O sonho de ser policial militar ficou no passado. E é lá também onde o comerciante Luiz Henrique Silva Roque, de 25 anos, tenta enterrar os fantasmas de quatro anos atrás, quando foi preso pela primeira vez, após ter os dados pessoais usados por um miliciano da Zona Oeste do Rio. Mesmo com a prisão do bandido, conhecido como Cara de Cavalo, no Maranhão, em 2013, o seu pesadelo ainda não acabou.
— Não posso fazer mais nada. Minha vida parou — lamenta o jovem, que mora e trabalha em Nilópolis.
Luiz Henrique foi preso em 5 de novembro de 2012. A intimação para comparecer ao Fórum de Nilópolis lhe pareceu um convite para compor um júri popular. Porém, a 2ª Vara Criminal havia expedido um mandado de prisão preventiva em seu nome por homicídio qualificado e roubo. Ele foi levado para Bangu 2, no Complexo de Gericinó, e depois para o presídio João Carlos da Silva, em Japeri.
— Não desejo isso a ninguém. Fiquei numa cela que não tinha nem dois metros quadrados com 30 pessoas. Comi comida azeda e dormi no chão molhado, sem cobertor — lembrou.
Ele só foi libertado, seis dias depois, porque sua mãe teve acesso ao processo criminal e viu que, embora o nome fosse o mesmo, a foto que identificava o criminoso não era a do seu Luiz Henrique.
— Mostrei ao defensor público que quem estava na foto não era meu filho. Mesmo assim ele ficou seis dias lá — conta a pedagoga Angélica Duarte, de 40 anos.
Ela acredita que o verdadeiro autor dos crimes esteja usando os dados da identidade de Luiz Henrique:
— Ele perdeu os documentos antes de fazer 18 anos.
Na terça-feira passada, Luiz Henrique reviveu o drama: foi algemado por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma blitz na Rodovia Rio-Santos, em Itaguaí. Só foi liberado na 50ª DP:
— Pedi para tirarem meu nome do processo, mas o juiz alega que, se tirar, inocenta o verdadeiro criminoso. Estou pensando em mudar meu nome. Não me sinto livre ainda.
Digitais confirmam: duas pessoas
Um despacho no processo criminal, de 2014, confirma que Luiz Henrique e Cara de Cavalo, após confronto de digitais, são pessoas distintas. O documento informa que a identificação do homem preso no Maranhão permanece desconhecida e que ele usa nome, filiação e data de nascimento do comerciante.
Mesmo assim, o rapaz ainda sofre as consequências do uso de seus dados. Numa simples pesquisa com seu nome no Google, surge a notícia sobre sua prisão, em 2012, no site da Polícia Civil do Rio.
No processo, são réus também Sebastião de Sousa Macario, o Russinho, que está foragido, e Alessandro de Araújo Lacerda, o Nem Tatuagem. Este último, segundo a Secretaria estadual de Administração Penitenciária, está em liberdade desde 2015.
O “Mais Baixada” entrou em contato com o Tribunal de Justiça do Rio e a Polícia Civil, mas não teve resposta.