Com Tite, Neymar foi o que mais jogou: 24 horas a mais que Fred

Fred é o convocado que menos atuou pela seleção
Fred é o convocado que menos atuou pela seleção Foto: Silvia Izquierdo / STF
Bruno Marinho, Igor Siqueira e Thales Machado

Não é lá uma regra, mas entrevistas de emprego costumam durar, no mínimo, mais de 15 minutos. Cabe ao candidato usar cada segundo possível para convencer o empregador que merece a vaga, passar confiança, pra além do currículo. O processo seletivo para um lugar na seleção brasileira que disputará a Copa do Mundo é um pouco mais complicado: envolve observação dos atletas nos seus próprios clubes, nos treinamentos quando a seleção é convocada, mas é inegável que o verdadeiro teste acontece quando o técnico coloca o time para jogar.

Enquanto Neymar esteve em campo em 18 jogos e 1447 minutos, outros jogadores, como Fred, tiveram pouco tempo. O meia do Shakhtar Donetsk só jogou com a amarelinha onze minutos sob comando da atual comissão técnica. É pouco tempo para muita coisa, ainda mais quando se trata de um trabalho que já dura 20 meses, como o de Tite à frente da seleção.

Fred lidera um pequeno grupo da seleção que praticamente não teve tempo em campo com Tite na beira do gramado. Junto com ele (o recordista, só entrou em uma partida por 11 minutos, contra a Rússia, o penúltimo amistoso antes da convocação final) estão Danilo (90 minutos) e Taison (67 minutos).

Para comparar, Neymar, o que mais jogou, tem 1447 minutos em campo, em 18 jogos. O craque do PSG tem 24 horas a mais em campo, com a atual comissão técnica, do que o meia do Shakhtar.

Evidente, a convocação do trio não advém do brilho em parcos momentos. Invertendo a lógica da famosa frase de Didi, campeão mundial em 1958 e 1962, que dizia que “treino é treino, jogo é jogo”, os atletas tiveram que aproveitar o tempo nos treinamentos quando chamados.

– A gente sabe que em treinamento dá para conquistar uma vaga. Joguei pouco tempo, mas nos treinamentos sabia que poderia conquistar uma vaga, trabalhei sempre em alto nível. Sabia que poderia ter um lugar nessa lista. Me preparei fisicamente, mentalmente, para fazer meu melhor – disse Fred em coletiva, após um treino na Granja Comary onde apareceu bem, se movimentando com rapidez.

Fred é reserva hoje, disso nem ele duvida. A minutagem em campo é só um dos fatores que, ainda que não haja um time titular confirmado, ele estará fora. Exemplos para ele brigar por uma vaga, no entanto, não faltam. Dentro do grupo, Danilo, que só tem um jogo com Tite, sai na frente na briga por uma vaga na lateral após lesão de Daniel Alves. No passado recente, o exemplo é mais próximo: o empresário do jogador é o pentacampeão mundial Gilberto Silva, que além de cuidar da carreira do atleta, é o melhor conselheiro possível do assunto.

– É um cara que jogou toda copa, conversamos muito sobre isso, para eu manter a cabeça erguida, quando tiver chance, fazer meu trabalho – conta Fred. Na Copa da Coréia e do Japão, Gilberto Silva, também mineiro, virou titular após a lesão de Emerson. Jogou todos os jogos com Felipão, foi um dos mais regulares na campanha e virou titular da seleção brasileira por oito anos.

A vaga entre os 23 de Fred foi tão difícil que até treinos foram escassos. Convocado só duas vezes, ele conquistou Tite em março. O treinador testou jogadores com outras características na vaga, como Giuliano que joga mais avançado, mas acabou optando por Fred, muito por conta do desempenho em um campeonato difícil de acompanhar, o ucraniano.

Entre treinos, jogos na Ucrânia e onze minutos na seleção, Fred não precisou de entrevista de emprego, mas tinha bons argumentos se Tite o perguntasse sobre o porquê de merecer está na Rússia. Ele crê que a atual temporada foi sua melhor no Shakhtar. E, feito alguém que destaca sua capacidade de ser versátil em um ambiente corporativo na hora de conquistar um trabalho, o jogador sabe que teria que destacar sua polivalência.

– Posso jogar em ambas posições no meio, sei que precisam disso nas equipes, isso chama a atenção, é um ponto importante para mim. Acho mais que a polivalência, a qualidade no meio de campo – se defende, sabendo que em breve pode mudar de emprego: o Manchester United tem interesse no jogador após a imensa dinâmica de grupo que será a Copa do Mundo.

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