Delação que envolve Cunha indica repasses de US$ 14 mi

Polícia Federal investiga 35 operações financeiras realizadas pelo lobista Julio Camargo com o operador do PMDB, Fernando Baiano

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, anuncia rompimento com o governo, durante entrevista - 17/07/2015
Polícia Federal investiga operações financeiras do lobista Julio Camargo e de Fernando Baiano para comprovar denúncias de propina contra Eduardo Cunha (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Um dos pontos de partida da Polícia Federal para tentar comprovar o recebimento de 5 milhões de dólares em propina pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um total de 35 operações financeiras feitas pelo lobista Julio Camargo, delator da Operação Lava Jato, com o operador do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, entre 2006 e 2007. As movimentações somam 14 milhões de dólares.

Os investigadores montaram uma tabela com base em informações e documentos fornecidos desde o ano passado por Camargo. Ela mostra as contas de dezesseis empresas offshores que eram indicadas por Baiano para receber sua parte da propina dos 40 milhões de dólares por dois contratos da Petrobras – eles ofereciam navios-sonda para exploração de petróleo, assinados na gestão do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró. O rastreamento de contas secretas dos dois investigados é fundamental para a comprovação da delação de Camargo.

“Por volta de julho de 2006, os denunciados Fernando Baiano e Nestor Cerveró – que era diretor da área Internacional da Petrobras na época – (…) cientes da ilicitude de suas condutas, em razão da função exercida por este último, solicitaram, aceitaram promessa e receberam, para si e para outrem, direta e indiretamente, vantagem indevida”, registra a denúncia da força-tarefa da Lava Jato que embasou a abertura da ação penal contra Camargo, Cerveró e Baiano, entre outros, por corrupção e lavagem de dinheiro.

A propina viria de dois contratos: a construção do navio-sonda Petrobras 10000, para perfuração de águas profundas na África, e outro do projeto do navio-sonda Vitória 1000, para exploração de petróleo no Golfo do México.

 

Os dois contratos foram assinados com o estaleiro coreano Samsung Heavy Industries por 586 milhões de dólares e 616 milhões de dólares, respectivamente. As propinas correspondentes seriam de 15 e 25 milhões de dólares, pela ordem. Camargo confessou ter pago a propina de 40 milhões de dólares, por meio de contas secretas de Baiano no exterior e também pelo doleiro Alberto Youssef.

A Lava Jato diz que os pagamentos do estaleiro deveriam ser feitos para a offshore Piemonte Investment Corp. em uma conta no Uruguai. Dois depósitos nesse sentido foram detectados: 6,2 milhões de dólares e 7,5 milhões de dólares, efetuados em setembro de 2006 e março de 2007. “Exatamente nas datas previstas no contrato de intermediação entre as empresas Samsung e Piemonte”, afirma a força-tarefa.

Cobrança – Na última quinta-feira, Camargo revelou pela primeira vez nos autos da Lava Jato que, em 2011, uma parcela final de 10 milhões de dólares deixou de ser paga pela Samsung, o que gerou uma cobrança inicialmente feita por Baiano, em nome de Cunha, e depois pelo próprio deputado, em encontro que teria ocorrido em um prédio comercial do Rio. Para a Lava Jato, a cobrança feita em 2011 indica que, desde o início do esquema fechado por Cerveró e Baiano com o estaleiro, Cunha tinha valores a receber do esquema.

Cerveró e Baiano estão presos desde o início do ano, em Curitiba, sede das investigações da Lava Jato que não envolvem políticos com foro privilegiado. Cunha é investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal por envolvimento no esquema da Petrobras.

Cunha –Todos os envolvidos nas propinas dos contratos de navios-sonda negam relação com o caso e contestam a versão de Camargo. Desde a divulgação da delação do lobista, Cunha afirma não ter envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras e alega ser vítima de perseguição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de integrantes do governo federal. O presidente da Câmara também fez críticas à condução do caso pelo juiz federal Sérgio Moro, sob alegação de que teria desrespeitado a prerrogativa de foro – o magistrado disse não poder impedir que testemunhas falem nos autos.

Nélio Machado, advogado de defesa de Fernando Baiano, sustenta que o cliente desconhece os fatos relatados por Camargo e nega ter contas no exterior. Defensor de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro nega que o cliente tenha recebido propina pelos contratos dos navios-sonda.

Fonte: Estadão 

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