Da ‘supervalorização’ ao perfil físico: por que Forlán virou banco no Inter

clemer

O plano foi bem pensado, mas a execução deixou a desejar. É assim que pode se explicar a mudança de status de Forlán no Internacional. Contratado como o craque da Copa do Mundo de 2010, a estrela do Uruguai fora idealizada como a condutora ao título do Brasileirão dois anos depois. De sucesso em eventual Libertadores. E um garoto propaganda capaz de irrigar os cofres colorados com milhões dada a aprovação da torcida. Mas… o recente período de dez jogos como suplente, iniciado na gestão Dunga e mantido por Clemer, o faz ser avaliado com outros olhos. Há admissão de supervalorização no poder de marketing, um custo-benefício alto e restrições físicas. O que deixa o futuro aberto ao jogador de 34 anos.

Entender o presente, então, só é possível lembrando o passado. Oferecido pelo empresário Jorge Baidek, ex-zagueiro do Grêmio campeão mundial em 1983, na metade da temporada passada, Forlán logo entusiasmou a direção colorada da época. O vice de futebol Luciano Davi percebeu que contar com o melhor jogador do Mundial da África, autor de cinco gols e maior responsável pelo quarto lugar uruguaio, seria bom dentro e fora de campo. Com autorização do presidente Giovanni Luigi, que permanece no cargo, passou a negociar como seria a saída do Inter, de Milão, então clube do gringo. Precisou de três viagens entre Montevidéu e Porto Alegre para assinar o contrato. E ter planos. Muitos planos.

– Conversamos com o jogador e a sua família. Percebemos a vontade de atuar pelo Inter e, claro, estar mais perto do seu país. Nosso grande mérito foi ter contratado o craque da Copa sem pagar um centavo na rescisão. O que compensou o alto salário. Porém, não rendeu o quanto esperávamos – lembra o ex-dirigente ao GloboEsporte.com.

Alguns jogadores, talvez, tenham ficado com inveja do salário dele”
Luciano Davi, vice de futebol em 2012
e responsável por contratar Forlán

São dois motivos, na opinião de Davi. O primeiro: Forlán precisa de um velocista ao seu lado. O escolhido na época era Nilmar, que chegou a acertar o retorno ao Beira-Rio, mas o atacante preferiu escolher o Al-Rayyan. Problemas de relacionamento no grupo, então comandando por Fernandão, completaram o fracasso do segundo semestre de 2012, ano em que marcou cinco gols em 19 partidas, no qual o Colorado terminou em posição intermediária no Nacional.

– Pensamos nele para fazer o Inter voltar a ser campeão do Brasil (não o é desde 1979). E ter uma grande Libertadores depois. Mas não era uma contratação única. A ideia era vender o (Leandro) Damião (atual centroavante) e, com o dinheiro, contratar o Nilmar. Acertamos, depois ele recuou. Forlán sentiu falta de um time mais encaixado. E houve problemas no vestiário, não dele, mas do grupo com Fernandão. Alguns jogadores, talvez, tenham ficado com inveja do salário dele – completa Davi.

porto alegre chegada forlán inter aeroporto (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)
Forlán foi recebido como ídolo em 2012 pelos colorados (Foto: Diego Guichard/Globoesporte.com)

Situação bem diferente da imaginada. Forlán chegou a Porto Alegre em 7 de julho de 2012. Levou cerca de 3 mil colorados ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. Todos eufóricos com a contratação do craque. Com a certeza de que o que seria apresentado em campo iria compensar os quase R$ 700 mil mensais. A primeira impressão foi boa. Naquela semana, a Central de Atendimento ao Sócio registrou um ‘boom’: 675 novos associados foram registrados via uruguaio. A venda de camisetas, igualmente: ele desbancou D’Alessandro. Mas passou. Até porque a ideia da direção de lucrar explorando a imagem do atleta ruiu.

– Não conseguimos, poderia ter sido melhor. Foi uma experiência nova embora a gente tenha feito com outros atletas, como o D’Alessandro. A verdade é que, talvez, tenha havido supervalorização do Forlán. Esbarramos em dificuldades e pensávamos ser mais fácil – reconhece o diretor de marketing, Jorge Avancini, da época e atual homem responsável por comandar essa pasta do clube.

