Como Flamengo superou resistência e elegeu Tite para reformular elenco para 2024 sem abrir mão de 2023

Por Diogo Dantas

A tentativa de sacramentar a contratação de Tite para suceder Jorge Sampaoli se dá em meio a dificuldades que a diretoria do Flamengo teve para superar a resistência ao ex-técnico da seleção entre os torcedores rubro-negros e dentro do clube. Depois de analisar o mercado e entender que se tratava da melhor alternativa, Tite foi eleito para encabeçar o processo de reformulação do elenco para 2024, mesmo que não assuma já.

Essa é a aposta do presidente Rodolfo Landim, que terá no ano que vem o seu último à frente do clube, em seu segundo mandato, recheado de desgastes especialmente nesta temporada de fracassos. Fontes na Gávea ligadas aos grupos que apoiam o atual mandatário indicam que o nome de Tite foi aos pouco se tornando unânime pelo currículo robusto na missão que se anuncia.

No Ninho do Urubu, porém, ainda há certa desconfiança e relatos de que o treinador, apesar de ter muito conteúdo e ser bom de diálogo, terá que se desgastar para descartar algumas peças. A solução para esse cenário seria o que Tite já indicou lá atrás. Voltar a trabalhar apenas no ano que vem, mas participar junto à diretoria do Flamengo do planejamento e da reformulação a partir de agora.

O problema é que para isso o clube precisa de um profissional no comando para se classificar no mínimo para a Libertadores do ano que vem. As contas apontam para 35 pontos de 42 possíveis nas rodadas que faltam do Campeonato Brasileiro. Sampaoli seguir até dezembro era uma ideia da diretoria antes das finais da Copa do Brasil. O clima de desgaste com os atletas e funcionários, porém, pesou contra e levou à tentativa de rompimento.

Pressão sobre Landim

A novela se arrasta nos últimos dias para convencer Tite a assumir de imediato antes de rescindir o contrato com o argentino, que vai até o fim de 2024. Apesar de indicações positivas de que Sampaoli conseguiu aos poucos tirar de cena atletas que não deram o retorno esperado, o ambiente ruim impediu uma evolução no trabalho ainda este ano.

O vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel fizeram força para tirar Sampaoli algumas vezes, mas Landim segurou o técnico e é dele a palavra final para a demissão acontecer. No Flamengo, o presidente costuma dividir com seus pares uma sensação de que o tempo cura tudo no futebol, que o dia a dia pode ser o melhor remédio para algo que está errado se ajustar.

Dentro do Centro de Treinamento, a sensação de que o ciclo de Sampaoli se encerrou impediu que essa máxima acontecesse, diante de diversos casos polêmicos, incluindo agressões entre atletas (Gerson e Varela) e um soco do preparador físico Pablo Fernandez no atacante Pedro. Depois do episódio, já havia informações suficientes para uma ruptura, mas as finais adiaram o processo.

Ainda assim, há quem entenda no entorno de Landim e da diretoria que o próximo treinador precisará, sem truculência, claro, e com diálogo, exercer a liderança e promover mudanças no elenco. No Brasil, poucos treinadores têm esse perfil. Jorge Jesus, multicampeão com o Flamengo, está pressionado no Al Hilal e foi considerado, mas o Flamengo ainda assim prioriza Tite.

A chegada do técnico ex-seleção pode fazer a diretoria poupar outras cabeças no departamento. Há claros sinais de esgotamento de Braz e de outras peças ligadas ao vice de futebol. Marcos Braz é um dos que força junto a Landim para a troca de Sampaoli por Tite. A rotatividade de treinadores exime o comando da pasta de responsabilidade, assim como os jogadores.

Sem sinal de demissão

Sampaoli chegou ao terceiro dia de treino seguido sem qualquer sinal do Flamengo sobre sua demissão. Enquanto negocia com Tite, a diretoria se mantém omissa e não quer antecipar a rescisão. O argentino não sabe se comandará o time no jogo de amanhã diante do Bahia, no Maracanã. Até esta quinta-feira, não projetou o confronto no treinamento. O treinador mostrará vídeos sobre o Bahia nesta hoje e amanhã, isso se não for demitido antes. Sampaoli tem a receber hoje entre R$ 8 e R$ 9 milhões. Além dele, o Flamengo tem que pagar rescisão à comissão técnica de seis integrantes. O valor cai a cada dia e o Flamengo queria o parcelamento.

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