O grupo representou em agosto 24,47% das dívidas dos brasileiros. É o maior patamar para esse tipo de dívida desde o início da série histórica, em janeiro de 2019. Os dados fazem parte do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa.
Segundo a entidade, as contas básicas de água, luz e gás representaram o crescimento mais significativo entre os segmentos das dívidas – aumento de 0,53 ponto percentual em agosto, em relação ao mês anterior. O setor de utilities, ou seja, contas básicas apresentaram crescimento de 2,97 ponto percentual desde o início deste ano.
Na esteira da primeira fase do programa Desenrola, o setor de bancos e cartões contabilizou nova queda, historicamente principal responsável pela inadimplência entre os brasileiros.
Com diminuição de 0,24 ponto percentual em relação ao valor anotado em julho, este é o percentual mais baixo deste ano para o segmento, representando 29,29% das pendências entre os inadimplentes no mês de agosto.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a primeira fase do programa Desenrola, de renegociação de dívidas, conseguiu desnegativar o nome de 7 milhões de brasileiros. Apesar disso, explica o número de brasileiros inadimplementos continua subindo.
“Isso acontece porque as dívidas que podem ser negociadas no programa do governo são aquelas contraídas até dezembro do ano passado. Além disso, há casos em que o consumidor negocia com alguma instituição, mas possui dívida com outras empresas, e o registro permanece por outros dívidas. Além disso, há pessoas que saem das listas de inadimplência e outras que entram”, pondera Thiago Ramos, coordenador do Serasa.
Para Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, lembra que em agosto o aumento da conta de luz em vários estados contribuiu para o aumento da inflação. Além disso, Beni avalia que a segunda fase do programa Desenrola de renegociação de dívidas do governo é urgente e está demorando a começar:
“É sinal de que passou do tempo para uma renegociação destas pessoas. O Desenrola é um programa que deve ter seus desdobramentos acompanhados de perto”, desta a economista.
Na avaliação de Beni, mais do que uma trava no avanço do consumo das famílias, a alta do endividamento nas contas básicas de consumo revela empobrecimento da população:
“Isso mostra aumento de desigualdade e empobrecimento que vem de uma soma de pandemia, um processo inflacionário dos alimentos que provoca corrosão no poder de compra, taxa de juros elevadíssima e contamina todos dos preços. Além disso, foram 4 anos sem acréscimo de renda via aumento real do salário mínimo, e desemprego. Passa a fazer outra escolha ou a comida ou luz não é mais o varejo, a loja de roupa ou luz, aí ela come comprar botijão de gás, mas não paga a conta de água ou de luz por exemplo”, ressalta.
Felipe Spritzer, fundador e CEO da Portfel, empresa de consultoria de investimentos do Grupo Primo, observa que, embora o país esteja experimentando uma recuperação em indicadores econômicos, a inadimplência das famílias é um desafio de longo prazo:
“É importante tentar se organizar para pagar as contas básicas ou renegociar esses débitos porque o consumidor pode ficar sem os serviços. Depois, ele deve pagar as faturas mais caras e com juros maiores”, avalia Spritzer.
Nova alta na inadimplência
Com a nova alta da inadimplência, o número de brasileiros que não consegue pagar suas contas volta a subir em agosto, depois de dois meses de quedas consecutivas. Somente no mês passado 320 mil novas pessoas estão sem conseguir pagar as dívidas, em relação ao número registrado em julho. O valor médio de dívida por pessoa subiu 0,5% chegando a R$ 4.948.
“Alguns consumidores precisam escolher quais contas vão atrasar. Uma pesquisa da Serasa mostrou que mais da metade dos entrevistados possuíam três cartões de crédito ou mais. A gestão das datas de vencimento e casar com recebimento do salário são difíceis. E quando atrasa uma fatura fica difícil pagar as outras porque os juros são altos”, explica Thiago Ramos, coordenador da Serasa.
O Rio de Janeiro é o estado com a maior fatia de pessoas endividadas — 53,17% da população adulta no Estado está com débitos em atraso. Mais de 7,2 milhões de fluminenses estão inadimplentes e somam dívidas que chegam a R$ 36,6 bilhões, com média de R$ 5 mil para cada um. Isso representa 53,17% da população adulta no Estado, percentual acima do índice nacional, que é de 42,56%.
Quatro estados e o Distrito Federal ultrapassaram a barreira de mais da metade da população com dívidas atrasadas. Além do Rio, entram na lista Amapá, Amazonas e Mato Grosso.
Ainda representando o principal motivo para o endividamento no Brasil, os bancos e cartões de crédito contabilizaram redução de 0,32 ponto percentual desde janeiro de 2023.