Comissão da Verdade pede que Forças Armadas investiguem centros de tortura

Relatório sobre abusos em unidades militares foi entregue nesta terça-feira ao ministro da Defesa, Celso Amorim

Gabriel Castro, de Brasília
Celso Amorim, ministro da Defesa, receberá documentos da Comissão da VerdadeCelso Amorim, ministro da Defesa, receberá documentos da Comissão da Verdade (Ueslei Marcelino/Reuters)

Comissão Nacional da Verdade (CNV) pediu nesta terça-feira ao Ministério da Defesa que abra sindicâncias para apurar a prática de tortura em sete unidades das Forças Armadas durante o regime militar. Os integrantes da comissão entregaram um pedido formal ao ministro Celso Amorim, com o argumento de que somente as autoridades militares têm acesso a todas as informações necessárias para detalhar o funcionamento dos centros de tortura.

O documento menciona unidades militares no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Recife e em Belo Horizonte. Na lista, estão três sedes do Departamento de Operações de Informações (DOI). Os detalhes sobre a prática de tortura constam de um relatório de sessenta páginas, elaborado pela Comissão da Verdade. O documento é uma compilação de depoimentos de testemunhas, laudos e de informações colhidas pela comissão.

“O relatório não emite juízo de valor. O que fizemos foi juntar elementos comprobatórios de uma situação fática”, afirmou nesta terça-feira o presidente da CNV, Pedro Dallari.

Embora os militares do período estejam protegidos pela Lei da Anistia, a Comissão da Verdade acha possível responsabilizar os envolvidos na tortura com base na lei que pune o desvio de função de prédios públicos. Quando se trata de danos ao erário – que não é crime, mas uma infração de caráter administrativo – não há prescrição. Mas, nesse caso, a punição seria apenas o ressarcimento aos cofres públicos.

“Houve uma conduta rotineira, administrativamente organizada, que fez com que as instalações ligadas às Forças Armadas fossem utilizadas de maneira contínua, organizada, obedecendo a padrões para a prática de tortura e outras graves violações aos direitos humanos”, disse Dallari.

Os integrantes da CNV não pediram diretamente a responsabilização dos militares. “O que será feito a partir daí com essas informações, do ponto de vista de eventual processo administrativo, as Forças Armadas é que terão de decidir. Do ponto de vista de eventual processo penal, o Ministério Público é que terá de decidir.”

As comissões de sindicância militares normalmente têm prazo de trinta dias de funcionamento. Por isso, a Comissão Nacional da Verdade espera receber as conclusões dos trabalhos a tempo de incluir as informações em seu relatório final, que precisa ser apresentado até dezembro.

“As Forças Armadas têm que cumprir o seu dever: não só fornecer informações, mas auxiliar diretamente nas investigações. É uma obrigação das autoridades irem buscar os fatos e trazer a verdade pra nós”, afirmou José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça.

Fonte: Veja

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *