Com Lula, PT não abre mão de protagonismo e deixa Geraldo de coadjuvante no 2 de Julho

A esperada participação de Lula no 2 de Julho, apesar de relâmpago, não fugiu do script esperado pela esquerda tradicional. Deixou de fora, porém, as ambições do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), pré-candidato a prefeito de Salvador, de ter um protagonismo do qual o PT não renunciou.

O fato de ter ganho uma vaga ao lado de Lula no carro aberto que desfilou da ladeira da Soledade até a região do Barbalho, nesta terça-feira (2), deu ao emedebista o troféu de ser visto, ainda que como um item acessório, pelas lentes da afeição popular por um presidente igualmente populista.

Durou praticamente uma hora o percurso de pouco mais de um quilômetro em que, na carroceria de uma caminhonete, ao lado de Lula, Geraldo e o governador Jerônimo Rodrigues (PT) distribuíram acenos, correspondidos ou não, para quem acompanhava o cortejo e também assistia ao desfile das janelas das casas.

Depois de passar em branco no discurso do presidente no evento da Arena Fonte Nova, na segunda-feira (1º), Geraldo respirou aliviado com a chance tão esperada de “colar a imagem” em Lula.

Coordenadora política da campanha de Geraldo, a deputada federal Lídice da Mata (PSB) aposta que o encaixe vai acontecer com naturalidade.

“Essas coisas vão acontecer normalmente. Nós não chegamos nem ainda nas convenções partidárias. Estamos numa pré-campanha. O presidente tem que ter cuidado porque, obviamente, ele estava num evento oficial”, disse ao Política Livre enquanto esperava pela saída de Lula.

A entrada presidencial no desfile gerou expectativa e também gargalos na dinâmica da festa. A infraestrutura montada pelas forças de segurança, com a instalação de gradil, estreitou a passagem em frente à Casa Nossa Senhora da Soledade, onde Lula ficou abrigado por quase uma hora recebendo secretários de Estado da Bahia, aliados petistas e pré-candidatos da base do governador Jerônimo de diversas cidades para fotos e vídeo, uma sessão da qual Geraldo Júnior obviamente também participou.

Enquanto as tratativas corriam no conforto do recinto reservado, a multidão se espremia na passagem do largo da Lapinha para seguir o fluxo do cortejo, o que provocou empurrões e até pessoas pisoteadas, com prejuízos mais severos para crianças e idosos.

Mas depois de dada a largada do presidente, o trajeto foi marcado majoritariamente pela devoção que o petista está acostumado a receber em solo baiano. Não houve, contudo, uma defesa enfática ou um apelo para projetar o emedebista. Pelo contrário, os brados e gestos pareciam remontar o ambiente de eleição presidencial e não municipal.

Depois de Lula deixar o percurso, Jerônimo e Geraldo se incorporaram ao cortejo pedestre desde o acesso ao Santo Antônio Além do Carmo até o Terreiro de Jesus. Apesar de iniciarem juntos, logo o governador tomou rumo próprio para alargar a fama de perfil afável e simpático com que tem se notabilizado.

Geraldo teve que ganhar vida própria e fazer o exercício do “corpo a corpo” para principalmente se aproximar de militantes da esquerda ainda resistentes com a escolha do seu nome para representar o campo do governo na eleição municipal da capital.

Ao Política Livre, integrantes do governo apresentaram visões diferentes sobre a separação. Há quem defendesse que o governador deveria ter uma postura mais de cabo eleitoral no sentido de validar Geraldo publicamente do que cultivar sua imagem particular. Outros ponderaram que era importante “abrir duas frentes” e até dar certa autonomia para o emedebista construir seu próprio capital.

Numa estratégia diferente, que desde o princípio tem se mostrado eleitoralmente infalível, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) e o ex ACM Neto andaram juntos na maior parte do tempo.

Política Livre

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