Descoberta de como ocorre o transporte celular leva o Prêmio Nobel de Medicina
A descoberta de como as células organizam seu sistema de transporte rendeu nesta manhã o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina aos pesquisadores norte-americanos James Rothman e Randy Schekman e ao alemão Thomas C. Südhof. Trabalhando de modo independente no princípio, os três cientistas descobriram a maquinaria que regula o tráfego de vesículas, o que os organizadores do Prêmio Nobel chamaram de “maior sistema de transporte das nossas células”.
É esse sistema que está por trás, por exemplo, do transporte de insulina no corpo. Após a substância ser produzida e liberada no sangue, sinais químicos (ou neurotransmissores) são enviados de uma célula nervosa a outra. E as moléculas são transportadas pelas células dentro de pequenas bolhas – chamadas de vesículas. O trio, em estudos complementares, observou o que é preciso funcionar para que essa carga seja entregue no lugar certo e na hora certa dentro ou fora da célula.
Schekman, hoje na Universidade da Califórnia em Berkeley, descobriu, nos anos 1970, um conjunto de genes necessários para esse tráfego. Trabalhando com leveduras, ele identificou três classes de genes que controlam diferentes facetas do transporte celular. Mutações nesses genes não deixam o sistema funcionar corretamente. Rothman, atualmente professor da Universidade Yale, já no fim dos anos 1980, começo dos 90, estudando mamíferos, desvendou o maquinário de proteínas que permitem que as vesículas se fundam com os seus alvos para descarregar a substância que elas estão levando.
Por fim, Südhof, que desde 2008 é professor da Universidade Stanford, investigando como os neurônios se comunicam dentro do cérebro. revelou nos anos 90 os sinais químicos que instruem as vesículas a liberarem a carga com precisão.
O trabalho dos três permitiu entender de modo completo esse processo fundamental na fisiologia das células, por meio do qual a carga – que podem ser hormônios, neurotransmissores, enzimas – é entregue com precisão dentro ou fora da célula. O mecanismo, como concluíram os estudos, é antigo em termos evolutivos, e funciona nas mesmas bases em organismos tão diferentes quanto leveduras e os seres humanos. Sem ele, as células colapsariam. Perturbações nesse processo podem levar a doenças neurológicas, diabetes e desordens imunológicas. (Estadão)