Descaso e abandono em Dormentes/PE

A única cisterna que abastece a comunidade está vazia e cheia de lixo

Grazzielli Brito – Ação Popular

O município de Dormentes, Pernambuco, é espelho da realidade de vários outros pequenos municípios do sertão nordestino. A seca aflige a vida do sertanejo, enquanto os poderes públicos viram as costas para esse sofrimento. A corrupção é sempre adorno nessas situações de abandono e descaso por parte das autoridades públicas e em Dormentes não é diferente. A cidade foi recentemente notícia pela gravação de vídeos onde o candidato a prefeito, Roniere Macedo Reis (PSB), que tem apoio do atual prefeito o também socialista Geomarco Coelho, foi flagrado comprando votos e apoio político de dois candidatos a vereador do município.

Além de ser instalada no meio do passeio, a posteação não tem iluminação

Como é de se esperar ao visitar o município as pessoas se deparam com um quadro devastador: praças descuidadas, falta de água, de iluminação, ausência de atendimento médico, escolas sem condições de funcionamento. Uma situação lamentável e uma população carente.

Dificuldades e falta d’água

Maria Valdelice do Amor Divino, moradora do Bairro das Populares, tem oito filhos, seis netos e conta a dificuldade em que vive. “A questão de moradia aqui é terrível. Tenho filhos que só não estão morando na rua porque moram de favor na casa de parentes, enquanto aqui no bairro tem casas que estão abandonadas, nem foram terminadas, nem o bolsa família eles conseguem fazer. Ficamos aqui quatro, cinco dias sem água. Até as crianças deixam de ir pra escola devido à falta de água. À noite não posso sair de casa por conta da escuridão”, relatou.

Maria Valdelice

Maurício Barbosa descreve a dificuldade que os moradores de Dormentes passam sem água até mesmo pra beber. “Aqui eles vendem o tambor de água de 20 litros por cinco reais, é dessa água que a gente bebe. Se não tiver dinheiro pra comprar tem que ir buscar na COMPESA. Aqui tem até uma cisterna, mas a água não serve, porque é uma imundice, ela fica aberta, tem gente que entra pra tomar banho”, conta Maurício que revela também que o único açude que tinha na cidade a administração municipal repassou para uma empresa explorar o barro e retirar água pra fabricar telha e tijolos.

O restante da água deste açude é explorada por uma empresa particular

A situação da cisterna também deixa Seu Lourival Ribeiro indignado. “A gente chega aqui pra pegar água nessa cisterna, tem até calcinha dentro, absorvente de mulher. É uma vergonha e tem gente que leva essa água pra casa pra beber. Depois a gente vê por aí ‘Água é vida’, como se tem pra uns e outros não?”, refletiu Seu Lourival.

Lourival Ribeiro

Na minha casa tem encanação de água, mas só sai o vento. É a coisa mais difícil aparecer água, uma vez no mês, e todo fim de mês tem recibo de água, falo com o menino que tira a leitura e digo a ele eu não vou pagar, porque não vou pagar o que não tenho”, disse Seu Lourival com a firmeza de sertanejo que é.

Aprendendo a votar

E na simplicidade de suas palavras fez reflexões sobre sua vida humilde e a política local. “Aqui não tem prefeito, o que tem é um ‘entulho’. Votei nele e ensinei meus filhos a votarem, mas já disse lá em casa que não votem mais, nem em quem ele apoiar, porque ele promete e não cumpre, somos pobres, mas não somos bestas. Até um terreno eles me prometeram, sem eu pedir e nada. Ele e o vice são homens de promessas vazias, enganam o povo enquanto estamos morrendo de sede”, disse Seu Lourival.

Praça abandonada

“Eles não tem vergonha de passar oito anos no poder e ficar pedindo voto ao povo nesse matagal, numa imundice dessa. Nada fez por aqui, o que fez foi derrubar o barraco dos pobres. Eles querem receber imposto, mas energia não tem, água não tem, médico não tem. Aqui nesse Bairro das Populares fizeram o posteamento no meio da rua e sem luz. Pode isso? Tem não sei quantos anos que é pra colocar uma caixa d’água, fizeram abaixo assinado e nada. A população perdendo tudo, as muriçocas tomando de conta da gente. Isso é vida?”, declarou emocionado Seu Lourival.

Sem aterro sanitário, o chorume do lixão é lançado em riachos que abastecem açudes

A sensação de impotência, de abandono é reforçada na fala de Maria Valdelice. “Não tem o que fazer pra melhorar essa situação, tem que ficar quieto. Muitas famílias passam necessidade até mesmo fome”. Mas como bem disse Euclides da Cunha, ‘O sertanejo é antes de tudo um forte’, e a própria Maria Valdelice aponta um caminho de esperança. “Mas tem eleição agora, tem que acreditar que exista uma pessoa que possa olhar por nós, e votar nela. Né isso?”, questionou Valdelice convidado a todos para uma reflexão importante.

A reportagem tentou contato com o prefeito Geomarco Coelho (PSB) e não conseguiu.

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