Coronavírus derruba Bolsa e afeta economia real, com risco de paralisar produção de veículos

Anfavea anuncia que setor pode ter que parar a produção este mês por depender de fornecedores de autopeças da China. Salão do Automóvel é suspenso

Pessoas caminham com máscaras em frente de uma corretora em Tóquio.
Pessoas caminham com máscaras em frente de uma corretora em Tóquio.ATHIT PERAWONGMETHA / REUTERS (REUTERS)

A confirmação de nove casos de coronavírus no Brasil num período de dez dias derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O mercado abriu nesta sexta-feira sob a queda de 4,65% do fechamento desta quinta, quando o Ministério da Saúde confirmou que dois novos casos de coronavírus em São Paulo foram transmitidos localmente. Ao meio-dia, a queda na Bolsa chegava aos 4,87%, com a Petrobras derretendo 7%. Mas não foi só o mercado financeiro que sentiu o impacto do coronavírus. Na manhã desta sexta, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) admitiu o risco de paralisar a produção de veículos neste mês por problemas no abastecimento de autopeças que vêm da China, maior fornecedor do setor. A indústria brasileira de carros depende diretamente de empresas de Wuhan, local de origem do vírus.

É a primeira vez que o Brasil vê a ameaça concreta do vírus à economia real. O setor automobilístico representa 5% do PIB do país (ou 20% do PIB industrial). Qualquer problema nesse setor afeta diferentes cadeias de produção e por consequência, toda a economia e o humor de investidores. Por isso, a queda da Petrobras e de outras ações como o Viavarejo, que recuava 10%. “Haverá muita volatilidade a partir de agora e não só pelo coronavírus. Entramos num segundo momento desta crise, com a redução de taxa de juros nos Estados Unidos anunciada nesta semana nos Estados Unidos”, explica o analista André Perfeito. O Federal Reserve reduziu as taxas em sessão extraordinária de olho no coronavírus.

No último dia 3, o Banco Central no Brasil soltou um comunicado anunciando que monitora os impactos do surto na economia e que as próximas duas semanas iriam permitir uma avaliação “mais precisa dos efeitos do surto de coronavírus na trajetória prospectiva de inflação no horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, o BC indica que se houver impactos na inflação —por diminuição de produção de bens (é o caso dos carros) e serviços, por exemplo, o que pode elevar preços finais ao consumidor —a redução de juros é uma alternativa, que seguiria o modelo dos Estados Unidos. O juro menor reduz o custo do dinheiro e, em tese, movimenta o mercado de consumo.

A queda de juros, por consequência, contribui para a alta do dólar no país, encarecendo importações e a produção. Isso porque menos dólares entram no país quando os juros ficam menores. Com menos dólares no mercado, menos oferta de negócios lastreados no câmbio. Não por acaso o Banco Central tem intensificado as operações de venda da moeda americana para segurar a cotação da moeda americana. O dólar chegava a 4,65 reais nesta sexta.

Some-se à instabilidade gerada pelo coronavírus no mercado de câmbio a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta quinta de que o dólar poderia chegar a 5 reais se “muita besteira” fosse feita. Guedes disse isso na saída de um encontro com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) da qual participou também o presidente Jair Bolsonaro. Uma frase que fica deslocada para uma autoridade que precisa acalmar os ânimos, ainda mais depois da notícia do PIB de 2019 de 1,1%, com desaceleração de atividade no último trimestre. A queda nos últimos três meses do ano mostra que a atividade patinava antes do mundo sabe que um surto do coronavírus estava chegando a partir de Wuhan, na China.

A notícia da Anfavea chegou quase ao mesmo tempo em que o ministério da Saúde confirmou o nono caso de Covid-19, no Estado da Bahia, uma das regiões que mais recebem turistas do mundo todo. A nova paciente é uma mulher de 34 anos que esteve na Itália. Mas, com a informação de que duas pessoas se infectaram em São Paulo pelo contato com o primeiro paciente confirmado no dia 26 (um homem de 61 anos também vindo da Itália) ficou claro que outros casos vão aparecer em território brasileiro. (com Gil Alessi e Daniela Mercier)

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