|
Seu Caju apresentou sua certidão de nascimento à reportagem do Diario (Foto: Marina Torres/DP Foto) |
A família assistia ao telejornal em uma noite qualquer no início de janeiro deste ano quando viram a notícia de que uma gaúcha se tornava detentora do título de pessoa mais velha do mundo, com 116 anos. Ali, olharam para o idoso próximo a eles. Um homem de cabelos raspados, lábios finos por conta da idade avançada e olhos atentos para tudo que acontecia ao seu redor. Esse homem tem 117 anos.
José Jerônimo Gomes é o patriarca de uma família de mais de 20 membros, e expõe em seus documentos ter nascido em 17 de agosto de 1907, um ano a mais do que Inah Canabarro Lucas, a atual pessoa mais velha do mundo. No entanto, a família acredita que esse título seja de Seu Caju, como é conhecido.
A mensagem chegou no Diario de Pernambuco junto a uma foto de Seu Caju usando um gorro de Papai Noel e com um bolo comemorando seu aniversário de 117 anos. “A gente comemorou em dezembro porque ele estava fraquinho em agosto. Então, quando a família se reuniu para o Natal, fizemos um bolinho”, contou Fabiana Maria da Silva, neta de Seu Caju.
“Nós nunca tínhamos achado um canal em que pudéssemos mostrar que ele é a pessoa mais velha do mundo. Quando o levamos ao posto de saúde as pessoas se animam, tiram foto com ele, vereadores já vieram aqui pedir voto”.
Morador de Igarassu, no Grande Recife, Seu Caju recebeu a equipe do Diario com os olhos curiosos. Olhou para nossas roupas, reparou nas tatuagens de nossa fotógrafa e, nitidamente, tentou se esforçar para ouvir o que era conversado em sua frente.
|
Foto: Marina Torres/DP Foto |
Dona Leonora contou que o pai não toma nenhum remédio, não sofre de pressão alta, nem de diabetes. “Quando esfria ele sente uma agonia na cabeça, mas está bem mesmo. Ele é bem lúcido. Só tem que falar ou no pé do ouvido ou bem alto para ele entender”, explicou. Foi ela que tomou a frente e contou histórias de seu pai.
“Ele trabalhava em uma fazenda no sertão da Paraíba. Cuidava de 300 cabeças de gado. Aí ele conta que chegava na casa da noiva com o fardamento, que era só para dar um oi para a família dela”, Fabiana contou. Segundo ela, o avô casou-se com quase 40 anos e passou dez anos se relacionando com Francisca Maria da Silva, a Chiquinha, para se casarem.
Segundo a família, Seu Caju conheceu a dona Chiquinha aos 25 anos, na época ela tinha 15. “Era uma casa com cinco irmãs, algumas estavam interessadas nele, mas ele olhou assim e se interessou por mamãe”, Leonora contou. “Dez anos depois que eles se casaram na igreja católica”.
Por não terem se casado no civil, o documento mais antigo de Seu Caju é uma cópia de sua certidão de nascimento, emitida em 1984, mesmo ano em que todos os seus documentos foram renovados. O papel amarelado e com rasgos, expedido pela comarca de Umbuzeiro, na Paraíba mostrava que Seu Caju nasceu em Timbaúba, na Zona da Mata Norte em Pernambuco. Filho de Bertulina Maria da Conceição e sem registro de pai.
No entanto, quando seu Caju se animou com presença da equipe de reportagem, começou a conversar e contar detalhes de sua vida que, pelas reações de Leonora e Fabiana, nem elas sabiam. Como, por exemplo, Dona Bertulina consta no registro como sua mãe, mas, segundo o próprio Caju, sua genitora foi Maria Alves da Costa, filha de Bertulina, que agora para a família se tornava bisavó.
“Nasci no Engenho Bonito, perto de Macaparana”, lembrou. “Tive sete irmãos, um deles tocava sanfona”. Perguntado se tocava algum instrumento, Seu Caju deu um sorriso pequeno e confessou que tocava viola. “Eu não sabia”, comentou Leonora.
Então, confirmando o que a família dizia sobre ele ter “um juízo bom”, Seu Caju cantou um trecho de A Chegada de Lampião no Inferno. “Morreu a mãe de Canguinha, o pai de forrobodó, o neto de parafuso, um cão chamado Cotó, escapuliu Boca Insossa, uma moleca moça, quase que quebrava o pitó”.
|
Foto: Marina Torres/DP Foto |
“Quem que não tem medo de morrer?”, perguntou com um sorriso. E o segredo de sua longevidade, Seu Caju disse: “Não beber cachaça, nem fumar, nem tomar café, nem comer insosso, nem salgado e nada de gelo”.
Quando a reportagem se preparava para deixar a sua casa, Seu Caju levantou o rosto e disse: “Hoje é um dia abençoado”.