Aos 23 anos, Sergio Menezes faz parte das estatísticas de jovens da nova classe média que têm sido obrigados a interromper ou adiar o ingresso na faculdade por conta da crise. Morador de Nilópolis, na Baixada Fluminense, ele se viu obrigado a trancar o curso de Comunicação Social, no Rio, este ano, após perder o emprego.
— Eu trabalhei na secretaria de uma escola, como temporário, até janeiro, mas não fui efetivado. Só consegui ficar na faculdade até abril — relatou.
Apesar de ter conseguido um novo posto em maio, o jovem não voltou para a faculdade porque o salário de recepcionista não é suficiente para pagar as dívidas acumuladas, as despesas e o curso superior.
— Penso em recorrer a um financiamento no ano que vem — disse.
Até esse plano, porém, está sob a ameaça da crise. Com a redução de até 72% na oferta de vagas do Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal, a partir de 2015, muitos jovens não têm conseguido crédito para estudar, sendo obrigados a adiar o ingresso na faculdade ou a recorrer a empréstimos privados, em geral, com juros mais altos. Mas a opção não é uma saída fácil.
— O financiamento privado tem uma avaliação de crédito muito mais rígida. Muita gente que o pleiteia não consegue por estar com o nome sujo ou não ter renda suficiente — disse Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp).
Cristina Goldschmidt, professora de MBAs em Gestão da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica como a crise de agora vai reverberar no futuro:
— Quem não tem qualificação perde espaço no mercado de trabalho. A pessoa que perdeu a oportunidade de estudar, para retomar isso, levará tempo.
Consegui 100% do financiamento do Fies, e minha mãe foi a fiadora. No meio de 2015, ela foi demitida. No ano retrasado, meu pai já tinha sido. Eles são arquitetos e, até hoje, não conseguiram se reposicionar. No fim do ano passado, tive que parar o curso. Cursei três períodos pelo Fies e estou devendo um. O programa não cobriu.
Moradora de Niterói, Mariana Abreu, de 21 anos, precisou parar o curso de Jornalismo:
— Consegui 100% do financiamento do Fies, e minha mãe foi a fiadora. No meio de 2015, ela foi demitida. No ano retrasado, meu pai já tinha sido. Eles são arquitetos e, até hoje, não conseguiram se reposicionar. No fim do ano passado, tive que parar o curso. Cursei três períodos pelo Fies e estou devendo um. O programa não cobriu.
Entrevista com Willian Klein, executivo da Hoper, consultoria especializada em educação.
Até que ponto o desemprego impacta o ensino superior?
Há uma relação direta da renda familiar com o acesso ao ensino superior. Há mais de dez anos, aqueles que tinham acesso eram das classes média (tradicional), média alta e dali para frente. Você tinha pouca oferta de financiamento, poucas bolsas. Esse problema foi combatido nos últimos anos. O Fies e o Prouni foram importantes. Com o encolhimento desses dois programas e com a crise financeira, nossa perspectiva é que o país dê um passo atrás na inclusão no ensino superior.
Quais as consequências mais visíveis desse cenário?
Desde 2015, vemos uma diminuição no número de matriculados, o que claramente atinge quem não consegue pagar e, obviamente, não consegue financiamento. O empobrecimento da classe média tem como consequência direta a diminuição do total de matriculados. A recuperação será mais para o fim do ano que vem.
Os financiamentos próprios que algumas instituições têm oferecido atenuam o problema?
Sem dúvida. Dos alunos que perdem um pouco a renda, muitos vão conseguir pagar um pouco da faculdade. Estes vão valorizar a permanência nela. O que temos visto é que é possível resgatar em torno de 30% desses alunos. Mas, se a recuperação econômica do país demorar demais, mais de dois ou três anos, o aluno que topou um financiamento ou um parcelamento poderá ter dificuldades de permanecer com ele.