Comício de Beco Estreito

Justiça mais honesta

Por Jessier Quirino

Pra se fazer um comício

Em tempo de eleição

Não carece de arrodei

Nem dinheiro muito não

Basta um F-4000

Ou qualquer mei caminhão

Entalado em beco estreito

E um bandeirado má feito

Cruzando em dez posição.

Um locutor tabacudo

De converseiro comprido

Uns alto-falante rouco

Que espalhe o alarido

Microfone com flanela

Ou vermelha ou amarela

Conforme a cor do partido.

Uma gambiarra véa

Banguela no acender

Quatro faixa de bramante

Escrito qualquer dizer

Dois pistom e um taró

Pode até ficar melhor

Uma torcida pra torcer.

Aí é subir pra riba

Meia dúzia de corruto

Quatro babão cinco puta

Uns oito capanga bruto

E acunhar na promessa

E a pisadinha e essa:

Três promessa por minuto.

Anunciar a chegança

Do corruto ganhador

Pedir o “V” da vitória

Dos dedo dos eleitor

E mandar que os vira-lata

Do bojo da passeata

Traga o home no andor.

Protegendo o monossílabo

De dedada e beliscão

À cavalo na cacunda

Chega o dono da eleição

Faz boca de fechecler

E nesse qué-ré-qué-qué

Vez por outra um foguetão.

Com voz de vento encanado

Com o VIVA dos babão

É só dizer que é mentira

Sua fama de ladrão

Falar do roubo dos home

Prometer o fim da fome

E tá ganha a eleição.

E terminada a campanha

Faturada a votação

Foda-se povo, pistom

Foda-se caminhão

Promessa, meta e programa…

É só mergulhar na brahma

E curtir a posição.

Sendo um cabra despachudo

De politiquice quente

Batedorzão de carteira

Vigaristão competente

É só mandar pros otário

A foto num calendário

Bem família, bem decente:

Ele, um diabo sério, honrado

Ela, uma diaba influente

Bem vestido e bem posado

Até parecendo gente

Carregando a tiracolo

Sem pose, sem protocolo

Um diabozinho inocente.

Paraibano de Campina Grande, Jessier Quirino é arquiteto por profissão, poeta por vocação e  matuto por convicção.

Extraído do Alerta Total

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