Comando do Exército busca cúpula da CPMI para “preservar a instituição”, “individualizar condutas” e proteger generais golpistas
Comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva se preocupa com o avanço das investigações sobre generais. A CPMI já aprovou a convocação de três generais, incluindo Augusto Heleno
Frente ao avanço das investigações envolvendo militares, o Ministério da Defesa e o comando do Exército implementaram uma estratégia nas últimas semanas com o intuito de evitar danos à reputação das Forças Armadas. Como parte deste plano, o general Tomás Ribeiro Paiva conduziu uma série de reuniões com membros-chave da CPMI do 8 de janeiro, incluindo a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA); o presidente, deputado Arthur Maia (União-BA); e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que lidera o governo no Congresso.
Nestes encontros com os parlamentares, o general destacou a importância de “preservar a instituição”, “individualizar as condutas” e evitar generalizações que prejudiquem a imagem do Exército, informa o jornal O Globo. De acordo com informações de participantes destas reuniões, em nenhum momento o general abordou a proteção de militares específicos. No entanto, nas entrelinhas, o recado ficou implícito: existe preocupação quanto a pedidos de convocações e quebras de sigilo de generais.
Até o momento, a CPMI já requisitou o comparecimento de seis militares para prestar depoimento. Dentre eles, três são generais: o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, que será ouvido na próxima semana; o ex-comandante militar do Planalto, Gustavo Dutra; e o ex-ministro do GSI, Augusto Heleno. As datas para ouvir os dois últimos ainda não foram agendadas.
Na avaliação do Alto Comando do Exército, é inevitável que haja certo desgaste devido aos depoimentos, porém, há receios de que a CPMI continue a avançar em direção aos oficiais. Na lista de convocações solicitadas por parlamentares governistas há mais três generais: o ex-ministro da Defesa, Paulo Sergio; o ex-comandante do Exército, Freire Gomes; e o ex-gerente da Apex, Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
A relatora da CPMI, Eliziane Gama, é autora de dois requerimentos considerados sensíveis para o Exército: as quebras de sigilo de Paulo Sérgio e Freire Gomes. Na terça-feira (22) passada, durante encontro com o comandante do Exército, ela concordou sobre a necessidade de resguardar a instituição, mas ressaltou a importância de separar as condutas individuais.
Em conversa com o jornal O Globo, Eliziane Gama também afirmou entender a relevância de ouvir Lourena Cid na CPMI. O general, amigo de longa data de Bolsonaro, é alvo de uma investigação da Polícia Federal relacionada à venda ilegal de joias da Presidência.
Na semana passada, no Quartel-General, o presidente da CPMI também fez uma visita ao comandante do Exército e saiu da reunião enaltecendo a instituição. “O que ele deseja é que seja separada a conduta individual de pessoas que são membros das Forças Armadas da instituição. É uma preocupação bastante razoável para ele como comandante”, disse. Procurado, o Exército comunicou que “as reuniões ocorridas são institucionais e visam proporcionar aos diversos órgãos um melhor conhecimento sobre a Força”.
Na sexta-feira, sob a observação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o comandante do Exército reuniu autoridades no Quartel-General em Brasília para celebrar o Dia do Soldado. Em seu discurso aos militares e civis presentes, ele reafirmou o compromisso de rechaçar e corrigir desvios de conduta na tropa. Além disso, enfatizou a determinação do Exército em defender a legalidade com intransigência.