AE- Atletas brasileiros estão gerando polêmica nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, ao baterem continência no pódio, durante a cerimônia de premiação. Eles são contratados do Exército brasileiro e, portanto, recebem apoio financeiro das Forças Armadas. Mayra Aguiar, Luciano Corrêa e outros judocas fizeram o gesto, assim como atletas da natação e de outras modalidades.
Eles afirmam que não são obrigados a fazer isso, mas revelam que houve uma recomendação para que o fizessem. “Prestar continência para a bandeira é uma recomendação. Pediram para a gente fazer, mas não somos obrigados”, contou Mayra, que ganhou a medalha de prata no judô.
Ela explica que é terceiro sargento da Marinha e que se sentiu à vontade para fazer o gesto. “Para mim é um orgulho. Existe uma filosofia em ser militar, de respeitar as regras. E eu respeito a saudação”, continuou a judoca, que participou de treinos com o Exército antes do Pan de Toronto. “Até aprendi a atirar”, afirmou.
Luciano Corrêa também fez a continência no pódio e não vê polêmica no gesto. “Estou no Exército desde 2009 e logo no início da temporada fizemos um período de atividades onde fomos para a Escola de Oficiais. Aprendemos o que é o Exército brasileiro. Temos orgulho de representar nosso País”, comentou.
Os atletas fazem o gesto no momento do Hino Nacional. Alguns enxergam o momento como uma manifestação política, o que o Comitê Olímpico Internacional (COI) proíbe. Também não se pode mostrar seus patrocinadores e nem apoiadores. Então, tanto do ponto de vista ideológico quanto do comercial, há interpretações de que a regra está sendo infringida.
Para Ricardo Leyser, secretário-executivo do Ministério do Esporte, o gesto não é um problema, mas poderia ser evitado. “Esse desempenho do Brasil é fruto do trabalho e do investimento de vários atores, como o governo federal, Comitê Olímpico (do Brasil), confederações, patrocinadores e militares. O que cria um incômodo é que nesses momentos do pódio alguém pode achar que um dos parceiros está se sobressaindo mais”, disse.
Estima-se que 123 atletas do Pan têm relação com o Exército, Marinha ou Aeronáutica. A tendência é que o gesto se repita mais vezes em Toronto, com atletas que ainda vão disputar suas medalhas. Para o Comitê Olímpico do Brasil, é uma demonstração de patriotismo, sem qualquer conotação política. “O militar da ativa deve, em ocasiões solenes, prestar continência à Bandeira e ao Hino Nacional Brasileiro e de países amigos. É bom notar que esses atletas não são militares apenas quando estão fardados, mas sim, todo o tempo”, informou a entidade, em nota.
O COI, que costuma se manifestar sobre polêmicas deste tipo nas Olimpíadas, preferiu não se manifestar sobre os episódios e jogou a responsabilidade para a organização do Pan de Toronto, que também não quis se manifestar. Para Leonardo de Deus, que ganhou ouro na natação, o gesto é feito em sinal de respeito. “Sempre quando o hino toca, por respeito, o militar tem que prestar continência, tem que ficar na forma de sentido. Isso é uma forma de respeito pela minha bandeira, pelo meu País, como militar”.
ESQUECIMENTO – A judoca Érika Miranda é 3.º sargento da Marinha, ganha um salário militar de quase R$ 3 mil e conquistou o primeiro ouro do Brasil no Pan. Só que, na hora do pódio, ela esqueceu de bater a continência. “Não foi decisão minha. Nas outras competições eu sempre faço. Eu me deixei levar pela emoção e esqueci. Sempre procuro fazer, somos militares, não é nenhuma obrigação, a gente se sente à vontade para fazer e os militares apoiam a gente em todas as competições que a gente participa”.
Ela garante que não levou qualquer tipo de bronca pelo esquecimento e promete repetir a dose sempre que puder. “Depois falei: ‘Meu Deus, eu esqueci’. A gente não pode utilizar os nossos patrocinadores, não pode falar do clube, então aqui temos de dar prioridade para o Time Brasil. É um gesto tão pequeno, mas esqueci de fazer. Não tomei bronca, mas foi bom, porque depois que esqueci, todos os outros lembraram. Vão ter outros pódios e muitas outras continências”. (colaborou Jamil Chade, de Genebra)
Fonte: Blog Primeiro Tempo/FolhaPE