Cremepe denuncia possível caso de exercício ilegal da profissão na Mata Norte

Médico descobriu por acaso que seu nome e registro estavam sendo usado por outro homem no município de Camutanga
hospital leitos

Celso Ishigami

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) denuncia um possível caso de exercício ilegal da profissão no município de Camutanga, Mata Norte – fronteira com a Paraíba. A situação foi descoberta por acaso, pelo profissional que teve o registro e o carimbo supostamente falsificados. Apesar da desagradável surpresa, o médico Gustavo Vital disse que sua maior preocupação é com a saúde dos pacientes que vêm sendo atendidos pelo suspeito e cobra uma atitude das autoridades.

Não fosse por uma feliz coincidência, era pouco provável que Gustavo descobrisse que alguém se passava por ele. De plantão no Hospital Português na noite da última quarta-feira, o médico recebeu o telefonema de uma colega, que na ocasião dava expediente na Central de Leitos. “Ela ligou dizendo que tinha acabado de receber um pedido de transferência de uma paciente e que o solicitante havia se apresentado com meu nome e meu registro”, explica. “Ela só ficou na dúvida porque ele se identificou como Gustavo Pereira – meu último sobrenome – enquanto eu assino Vital”, acrescenta.

Ainda se recuperando do susto que veio com a notícia, Gustavo ligou para a unidade de saúde em Camutanga se identificando como médico da Central de Leitos e conversou com o suspeito, mostrando interesse na condição da paciente. “Quase não acreditei quando o ouvi apresentar meu nome e meu registro, mas continuei perguntando pelo estado da paciente em questão. Ele foi evasivo, mas consegui levantar alguns dados, como um número de telefone onde poderia encontrá-lo.”

De posse dos dados, o médico ligou para o Disque-Denúncia e para o 190 na esperança de que algo pudesse ser feito para que o suspeito fosse flagrado. “Infelizmente, a atendente do Disque-Denúncia foi grossa e ineficiente. Me desencorajando o tempo todo, ela chegou a explicar que meu caso seria avaliado em até 60 dias – isso se alguém pegasse, por se tratar de uma ocorrência no interior”, reclama. “Foi quando liguei para o 190 e fui informado que nada podia ser feito por não se tratar de uma emergência policial.”

No dia seguinte, Gustavo registrou o B.O. na Delegacia de Crimes Contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp) e de posse do documento, procurou o Cremepe. Ali, um dos conselheiros do Conselho, o médico Francisco Atanásio, o orientou a preencher alguns relatórios para se respaldar de possíveis problemas. Atanásio, entretanto, explica que não há muita coisa que o Cremepe possa fazer. “Não temos poder de polícia. O que podemos fazer é pressionar as autoridades. E já fizemos isso. Nosso departamento jurídico encaminhou o caso à SDS, com quem temos um acerto prévio sobre problemas desta natureza.”

Enquanto isso, Gustavo administra sua apreensão. “Agora, é esperar. Entreguei todos os documentos que me pediram – inclusive uma carta escrita de próprio punho”, conta. “Infelizmente, não há nada mais que eu possa fazer. Passado aquele susto inicial, minha maior preocupação agora é com os pacientes que estão colocando suas vidas em riscos sem saber, ao confiar num charlatão.”

Procurado pela reportagem, o titular da delegacia de Camutanga, o delegado Flaubert Leite disse não ter recebido qualquer notificação sobre o caso, mas que trataria o assunto como prioritário. “Temos que tomar alguns cuidados para afastar a possibilidade de se tratar de um homônimo, mas como ele apresentou o mesmo número de registro, é pouco provável. Caso se confirme, ele pode até ser preso em flagrante, não apenas pelo exercício ilegal da medicina, mas também por falsificar documentos.” (DP)

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