Descaso com deficientes: elevador de agência do INSS responsável por perícia não funciona há meses

O professor Jorge Crim, de 62 anos, que é cadeirante, passou pela humilhação de precisar subir sentado a escada da agência do INSS da Av. Marechal Floriano, no Centro do Rio. O elevador do prédio não estava funcionando. Foto: Reprodução

O professor Jorge Crim, de 62 anos, que é cadeirante, passou pela humilhação de precisar subir sentado a escada da agência do INSS da Av. Marechal Floriano, no Centro do Rio. O elevador do prédio não estava funcionando. Foto: Reprodução Foto: Agência O Globo
Elenilce Bottari
O professor Jorge Crim Valente aprendeu desde cedo a lidar com a paralisia infantil que contraiu aos três anos. Ainda assim, na manhã de quarta-feira, foi surpreendido pelo descaso. Mestre em Química, Jorge Crim tem 60 anos e quarenta anos de magistério e, desde janeiro, tenta dar entrada na aposentadoria por invalidez. Morador de Santa Cruz, ele só conseguiu agendamento na agência do INSS na Avenida Marechal Floriano, no Centro, distante cerca de 70 quilômetros de sua casa. Quando chegou lá, uma faixa amarela indicava que o único elevador do prédio estava quebrado e que teria de subir de escadas:

— Naquela vez eu pense, que azar. Vi três senhoras sendo carregadas para fazer o exame, mas eu hoje peso mais de cem quilos — explicou.

Esperou meses até que no último dia 10 voltou à mesma agência, em horário e local agendados pelo próprio INSS. Desta vez, foi acompanhado pela mulher Laíse e pelo amigo Maurício Júnior, um homem grande e forte, para o caso de precisar de “uma ajudinha” . De casa até a agência foram três horas de engarrafamentos. Chegando lá , a faixa não estava mais no local, mas o elevador permanecia enguiçado:

— Quando vou a um bar, sempre ligo antes pra saber se o ambiente é plano, mas não poderia imaginar que um lugar destinado a realização de perícia de pessoas com deficiência, funcionaria no segundo-andar e que não teria elevador — lamentou.

Pior do que o defeito do equipamento, foi a postura de servidores. Primeiro ofereceram a ele um novo agendamento, o que o obrigaria a aguardar novamente por meses pelo direito de se aposentar. Depois um segurança se ofereceu para levá-lo em uma cadeira, mas em nenhum momento, os médicos peritos, se deram ao trabalho de descer para atendê-lo:

— Eu peso mais de cem quilos. Tinha tudo para acontecer um acidente ali. A escada tem três lances, curva de 90 graus, onde os degraus ficam estreitos. Então meu amigo disse “vamos? eu te ajudo”.

Assim que Jorge Crim começou a se arrastar pelos degraus, um funcionário partiu para cima da mulher dele para reclamar que estavam ali para “aparecer”, para jogar “um vídeo no facebook”:

— O funcionário começou a reclamar e houve uma reação do público presente que tomou minhas dores. Uma outra servidora chegou a dizer que eu poderia pegar uma doença porque naquela escada passa muita gente enferma.

A médica que não desceu as escadas para socorrê-lo, reagiu ao que considerou um protesto. Embora agendado para às 10h, Crim foi o último a ser atendido.

— Eles acharam que era um protesto. Não era. Eu apenas não queria ter que passar por tudo isto de novo. É sacrificante, é indigno. Não precisa nem ser especialista para ver meu problema, basta olhar para minhas pernas. Eu não quis provocar tumulto, mas acho que as pessoas reagiram porque existe hoje um enorme descrédito com tudo. Uma insatisfação geral — avaliou o professor.

Em nota, divulgada no início da noite, o INSS esclareceu que, diante da dificuldade para a realização da perícia na agência Centro, pela inatividade do equipamento de acessibilidade, foi oferecida ao interessado a alternativa de transferir o exame para outra unidade próxima, mas ele preferiu não alterar o local.

“Ele seria, então, auxiliado no translado para o pavimento acima, mas também recusou e optou por subir as escadas por esforço próprio. O reparo do equipamento foi solicitado e será concluído o mais breve possível.”, concluiu a nota.

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