Democracia Informatizada
Se você não estiver gostando do filme, sai do cinema antes que a película chegue à metade. Se a comida não está com bom tempero, abandona o prato quase pela metade. Se o programa de tv não lhe agrada, muda de canal ou desliga o aparelho. Se o seu time leva 4 gols ainda no primeiro tempo, sai do estádio antes do início do segundo tempo.
Se a empresa que presta manutenção ao seu elevador não age da forma combinada, você rompe o contrato com ela e ainda luta para receber de volta os valores pagos anteriormente. Se o seu funcionário não trabalha com responsabilidade, você o manda embora sem remorso.
Se o político que você ajudou a eleger demonstra ser mau caráter e é envolvido em maracatuaias e desvios de verbas públicas, você não pode livrar-se dele antes do final do mandato. Não tem como recuperar o dinheiro desviado. Ele escapole pelas brechas das Leis(?) que ele mesmo ajuda a escrever. E ainda volta a concorrer ao posto sem cerimônia. E muitas vezes é recolocado no cargo (um povo que recoloca Maluf e mais 7 “defuntados” do mensalão em cargos públicos, merece o padrão de vida que tem).
E mesmo que você vote em alguém em quem acredita, sabe que neste cenário de lama que nos envolve, o sistema corrupto continuará em vigor a todo vapor, pois não basta substituir um ou dois no prato de lama composto por mais de 500 parlamentares.
Os dois ou três novos são engolidos ou entram no esquema enquanto para nós continua tudo igual, ou seja: pagar as mordomias dos pilantras e nada receber de volta para a comunidade. Tem de haver uma faxina contundente seguida de uma desinfecção com produtos tóxicos para eliminar possíveis ovos de serpentes abandonados pelos enxotados.
Numa época em que transações bancárias são realizadas pela internet através de senhas individuais, o IR é enviado pela rede e o TSE afirma que o nosso sistema eleitoral é à prova de fraudes (?), podemos convidar estes competentes técnicos a desenvolverem um sistema com as seguintes virtudes que nos permita entre outras:
a) votar sem sair de casa;
b) consultar o BD para lembrarmos em quem votamos nos 4 últimos pleitos;
c) acompanhar as atividades desenvolvidas pelo sujeito que elegemos como nosso procurador;
d) decidir pela continuação do elemento no cargo ou pelo seu expurgo uma vez por ano (um mero referendo).
e) Prever uma tecla: NENHUM DELES – QUERO OUTRA ELEIÇÃO.
Na verdade, a figura do voto NULO deve ser técnica, em função de uma falha do sistema ou de digitação errada do eleitor. O botão que deve ser colocado no painel é o … NQN. Ou seja:
Não Quero Nenhum. Ou outra sigla mais fácil de memorizar.
Votar NULO agora, pela legislação duvidosa em vigor, talvez não impeça termos os mesmos meliantes no poder por mais 4 anos.
Mas por um instante imaginem a seguinte situação glorificante:
100 milhões de eleitores aptos.
99 milhões votando NULO.
501 mil no primeiro colocado.
400 mil no segundo.
99 mil no terceiro.
O primeiro assume. Tudo bem. Mas como se sentirá um elemento estando no comando e sendo rejeitado por 99,49 % dos que estão à sua volta?
Como você se sentiria no comando de um setor com 200 pessoas onde apenas uma ou duas votaram e fizeram você se tornar líder por um descuido de uma norma?
Deixo a palavra com o competente grupo do fórum do voto-e sobre as questões técnicas palpáveis (já que sonhos são para poetas), onde grandes conhecedores de informática e mestres juristas devem levantar os obstáculos para que possamos nos aproximar da proposta efetuada.
Referendo de sucesso será o que permitir expurgo no Congresso!
Haroldo P. Barboza é Professor e Escritor. Autor de “Brinque e cresça Feliz” e “Sinuca de Bico na Cuca”.