclui apenas bolsonaristas, mas também parcela do eleitorado do atual prefeito José Sarto (PDT) e do ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) —o primeiro declarou neutralidade no segundo turno, enquanto o segundo apoiou publicamente o bolsonarista.

O PL de Bolsonaro conquistou quatro das maiores cidades do Nordeste. Neste domingo, venceu em Aracaju, onde a vereadora Emília Corrêa derrotou o ex-secretário estadual Luiz Roberto (PDT), impondo uma derrota ao prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) e ao governador Fábio Mitidieri (PSD).

No primeiro turno, o partido já havia saído vitorioso em Maceió, com a reeleição do prefeito João Henrique Caldas, o JHC. Também venceu em Jaboatão dos Guararapes (PE) e Porto Seguro (BA).

Em outras duas capitais nordestinas, o partido de Bolsonaro fez parte das chapas vitoriosas. Neste segundo turno, celebrou a vitória de Paulinho Freire (União Brasil) em Natal. Também apoiou o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), que teve uma vitória folgada no primeiro turno.

 

João Pedro Pitombo/Victoria Azevedo/Folhapress

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