Diego Forlán já tem carteirinha de sócio no Inter (Foto: Diego Guichard/GLOBOESPORTE.COM)
Como parte de campanha, Forlán se associou ao
Inter (Foto: Diego Guichard/GLOBOESPORTE.COM)

Avancini cita o que definiu como ‘conceito das empresas de publicidade e mídia’: Forlán, na visão delas, era um personagem regional, fora do eixo Rio-São Paulo embora o nome internacional que tinha. Nesse contexto, inclusive no embalo da Copa das Confederações, neste ano, Ronaldo Nazário e Neymar centralizavam as atenções para divulgar produtos e marcas. Resultado: estrelou apenas um comercial, de uma marca de cerveja, ao lado de Thiago Silva. Tem contrato com a mesma empresa para outras duas propagandas a serem veiculadas na Copa do Mundo.

– Estabelecemos, em contrato, diferentes percentuais. Depende do caso. De quem traz o parceiro, se a imagem a ser explorada é do clube ou do atleta. Posso dizer que o valor foi considerável, mas o maior ganho que tivemos foi na imagem. Os retornos de mídia com a chegada dele ao clube, noticiário de sites, comentários ajudaram na internacionalização da nossa marca. Ele tem 6 milhões de seguidores em Twitter e Facebook. Eles passaram a conhecer o Inter – acrescenta Avancini.

Situação que faz Davi mudar de opinião:

– Não me arrependo do negócio, mas hoje a relação custo-benefício não compensa.

Idade tem os seus custos

Mesmo assim, o começo de 2013 foi promissor. Forlán foi o artilheiro do Gauchão, com nove gols. Deu pinta de que, enfim, confirmaria as qualidades que o fizeram ser contratado. Por quê? Graças a uma boa pré-temporada.

É possível que tenha havido supervalorização do Forlán. Esbarramos em dificuldades e pensávamos que seria mais fácil”
Jorge Avancini, diretor de
marketing do Inter

– Depois de chegar ao meio da temporada em 2012, ele teve tempo de se preparar. Mostrou todo o seu potencial físico. Fez todos os treinos físicos e técnicos de. Não faltou a um. Foi por isso que atuou bem. O nosso trabalho se refletiu até na seleção. Fez uma boa Copa das Confederações. Agora, a velocidade não resiste à idade. Ele manteve força e resistência, mas quem passa dos 30 anos perde um pouco da rapidez – diagnostica Paulo Paixão, ex-preparador do Inter, demitido com Dunga, e atual da Seleção do Brasil.

A mobilidade foi citada por Dunga para a reserva temporária. Argumentos parecidos com os de Clemer:

– Temos de trabalhar em cima das características dos jogadores. Precisamos de mais velocidade. Também nos faltou um pouco de força.

São 35 jogos nesta temporada. 17 gols marcados, o que rende o posto de vice-artilheiro. Perde para D’Alessandro, que tem 18 bolas na rede em 53 partidas. Forlán não dá entrevistas, então, é impossível saber o que pensa da situação. Mas Baidek fala:

Ano jogos gols média
2012 19 5 0,26
– 10º lugar no Brasileirão e titular absoluto
2013 35 17 0,48
– Campeão gaúcho, artilheiro com 9 gols
– Titular pela última vez em 26/09
(empate com o Atlético-PR)
– Não é titular há dez jogos
– Atual 11º no Brasileirão, a 6 do Z-4

– Posso falar que ele respeita a opção, mas quer jogar. Tem 18 jogos a menos e mesmo assim está perto do D’Alessandro no número de gols. É um profissional exemplar, jamais vai reclamar. Ele pensa no final do ano: ter o maior número de pontos do Inter e classificar o Uruguai à Copa. O futuro? A Deus pertence.

O contrato vai até metade de 2015. Houve sondagens do clubes do Canadá – Forlán tem o desejo de encerrar a carreira nos Estados Unidos. O Inter, necessitando de redução da folha salarial em 2014, não descarta negociá-lo. Mas não trata do assunto publicamente. Ao fazê-lo, entende que a situação é normal.

– Problema do Forlán não é falta de oportunidade. É opção técnica. Você insiste em quem confia – disse Marcelo Medeiros, atual vice de futebol colorado.

Forlán está fora do jogo de domingo. Se apresenta sexta à seleção. Nos dias 15 e 19 de novembro, o Uruguai decide com a Jordânia quem vai à Copa. Com a condição de reserva, afinal, a decadência também o acompanhou na Celeste. Forlán não é mais o mesmo.

 

Fonte: Globo

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