Com ‘explosão de amor’, Globo grava primeira transa gay das novelas
Ricardo Pereira (Tolentino) e Caio Blat (André) em gravação de cena que termina em sexo
As cenas da primeira relação sexual entre dois homens de uma telenovela brasileira já foram gravadas nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. Os atores Caio Blat e Ricardo Pereira mostrarão uma “explosão de amor” no capítulo do dia 12 de Liberdade, Liberdade. Seus personagens, André e Tolentino, se entregarão ao que sentem um pelo outro em uma época em que o romance entre duas pessoas do mesmo sexo era considerado sodomia, crime punido com a morte.
As gravações ocorreram na semana passada, no dia 28, sob o comando do diretor artístico da trama, Vinícius Coimbra. Para ele, o importante é que a sequência emocione. Conforme o Notícias da TV antecipou, André e Tolentino vão se beijar e transar após uma noite de bebedeira, que será marcada também pelas humilhações que Rubião (Mateus Solano) fará o coronel passar.
O intendente ficará uma fera com Tolentino porque Ascensão (Zezé Polessa) fugirá da prisão. Arrasado, o coronel chegará ao seu quarto reclamando. André o confortará. “Você, André. Que é sensível. Capaz de entender os mistérios da vida. As voltas que o mundo dá. As surpresas que a vida nos reserva”, dirá o coronel. “Inclusive as surpresas sobre nós mesmos?”, indagará o irmão de Rosa/Joaquina (Andreia Horta).
Tolentino, ainda tímido, responderá que sim: “Você mesmo me disse um dia. Que todos temos uma segunda natureza. Que, às vezes, permanece oculta”, dirá. “Mas não para sempre”, retrucará André, olhando o amigo nos olhos. “Não. Não para sempre”, concordará o coronel.
Eles vão se abraçar e surgirá um clima para um beijo, só que Tolentino virará o rosto. Mas ele não resistirá, beijará e fará sexo com André. “É um prazer poder apresentar uma história assim, mostrar o sofrimento de tantas pessoas que precisam se esconder por causa do preconceito e mostrar como é difícil esconder quem você é e o que você sente. Acho que esta é uma novela madura, as pessoas percebem que são temas contemporâneos que estão sendo tratados com um pano de fundo histórico”, disse Caio Blat em entrevista ao site oficial de Liberdade, Liberdade.
O diretor afirma que conduziu os trabalhos para que gere identificação no público. “Eu sempre me pergunto como deve ser difícil você não poder ser quem você é e, de alguma forma, você ter que se reprimir perante a sociedade ou pela sua cor, ou pela escolha sexual, ou pela religião. Eu acho que em diversas partes do mundo as pessoas sofrem com isso”, comenta Coimbra.
FELIPE MONTEIRO/TV GLOBO
Caio Blat e Ricardo Pereira, já sem casacos, ensaiam a cena com Vinícius Coimbra
Ele e os dois atores declaram que o objetivo é sensibilizar as pessoas, dando a elas a oportunidade de questionarem seus próprios conceitos. Os três afirmam ainda que a sequência é cheia de romantismo e paixão. “A intenção foi mostrar a força do amor que explodiu ali, mas que já estava quase explodindo há muito tempo”, diz o ator Ricardo Pereira.
O autor Mario Teixeira adianta que o desfecho do casal homossexual será surpreendente, apesar de André ser preso dias depois da primeira transa com Tolentino. Ele será denunciado por Gironda (Hanna Romanazzi), que flagrará um beijo na boca entre o coronel e o fidalgo.
“Trazemos a história de duas pessoas que têm sentimentos, mas não podem vivê-los, pois este é um período em que as relações do mesmo gênero eram proibidas por lei. São dois homens solitários, que vivem seus próprios conflitos. Com o tempo, a atração começa a existir, mas os dois resistem muito a ceder ao que sentem um pelo outro, pois nesse período esse tipo de relação era chamada sodomia, crime passível de morte. Até que o amor entre eles fala mais alto”, conta o novelista.