Os panfletos e inserções de campanha na TV têm um quê de Sessão da Tarde. Apelidos adotados por candidatos a vereadores no Rio têm quase um lado lúdico, que remetem a personagens da ficção ou de desenhos animados. Tem até “ogro” que saiu de uma pelada em Bento Ribeiro direto para as urnas.
O candidato Shrek, do PRD, foi batizado como Renato Eugenio Freire. Segundo ele, a origem do apelido foi numa partida de futebol no bairro do Subúrbio há mais de 10 anos. Na ocasião, Renato, antes de ser apelidado, reclamava do amigo Bolinha, que estava demorando para tocar a bola.
— Ele (Bolinha) quieto, a gente não tinha muita intimidade. E eu perturbando ele. Até que falou uma vez só: “Calma, Shrek”. Nisso o pessoal todo começou a rir, acabou o futebol, o pessoal caía na gargalhada — conta o candidato do PRD, de 48 anos, que viu o apelido pegar para além da pelada. — Nem eu lembro mais do meu nome.
Já Fernando Lima Ramos de Sousa, de 53 anos, vai às urnas como Zé Colmeia, concorrendo pelo PP. O apelido vem do tempo em que era fisioterapeuta do ex-jogador — atualmente senador pelo PL — Romário. Ele acompanhou o atleta durante suas passagens no Vasco da Gama, no Flamengo, no Fluminense e até durante a passagem do jogador pelo Catar, no Oriente Médio. O apelido vem justamente dessa relação, já que “andava para cima e para baixo” com o Baixinho.
— Eu era grandão, e o Romário pequeno. Então me colocaram o apelido de Zé Colmeia, e ele o Catatau. Mas como o Romário tinha vários (codinomes), pulou fora do apelido — conta Zé Colmeia, que atualmente se dedica à loja de móveis que herdou de seu pai.
Em outro bairro da Zona Norte, por outro lado, a semelhança física não foi a única coisa que pesou na escolha do apelido de Vanderson Courbassier Santos, de 60 anos, que concorre à Câmara Municipal pelo PDT.
Segundo o Tarzan de Vila Isabel, como Vanderson se apresentará nas urnas, além de ter sido “o cara mais forte da Tijuca”, por praticar halterofilismo, a origem do nome também se dá por proteger os animais, justifica.
— Tenho 41 gatos, 4 cachorros e 5 tartarugas em casa — conta o candidato Tarzan, que afirma que, no lado amoroso, já se separou da quinta “Jane” de sua vida. — A que eu mais amei me perguntou “Ou eu, ou os gatos”.
A disputa por uma cadeira na Câmara de Vereadores do Rio tem ainda Alexandre José Rodrigues de Oliveira, de 51 anos Nas urnas, ele se apresenta como Alexandre Oliveira Robin Hood, concorrendo pelo PRD.
Já Regina Celia Sequeira, de 64 anos, concorre como a super-heroína Superzefa. A candidata, que concorre pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, se apresenta como “a rainha do gado”. “Superzefa” é mais um codinome usado pela candidata, que tenta pela 11ª vez um cargo no Legislativo. Ela também já se candidatou com os apelidos Capitã Brasil, Capitã Cloroquina, Pokézefa, Zefa das Cavernas e Zefa a Emergente da Baixada.
Cabeção, Pé, Braço, Cabelo
Como se fosse uma aula, a Tia Jurema vai ensinar a “montar” um corpo humano. E não é necessário poderes mágicos para isso, muito menos de livros embaixo do braço: basta acompanhar a disputa eleitoral a vereador no Rio.
Vamos começar por Marcelo Barreto Santos, o Marcelo Braço (Cidadania), de 47 anos, que concorre pela primeira vez numa eleição. O candidato observa que um dos significados do apelido “Braço” pode ser entendido como “ser gente boa”. Mas a inspiração vem da aptidão física dos tempos em que malhava numa academia da Zona Norte, há mais de 20 anos.
— Eu era fortão — lembra.
Outro apelido das urnas é o do ator Serginho Hondjakoff Cabeção (Cidadania). Também estreante das urnas, aos 40 anos, ele se vale do nome do personagem que interpretou na novela “Malhação”, da TV Globo, no início dos anos 2000.
Para manter a urna “penteada”, há ainda variedade de opções. Paulo Roberto Schmitz, de 43 anos, se candidata como Paulo Cabelo (PSDB), enquanto Lázaro Bruno dos Santos Oliveira de Melo, de 48 anos, concorre como Topete (PRD).
Na disputa do pleito tem ainda Carlos Esequiel dos Santos, o Pé Reto (DC), de 56 anos, e Fabiano Soares da Silva, de 42 anos, conhecido como Fabiano Orelha, que concorre pelo PP.