Crédito escasso dificulta produção de mel no Nordeste

Apícultores esperam há mais de um ano a liberação de um crédito no valor de R$ 1 milhão para a aquisição de equipamentos

Antonio Pita

As primeiras chuvas de dezembro nem sequer aliviaram o solo rachado do Cariri, mas já despertaram a esperança dos apicultores. O otimismo é também fruto da reconstrução de seus enxames, fundamental para garantir a retomada na produção. A estratégia é reproduzir as abelhas rainhas e gerar novas colmeias para aproveitar a temporada de chuvas. “Agora só depende da natureza”, diz o produtor Antonio Fernandes.

A técnica, que requer capacitação, não foi usada ao longo de 2013 para repovoar os enxames, e agravou a devastação com a estiagem prolongada.

Sem o repovoamento, ainda que as chuvas sejam fortes, não há abelhas suficientes para a produção de mel. “O apicultor se virou sozinho”, critica Fernandes, um dos 80 integrantes da Cooperativa dos Apicultores do Cariri (Coapis).

Sob uma árvore no quintal de sua propriedade, em Barbalha, ele reclama da demora para a aprovação de financiamentos específicos. Os cooperados esperam há mais de um ano a liberação de um crédito no valor de R$ 1 milhão para a aquisição de equipamentos e reforma para as casas de mel, local de armazenamento e conservação do produto.

Desde 2002, o Nordeste já recebeu mais de R$ 154 milhões em incentivos federais à apicultura familiar. Somente no Ceará foram mais de R$ 48 milhões. Com o financiamento, seria possível comprar caminhões para fazer a migração em massa das colmeias para regiões menos áridas, como o Piauí, explica Fernando. “Quem não tinha como migrar os enxames, como eu, perdeu tudo”, completa.

O curso para reprodução das abelhas rainhas é uma iniciativa do Sebrae em parceira com a Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece). Há também aulas sobre captura e migração de enxame e alimentação artificial. “Cada órgão tem uma ação, mas não é firme”, reconhece José Hugo de Oliveira, apicultor e técnico da Secretaria de Agricultura (Seagri).

Produção orgânica. A profissionalização é uma necessidade para alcançar todo o potencial da região, afirma o consultor Dario Chiacharini, que trabalha na Cearapi. Argentino, ele veio ao País contratado para reverter as perdas da empresa durante a seca. “É o único lugar em que se pode fazer produção orgânica”, explica, ressaltando o valor 30% mais alto do produto nos mercados da Europa e Estados Unidos.

“O Nordeste pode ultrapassar a China e ser o maior exportador do mundo”, completa. A qualidade é fruto do clima quente e da flora típica que favorece a produção das abelhas africanizadas. Na exportadora, a previsão para este ano é de produção acima das três mil toneladas – se a chuva se confirmar. “A seca foi uma situação que fugiu à normalidade, mas nem todas as lições foram aprendidas”, pontua o argentino, com ar de quem já conhece o País.

Fonte: Estado de S. Paulo

 

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