Conheça as profissões ‘mais ameaçadas’ pela tecnologia

Mariana Schreiber

Call center, em foto de arquivo (BBC)Tendência é de que a crescente informatização continue a substituir algumas profissões

Cargos nas áreas de educação, saúde, arte, mídia, gestão, negócios e finanças são os que têm maior probabilidade de sobreviver aos avanços na tecnologia, aponta estudo da Universidade de Oxford.

A crescente informatização, porém, continuará a eliminar profissões, principalmente aquelas que não exigem habilidades criativas, sociais e percepção espacial mais sofisticada. São atividades em áreas como vendas, produção industrial, suporte administrativo, transporte e construção civil.

Os pesquisadores Carl Benedikt Frey, do Departamento de Filosofia, e Michael A. Osborne, do Departamento de Engenharia, analisaram 702 profissões – retiradas de uma classificação americana – segundo a probabilidade de perdas de postos de trabalho devido aos avanços tecnológicos.

Aplicando fórmulas estatísticas, eles deram notas entre 0 e 1 para essas profissões – quanto maior a classificação, maior o risco de desaparecimento.

A fórmula aplicada levou em conta o quanto essas atividades demandam criatividade, interação social, percepção espacial e atividades manuais complexas.

Profissões com maior probabilidade de serem informatizadas, segundo o estudo

– subscritor de seguros (avaliador de riscos em seguradoras)

– técnicos em matemática

– costureiros manuais

– reparador de relógios

– operadores de telemarketing

São habilidades que ainda não foram incorporadas por computadores e talvez nunca sejam. O atual estágio tecnológico não indica que isso seja possível nas próximas duas décadas, observam os pesquisadores.

“Profissões que exigem habilidades criativas e sociais estão imunes à informatização”, disse Osborne, em entrevista à BBC Brasil.

Profissões com menor probabilidade de serem informatizadas, segundo o estudo

– terapeutas recreacionais

-supervisores mecânicos, instaladores e que fazem consertos

– diretores de gerenciamento de emergências

– Assistentes sociais especializados em saúde mental e abuso de drogas

– audiologistas

O artigo que apresenta a pesquisa explica que a criatividade depende de valores humanos que variam muito no tempo e em diferentes culturas, o que torna difícil reproduzi-los em uma máquina.

Avanço das máquinas

Já as habilidades sociais que não podem, ao menos por enquanto, ser informatizadas incluem a capacidade de perceber a reação das pessoas e entender suas causas, de negociar, reconciliar e persuadir, e de cuidar dos outros, dando suporte emocional e médico.

A limitação atual de computadores e robôs de lidar com formas e espaços não padronizados reduz também as possibilidades de substituição de algumas funções, notam os pesquisadores.

Outras profissões

 

(com notas entre 0 e 1 – quanto maior a classificação, maior o risco de desaparecimento)
 
Médicos e cirurgiões 0.004

Dentistas 0.004

Clero 0.008

Professores 0.009

Gerente de vendas 0.013

Desenvolvedores de sistema 0.13

Engenheiros 0.014

Gerente de marketing 0.014

 Executivos-chefes 0.015

Arquitetos 0.018

Advogados 0.035

Repórteres 0.11

Desenvolvedores de sistema 0.13

Tradutores 0.38

Economistas 0.43

Historiadores 0.44

Pilotos comerciais 0.55

Trabalhadores de construção 0.88

Taxistas 0.89

Padeiro 0.89

Guia turístico 0.91

Cozinheiro 0.96

Outros avanços tecnológicos, porém, têm permitido substituir mais atividades humanas por máquinas, detalha o estudo. Antes, a mecanização estava restrita a atividades manuais mais padronizadas. O desenvolvimento de sensores cada vez mais modernos e o aumento da capacidade de armazenamento e processamento de dados estão permitindo, no entanto, que mesmo atividades menos “ensaiadas” possam ser executadas por máquinas.

É o caso por exemplo do carro autônomo desenvolvido pelo Google, que é conduzido por seu próprio sistema, prescindindo do motorista.

Esses avanços tecnológicos também vêm permitindo mecanizar atividades cognitivas, notam os pesquisadores. Oncologistas do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, já usam tecnologia da IBM para fazer diagnósticos.

Escritórios de advocacia também usam softwares para fazer pesquisas em leis e decisões judiciais antes dos julgamentos, o que reduz a necessidade de pessoal, embora não ponha em risco a existência da profissão que exige, por exemplo, a capacidade de persuadir.

Mais qualificação

Os trabalhos mais ameaçados com a contínua evolução tecnológica são trabalhos de baixa qualificação. Entre eles estão o telemarketing, caixas, e corretores de imóveis. No caso da construção civil, por exemplo, os pesquisadores de Oxford acreditam que o aumento do uso de partes pré-fabricadas vai eliminar algumas etapas do processo.

O principal desafio para evitar o aumento do desemprego com a perda dessas vagas, portanto, é o investimento na educação para desenvolver as habilidades criativas e sociais das pessoas, diz Osborne.

O estudo se baseou em 702 profissões categorizadas pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Embora os pesquisadores não calculem quantos postos devem ser fechados, eles estimam que haja risco elevado de perda de vagas em 47% das atividades americanas nas próximas duas décadas.

Para Osborne, essa é uma tendência mundial, mas que deve ser mais lenta nos países pobres, onde a mão de obra é mais barata e há menos recursos para investimentos em informatização.

Fonte: BBC Brasil

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