Claudia Raia não esconde que o aniversário sempre foi uma data fantasma para ela. Afinal, fazer anos 23 de dezembro, concorrendo por fora com a chegada de Papai Noel é de lascar. “Me angustiava a época de criança por conta dos presentes e da festa. Todos os amigos viajavam, não tinha ninguém, era aquele bolinho lá… Tenho trauma”, confessa.
Prestes a chegar aos 50 anos, a atriz já não teme a data. Comemora em família, normalmente viaja com o marido, Jarbas Homem de Melo, e os filhos, Enzo e Sofia, e se orgulha de não se importar com o que antes a tirava do eixo. “Cheguei numa maturidade emocional. Falo menos, me intrometo menos, me envolvo menos. Mas isso não me dá menos vontade de viver. Só me deixou mais seletiva”, observa ela, que contrabalança a atual serenidade com um espírito sempre inquieto e o viço de uma mulher atemporal: “Não tenho saudade dos meus 20 anos. Fiquei com o melhor da juventude. Estou muito bem para os meus 50 anos”.
Deneuve, o objetivo
“Quero ficar como Catherine Deneuve (atriz francesa). Elegantérrima, uma mulher que soube fazer escolhas. A grande inteligência da profissional é saber a hora de parar, o que faz, como faz, em que momento, com que roupa, com que maquiagem, com que fotógrafo… Não dá mais para fazer qualquer coisa. Não dá para ficar exposta de qualquer maneira. O mundo te cobra e muito. Não estou mais à mercê do que as pessoas esperam de mim. Vai ser o que der para ser, amor”.
Entre jovens
“Sou quase a Xuxa e seus baixinhos em ‘A lei do amor’. Porque estou rodeada de jovens. Fico parada, falando, e eles todos me ouvindo, é quase uma palestra. E digo para eles, que estão sempre conectados, com pressa, insanos: ‘Que chato ser vocês!”. Quando a gente vai ficando velho, fica pretensioso, acha que sabe tudo, e caga regra. Não ficamos mais tolerantes. Hoje a burrice e a incompetência me irritam mais. Saio de perto, senão vou dar uma sapatada na cabeça da pessoa. Aí vem a diferença da maturidade”.
Heroína do povo
“Como Salete eu converso com a comédia, o drama, a tragédia. Ela é mãe, uma mulher livre, sexy, que tem poder sobre os homens, uma mulher leal e honesta. Eu queria falar sobre isso neste momento em que a gente não acredita que estas pessoas possam existir nesse Brasil. Que credibilidade temos hoje em dia? As pessoas perderam a fé nas outras. Todo mundo dá truque. A gente tenta fazer as coisas certas e vai se sentindo um idiota, porque está sempre ficando para trás. É difícil manter a dignidade nesse país”.
Nada de garotos
“Tenho um jeito muito expansivo, vira e mexe tem alguém falando alguma coisa e eu finjo que não vejo. Jovens, menos jovens, mas não é de agora. Eu não gosto de garotão. Nunca gostei. Não acho graça, acho desinteressante. É muito raro, às vezes, tem até uma pessoa mais madura, mas eu não sou uma papa anjo. Não gosto. O Jarbas é três anos mais novo que eu, mas foi a primeira vez que isso aconteceu”.
A cura do ex
“No que ele me contou da doença, me pediu o suporte, enquanto ele se reestruturava. Quase desabei. Mas ele está muito bem assessorado. A Karin Roepke (atual mulher de Edson Celulari) é uma companheira nota mil. Nem sempre quando uma pessoa tem uma doença, tem aquele parceiro ali do lado até o fim. E ela foi e é maravilhosa. Digo sempre para os meus filhos agradecerem todos os dias a ela. Edson se curou porque tem merecimento mesmo, e tem uma cabeça incrível. Se não tivesse, não teria se curado em tão pouco tempo. Meus filhos viram o pai tranquilo, positivo sempre e foram guerrear junto com ele”.
Miga, sua louca!
“Sempre faço tudo pelos outros. O Luiz Fernando Guimarães (ator e amigo há anos) diz que eu enriqueci, não sei de onde ele tirou isso, só indicando médico para as pessoas. Tempos atrás eu organizava as consultas dos meus amigos, se preciso fosse os levava”.
Excesso de zelo
“Eu só cuidava. E Jarbas me ensinou a ser cuidada. Ele gosta que eu cuide também, até porque eu não poderia ter um homem que não me deixase fazer isso. Quando ele me vê fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, me chama: ‘Menina, você vai sentar aqui agora e eu que vou fazer’. Ele me ensinou a me acalmar”.
O maior presente
“Meus filhos são a razão da minha vida. Sou muito grudada a eles, não no sentido de ser pegajosa. Me faz bem pensar no modo como escolhi e esperei para tê-los, e de como me faz bem ver que eles são pessoas tão preparadas para a vida”.
Tempo, mano velho
“Sou controladora e, para quem é assim, o tempo é quase um inimigo. Mas fiz dele um aliado. Prefiro não pensar a longo prazo, porque é tão pretensioso a gente achar que vai acordar amanhã. Definitivamente, não tenho controle do meu futuro e do meu passado. Não posso perder a oportunidade de viver o agora para pensar no que serei daqui a dez anos”.