Crianças aprendem na escola a ter uma vida saudável
No Centro de Ensino Fundamental 2, na Cidade Estrutural (DF), frutas e verduras não são opcionais, todos os dias as crianças fazem refeições balanceadas e, nas salas de aula, aprendem a importância de uma vida saudável. A escola não é a única. A preocupação com os bons hábitos de alimentação e a prática de atividades físicas chegam cada vez mais às escolas públicas e particulares em todo o país. A fase escolar é importante, segundo o Ministério da Saúde, pois os hábitos adquiridos na infância e na adolescência são levados para a vida adulta.
No Brasil, segundo pesquisa divulgada pelo ministério, 51% da população acima de 18 anos estão acima do peso ideal. O problema que atinge os adultos começa na infância. Entre as crianças, o sobrepeso atinge 34,8% da faixa entre 5 e 9 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Uma coisa é certa, quanto mais precocemente a gente chegar ao ator, melhor. Trabalhar com as crianças é o ponto chave. Na infância, a gente trabalha a educação e não a reeducação, como na fase adulta”, diz a professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília Kênia Mara Baiocchi. Ela diz ainda que o que aprende na escola, a criança leva para a família, contribuindo para a mudança de hábitos dos pais.
Na escola da Cidade Estrutural, 1,7 mil estudantes foram pesados e examinados. A vice-diretora, Neide Saad, surpreendeu-se com os resultados. “Esperávamos mais desnutrição que sobrepeso, já que a escola está em uma região vulnerável, mas tivemos uma quantidade grande de sobrepeso”, informa. Para ela, a culpa está nas guloseimas: “Os alunos comem muita besteira. Eles já chegam à escola com um saco de balinha ou de salgadinho”.
Constatado o problema, a escola esforçou-se para resolvê-lo. No Distrito Federal, um grupo de nutricionistas cuida da alimentação das escolas públicas desde 2010. “As crianças que precisam ganhar peso estão ganhando, percebemos no dia a dia. As crianças com obesidade, nós convidamos para a educação integral, para que tenham uma alimentação mais saudável o dia todo, acompanhada de atividades físicas”, explica Neide.
Nem sempre a mudança de hábito é fácil. Vitor Linhares, do 5º ano esforça-se. “Gosto do prato principal com salada. Não gosto das verduras e legumes. Mas, aqui na escola, como mesmo assim porque quando elas vão colocar a verdura no prato fico sem graça de falar que não quero”, conta.
Nas escolas particulares, um acordo entre o Ministério da Saúde e a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) prevê uma série de ações de conscientização para melhorar a alimentação dos estudantes. Como nas privadas, as opções são as cantinas ou a merenda trazida de casa. Entre as ações do acordo está a distribuição de cartilhas aos cantineiros.
Os maus hábitos alimentares dos estudantes podem ser constatados na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense/2009). O levantamento mostrou que um terço dos alunos matriculados no ensino fundamental da rede privada consome frutas e hortaliças em cinco dias ou mais na semana. Os refrigerantes e frituras fazem parte da rotina alimentar de 40% dos alunos.
Segundo a presidenta da Fenep, Amábile Pacios, já é possível perceber os efeitos da iniciativa, pelo menos 80% das escolas oferecem opção saudável de lanche. “A intenção não é proibir o uso do alimento, mas educar para que a criança, a partir do que aprende na escola faça a opção correta onde quer que esteja”, explica.
A preocupação com a alimentação e a prática de exercício físico deve ser levada para dentro de casa, segundo o presidente da Associação de Pais de Alunos das Instituições de Ensino (Aspa-DF), o advogado Luis Claudio Megiorin. Pai de Luca, de 8 anos, e de Nicole, de 12, o advogado diz que alimentação saudável e exercício físico são prioritários em casa.
Normalmente, seguimos essa orientação em casa. É importante os pais estarem com os filhos em pelo menos uma das refeições”. Ele se preocupa também com outros hábitos das crianças. Ficar no computador ou no videogame o dia todo é proibido na casa de Megiorin.
Para aqueles que não contam com orientação em casa, a professora Kênia destaca o papel da escola. “Eu me preocupo quando não tem educação física na escola, brincadeira, atividade lúdica. Se em casa os meninos têm essa coisa da TV, de videogame, do sofá, que pelo menos na escola tenham um ambiente mais saudável”. Segundo ela, trata-se de buscar o equilíbrio. “Não tem problema ele ficar no computador, desde que haja um limite. Tem criança que fica oito horas, dez horas na frente de uma tela, isso provoca prejuízos”. Agência Brasil)