CPI “blinda” executivo da Camargo Correia e usa técnicas de investigação “de gangsteres”
O deputado federal Jorge Solla (PT-BA) criticou a condução das investigações da CPI da Petrobrás, que em sessão nesta quinta-feira (11) se negou a votar requerimentos que ampliam a investigação para além do que já foi dito nas delações premiadas no âmbito da Operação Lava-Jato e, por outro lado, aprovou sem discussão apenas os requerimentos com o objetivo de desgastar o PT. O petista também criticou a tentativa de coação de delatores da Lava-Jato, com a injustificada quebra de sigilo e convocação de familiares.
“O uso político da CPI está tão desavergonhado que constrange todo o parlamento. O comando da CPI desistiu até de disfarçar suas intenções, o desrespeito às normas da Câmara hoje foi uma demonstração da total falta de compromisso com o regimento”, destacou Solla.
O petista lamenta que pela segunda vez o presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), considerou prejudicado os requerimentos de sua autoria que pedem cópias dos arquivos da Operação Castelo de Areia e convocam os executivos Pietro Bianchi e Saulo Thadeu Vasconcelos, da Camargo Correia.
Em matéria publicada nesta quinta, o Jornal Folha de S. Paulo revelou que Bianchi recebeu R$ 7,38 milhões da empreiteira entre janeiro de 2008 e dezembro de 2013, mesmo depois de ter sido preso na Operação Castelo de Areia. Segundo as investigações da Lava–Jato, o executivo teria usado parte deste dinheiro para o pagamento de propinas. Em 2009, Bianchi foi preso após a Polícia Federal apreender, em sua casa, planilhas comprovando pagamentos de R$ 178 milhões a políticos e partidos, em valores referentes a percentuais de 208 obras públicas executadas pela Camargo Correia.
“A imprensa avança mais nas investigações que a CPI. Eu apresentei estes requerimentos em 23 de abril, mas fatos relevantes como estes não interessam à CPI porque envolve partidos como o PMDB, PSDB e DEM. Eles também fecham os olhos para os requerimentos que convocam Júlio Camargo, que pagava propina pro PMDB e é réu confesso, ou até o policial Jayme Careca, que era quem levava o dinheiro”, contrapôs Solla.
O deputado recorda que entre as obras que Bianchi teria pagado propina, está a do Metrô de Salvador, licitada na época em que o atual vice-presidente da CPI, Antônio Imbassahy (PSDB), era prefeito da capital baiana. “Certamente ele não tem interesse nenhum em abrir estes arquivos, ouvir essas pessoas”, completou.
TÉCNICAS CRIMINOSAS – Entre os requerimentos aprovados nesta quinta-feira (11), oito quebraram o sigilo e convocaram para depor a esposa e as três filhas do doleiro Alberto Yousseff, mesmo sem que haja nenhum indício de envolvimento das quatro no esquema de corrupção.
“A técnica de coagir familiares para conseguir algo é utilizada pelo crime organizado, só gangsteres agem assim. Não há nenhum elemento para convocar elas, nenhuma investigação séria no mundo utilizaria deste expediente. E o curioso é que foram em cima logo do delator que disse ter pago propina pra Aécio Neves em Furnas, que envolveu Eduardo Cunha, que pagou propina a Sérgio Guerra, do PSDB”, disse Solla.