“Congresso dará ao ‘Jair-sem-braço’ mais um empurrão em sua popularidade”, por Tales Faria

Bolsonaro quer repetir o que ocorreu com o auxílio emergencial: o Congresso fez um programa de ajuda durante a pandemia, mas, quando o dinheiro chegou no bolso de quem precisava, quem se beneficiou foi o presidente.

Por Tales Faria, do UOL

Bolsa Família ampliada, Renda Brasil, Presente Eleitoral… Seja qual for o nome que o Congresso vier a dar à continuidade da ajuda emergencial concedida na pandemia, o fato é que Bolsonaro jogou com muita esperteza.

Depois de receber da equipe econômica seguidas propostas de solução para a continuidade do tal do Renda Brasil, o presidente concluiu o obvio: O dinheiro para o programa sairá dos pobres para os paupérrimos. Ou então virá de um novo imposto, tipo CPMF, que desagrada à classe média e às empresas. Outra possibilidade é simplesmente arrebentar com o teto de gastos do Orçamento e deixar os economistas e o mercado com os nervos à flor da pele.

Ou seja, o novo programa poderia manter sua popularidade por um lado, mas com o sério risco de derrubá-la, pelo outro. Ou mesmo de derrubar seu governo, no caso de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.

E o que fez Bolsonaro? Veio a público e disse que não aceita nenhuma das propostas e, portanto, não haveria mais projeto algum do governo.

Estratégia de Bolsonaro pra garantir popularidade era investir 70 bilhões no Renda Brasil, que vai substituir Bolsa Família

Em contrapartida, ele recebeu no Planalto o relator do Orçamento no Congresso, o senador governista Márcio Bittar, do MDB do Acre.

E, aí, o que foi mesmo que fez o presidente? Combinou com o parlamentar que o Congresso é fará o novo programa.

Bolsonaro quer repetir o que ocorreu com o auxílio emergencial: o Congresso fez um programa de ajuda durante a pandemia — que distribuiu R$ 600 reais mensais aos mais pobres, contra a vontade da equipe econômica.

Oficialmente o Congresso agiu contra o governo. Mas, quando o dinheiro chegou no bolso de quem precisava, quem se beneficiou foi o presidente. Sua popularidade disparou, mesmo com todas as besteiras que o governo fez no combate à pandemia. Mesmo com toda a crise econômica e todas as loucuras na área do Meio Ambiente.

Beneficiários do auxílio emergencial se aglomeram para receber benefício.

O Congresso ficou com o ônus da gastança, e Bolsonaro, com o bônus da doação aos mais pobres.

No caso da reforma da Previdência, também coube ao Congresso assumir o ônus. O Bônus, que teria sido o ajuste das contas públicas, ficaria para o governo. E é isso que o presidente quer que se repita: o Congresso que equacione uma solução para tornar definitivo o auxílio emergencial, evitando a queda de popularidade do governo que viria com o fim do programa.

Ah, mas aí, depois de o Congresso aprovar, digamos que a equipe econômica convença o presidente de que ele não pode sancionar o projeto. Que o texto teria uma ilegalidade aqui, outra ali. E aí, o que pode fazer Bolsonaro? Ora, ele segue a lei e veta essas ilegalidades. Mas, candidamente, pede ao Congresso que derrube seu veto, afinal, está fazendo exatamente isso no caso da isenção de impostos para as igrejas.

Você já ouviu a história do João-sem-braço? Preguiçoso e enganador, o sujeito escondia os braços, amarrados sob a camisa, para pedir aos outros que trabalhassem por ele. Pois é. O presidente se chama Jair Bolsonaro. Mas podem lhe chamar de João-sem-braço.

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Tales Faria foi vice-presidente, publisher, diretor, editor, colunista e repórter de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. Defende o jornalismo crítico, mas sem preconceitos

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