Depoimentos de caso Colombiano são marcados por tensão

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Os últimos dois depoimentos da audiência de instrução do processo que apura o assassinato do ex-tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários da Bahia Paulo Colombiano e de sua esposa, Catarina Galindo, foram marcados por grande tensão. A segunda testemunha a depor, o irmão da vítima, Wilson Colombiano Matos Santos, teve breves discussões com Gamil Föppel, advogado de defesa de Claudomiro Ferreira Santana e Cássio Ferreira Santana, proprietários da empresa Mastermed e acusados pelo Ministério Público estadual (MP-BA) de serem os mandantes intelectuais do crime. Em vários momentos, Matos respondeu às perguntas contundentes do advogado com questionamentos retóricos e ilações, de forma pouco objetiva e muitas vezes irônica, sendo necessário, em todas as vezes, a intervenção do juiz que presidia a sessão, Paulo Sérgio Barbosa Oliveira. Questionado por Föppel sobre as diferenças entre o depoimento que prestou no início das investigações e as declarações dadas na audiência desta quarta, Matos retrucou: “Eu não tenho acesso ao meu depoimento, como você. Eu teria que ter um computador na minha cabeça para chegar aqui e reproduzir fielmente o que falei lá.” O defensor pediu objetividade e respeito e demonstrou irritação com a atitude do depoente. “Eu não quero que o senhor seja nada. O senhor está aqui colaborando com a Justiça e eu só estou fazendo o meu trabalho. Estou tratando o senhor com respeito e espero ser tratado do mesmo modo”, rebateu Föppel. O juiz pediu que Matos respondesse apenas sim ou não e garantiu a palavra ao causídico. O irmão de Colombiano se justificou, ao afirmar que sua “natureza não é de ficar só respondendo” e que o advogado estaria o tempo todo, através de suas perguntas, fazendo “insinuações” ao seu respeito. Devido aos diversos momentos de tensão entre o advogado e o depoente durante a sessão, Föppel chegou a afirmar que o interesse da testemunha no caso estaria prejudicando a imparcialidade do processo. “Estou aqui sendo ultrajado algumas vezes e aguentando calado. É preciso garantir a urbanidade necessária às relações processuais”, reclamou. Em seu depoimento, Matos afirmou que uma parte do dinheiro pago ao plano de saúde da Mastermed retornava para o sindicato e era distribuído entre os dirigentes da entidade. Segundo ele, a soma partilhada era de cerca de R$ 700 mil. Ele também contou que a instituição possuía inúmeros débitos sem a devida comprovação dos serviços prestados e que seu irmão decidiu que pagaria por eles. A partir daí, o ex-tesoureiro teria começado a sofrer pressões da diretoria da instituição  a maioria delas da parte de Manoel Machado, presidente do sindicato à época. “Ele [Paulo Colombiano] enfrentou a diretoria que queria manter o plano de saúde e as falcatruas”, relatou.
O depoimento do ex-diretor de base da instituição, José Damião Jesus Santos, também foi marcado por nervosismo. Gamil Föppel baseou suas perguntas nas declarações dadas por Damião no início das investigações – o ex-diretor concedeu cinco páginas de depoimento em que descreve, de forma detalhada, ameaças e ataques que Colombiano teria sofrido, bem como irregularidades que ocorriam no sindicato e declarações polêmicas dadas pelo ex-colega. “O senhor deu um depoimento tão extenso e não se lembra de nada do que disse? O senhor só se lembra da questão do plano de saúde?”, questionou Föppel. Nesta quarta-feira (23), Damião alegou não se lembrar de muitas informações que forneceu, inclusive do relato em que contou que homens ligados ao deputado estadual J. Carlos (PT) espancaram o ex-tesoureiro na Rótula do Abacaxi e que esse tipo de prática era comum entre os membros do sindicato. Damião se contradisse em alguns momentos e alegou desconhecimento dos assuntos em resposta a muitas perguntas. No entanto, confirmou lembrar da polêmica dos planos de saúde, apesar de dizer que toda a diretoria concordava com a troca do plano da Mastermed. Assim como Matos, Damião alegou não saber das reuniões em que Claudomiro teria colocado uma arma na mesa para coagir Colombiano. Depois de ouvir três testemunhas de acusação, o magistrado suspendeu a sessão. A próxima audiência de instrução acontecerá na manhã do dia 1º de novembro, também no Fórum Criminal de Sussuarana. Paulo Colombiano e Catarina Galindo foram mortos no dia 29 de junho de 2010, quando retornavam para casa, no bairro de Brotas, em Salvador. Um homem em uma moto disparou vários tiros à queima-roupa contra o casal. (BN)
 
 

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