O “Ranking de Treinadores O Globo/Extra” apontou: Renato Gaúcho, Felipão e Mano Menezes foram, em ordem, os melhores no Brasil em 2018. É o retrato geral. Contudo, um olhar mais detalhado revela mais. A análise mês a mês ajuda a contar a história de uma temporada que teve suas glórias, mas repetiu mazelas de um calendário problemático.
Segundo o ranking, o melhor de janeiro foi Luiz Carlos Winck, do Caxias-RS. Sintomático de uma temporada que começa em marcha lenta para os times grandes. O principal feito do treinador foi vencer Inter e Grêmio pelo Estadual, ambos com times alternativos.
A trajetória de Winck em 2018 chama a atenção. O Caxias foi o segundo na primeira fase do Gaúcho e caiu nas quartas. Na Série D, foi eliminado na mesma fase. Só que ainda era julho. O clube entrou em recesso, e o técnico achou guarida no maior rival: Juventude, que disputava a Série B. Embora tenha sido rebaixado, ganhou voto de confiança da diretoria e segue no cargo.
—É uma relação de confiança que se constrói. Mas não é fácil. O futebol brasileiro é imediatista. Consegui quebrar isso — comenta Winck. — A gente trabalha sob pressão o tempo todo. Temos que ter nossas convicções e equilíbrio para nos mantermos trabalhando dentro do que pensamos.
Vencedor de 2018, Renato foi o melhor de fevereiro — quando o Grêmio ganhou a Recopa — e voltou a ser em maio, pela boa campanha na Libertadores e bom começo no Brasileiro. Vencedores de março e abril, respectivamente, Roger Machado, do Palmeiras, e Fábio Carille, do Corinthians, viraram coadjuvantes por razões distintas. O primeiro foi demitido em julho. O segundo foi fazer mais dinheiro na Arábia Saudita, em maio.
Junho e julho foram meses de Copa da Rússia. Por aqui, duas semanas em cada mês de Brasileiro. No primeiro, o Fla de Maurício Barbieri foi destaque. Em julho, mesmo roteiro para o São Paulo de Diego Aguirre. Foram meses de só uma competição. Quando outros torneios voltaram, os dois caíram de produção, e os técnicos foram demitidos. O rubro-negro, em setembro. O uruguaio, em outubro.
— O calendário poderia ser melhor distribuído. Em agosto, o Flamengo teve muitas decisões, mas não acho que este fator pesou mais. O time sofreu com entrada e saída de jogadores. Teve o gramado do Maracanã, muito ruim. E os jogadores também oscilam. Posso citar o Paquetá. Viveu momento muito bom e depois oscilou. Pelo desgaste e por ter sido negociado — diz Barbieri.
Em julho, outro treinador se destacou: Roberto Fonseca, então no Sampaio Corrêa-MA e, hoje, no Novorizontino-SP. O título da Copa do Nordeste no meio do Mundial russo deu pontos para ser um dos melhores do mês. Mas a glória foi ofuscada pelo calendário. Para completar, o mau começo na Série B o fez ser demitido 18 dias após a conquista.
Entre o Sampaio e o Novorizontino, Fonseca ainda comandou o Londrina. A passagem mostra que a pressão por resultado não é o único inimigo dos trabalhos de longo prazo. Embora não tenha atingido o acesso, com ele os paranaenses foram os melhores do segundo turno da Série B. Mas, sem condições financeiras de manter o time durante o Estadual, emprestaram comissão técnica e seis atletas para o time de São Paulo. O treinador assinou até o fim do Paulistão e deixou o retorno ao ex-clube acertado.
— Foi a forma para manter técnico e os jogadores mais caros — reconhece Fonseca. — Nós temos vida útil.
Primeiro a conseguir ser o melhor duas vezes consecutivas, Felipão usou agosto e setembro para conquistar a torcida e o Brasileiro. O bom desempenho garantiu o título que só veio dois meses depois. Em outubro, o bicampeonato da Copa do Brasil com o Cruzeiro deu a Mano Menezes o protagonismo. O nome já conhecido precedeu um dos mais surpreendentes: a escalada do Athletico no Brasileiro em novembro, culminando com o título da Sul-Americana este mês, deu a Tiago Nunes a liderança em novembro e dezembro, que o levou ao quarto lugar no ranking geral.