Começa o famoso julgamento da Madame Henriette Caillaux

Enquanto a Guerra ameaçava os Bálcãs, a atenção de grande parte do povo francês estava voltada para o sensacional caso da Madame Henriette Caillaux, cujo julgamento pela morte de Gaston Calmette, editor do jornal Le Figaro, é aberto em 20 de julho de 1914, em Paris.

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 Retrato de Henriette Caillaux (1874-1943)

Joseph Caillaux, um político de esquerda, havia sido indicado primeiro ministro da França em 1911. Foi obrigado, porém, a renunciar no ano seguinte após ter sido acusado de excessiva leniência com a Alemanha. Escolhido novamente como ministro em 1913, o pacifista Caillaux permaneceu sob constante ataque da direita. Em sua vida pessoal, ele não era nada discreto, ostentando amantes por todo lado durante sua vida de solteiro e mantendo um caso de amor secreto com uma delas, sua futura segunda mulher, Henriette, enquanto ainda estava casado com a primeira esposa.

Embora Caillaux tenha sido um velho amigo de Raymond Poincaré, eleito presidente da França em março de 1913, tornaram-se acérrimos adversários ainda antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1919), que teria início no verão seguinte.

Pouco depois de sua eleição, Poincaré defendeu uma legislação que estenderia o pagamento de impostos com fins militares de dois para três anos, uma medida que parecia necessária a muitos como meio de compensar a enorme vantagem populacional da Alemanha – 70 milhões a 40 milhões – em caso de guerra. A despeito da oposição de Caillaux e de outros liberais, inclusive o líder socialista, Jean Jaures, a lei foi aprovada em agosto de 1913. Como Caillaux continuava a criticá-la, tornou-se alvo de uma grande campanha difamatória conduzida por Gaston Calmette, o mais poderoso jornalista da França e editor do maior jornal, de linha direitista, o Le Figaro.

Começando em dezembro de 1913, Calmette afirmava que ele poderia e iria publicar certos documentos que provariam que Caillaux, enquanto servia como Ministro das Finanças em 1911, obstruíra a justiça num escândalo financeiro em que estava pessoalmente envolvido. Além do mais, Calmette ameaçou publicar cartas de amor trocadas entre Caillaux e Henriette, quando ainda estava casado com a primeira esposa.

Quando Calmette ameaçou publicar comunicações telegráficas interceptadas, supostamente demonstrando a simpatia de Caillaux pela Alemanha – uma afirmação que provocou enérgico protesto do governo alemão contra a interceptação de sua correspondência oficial – Caillaux foi a Poincaré para pedir-lhe que Calmette evitasse revelar os documentos. Caso Poincaré desistisse, Caillaux avisou: ele próprio tornaria público telegramas interceptados em seu poder, revelando as negociações secretas do presidente francês com o Vaticano. Tal revelação, certamente, irritaria os apoiadores seculares e anticlericais de Poincaré. O governo francês emitiu em seguida uma nota oficial negando a existência dos telegramas germânicos. Não obstante, Calmette prosseguiu com as ameaças de publicar as cartas de amor de Caillaux.

Em 16 de março de 1914, Henriette Caillaux tomou um táxi em direção à sede do Le Figaro na rua Drouot. Após esperar uma hora pela chegada do editor-chefe, caminhou com ele até sua sala. Alvejou-o com seis tiros de sua pistola automática. Abatido, Calmette morreu naquela mesma noite.

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Ilustração do Le Petit Journal sobre o assassinato

Enquanto no leste, em Viena e Berlim, avançavam os planos que desembocariam na Primeira Guerra Mundial, os parisienses estavam fascinados pelo caso Caillaux e completamente alienados da iminente crise na Europa. Além de ter sido um crime que causou comoção, o caso estabeleceu também um estridente conflito entre os políticos de esquerda e de direita.

O julgamento de Madame Caillaux começou em 20 de julho de 1914. Oito dias mais tarde, o júri a inocentou alegando tratar-se de um crime passional. No mesmo dia, a Áustria-Hungria declarava Guerra à Sérvia.

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