A desembargadora Marilia Castro Neves, do TJ do Rio de Janeiro, acusou Marielle Franco no Facebook de estar “engajada com bandidos”.
“A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’, ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelhoe descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa ‘longe da favela’ sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava”, escreveu.
Criticada, apagou a postagem.
À coluna de Mônica Bergamo, tentou se explicar.
Deu a sua opinião como “cidadã” (um clássico bastante utilizado por gente da estirpe de Deltan Dallagnol) na página de um colega já que não atua na área criminal.
“Eu postei as informações que li no texto de uma amiga”, afirma.
“A minha questão não é pessoal. Eu só estava me opondo à politização da morte dela. Outro dia uma médica morreu na Linha Amarela e não houve essa comoção. E ela também lutava, trabalhava, salvava vidas”.
A doutora Marília é atuante nas redes sociais. Antipetista convicta, claro. Admiradora de Sergio Moro, a quem classifica como “juiz templário”, sabe Deus o que isso significa.
Em 2017, comentou sobre um “excelente e aprofundado estudo que o autor, um advogado, fez sobre as relações íntimas que a esquerda mantém com o Crime Organizado. Leitura obrigatória para os que se dizem ‘esquerda moderada’, porque podem ser confundidos com ‘criminosos moderados’”.
Marília é uma fervorosa combatente contra a corrupção, mas ficou famosa em 2014 por motivos outros: mandou soltar o chefão da chamada “máfia dos ingressos”, Raymond Whelan.
O bando operou em quatro Copas.
Abaixo, a matéria do Uol:
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou pedido de habeas corpus pedido pela defesa do inglês Raymond Whelan, que está foragido e que é acusado de abastecer quadrilha internacional de cambistas. O grupo mafioso agiu nas últimas quatro Copa do Mundo e é chefiada pelo franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, que está preso.
Whelan teve prisão preventiva decretada na quinta, mas fugiu antes de a polícia chegar, e seu paradeiro é desconhecido. Ex-diretor-executivo da Match, única empresa autorizada pela Fifa a comercializar ingressos, Whelan usava seu poder para facilitar na distribuição irregular de ingressos, concluiu a Justiça.
“A desenvoltura do envolvido no agir delituoso está a demonstrar audácia e destemor quanto à força coercitiva da legislação em vigor, especialmente se considerarmos que o mesmo encontra-se foragido”, concluiu a desembargadora Flavia Romano de Resende.
“Do conjunto de indícios presentes nos autos emergem sérias e graves suspeitas de comportamento delituoso incompatível com a pretendida liberdade”, acrescentou a desembargadora do TJ do Rio.
O inglês havia sido preso provisoriamente no início da semana, mas teve habeas corpus deferido pela desembargadora Marília de Castro Neves Vieira. Na ocasião, a desembargadora alegou que Whelan não oferecia riscos, pois documentos e objetos pessoais haviam sido apreendidos pela polícia, “não havendo necessidade da manutenção da medida restritiva, razão pela qual a revogo liminarmente”, apresentou trecho da decisão da magistrada.
De volta às ruas, Whelan teve prisão preventiva decretada na quinta-feira. Mas o inglês fez o check-out no Copacabana Palace antes de a polícia entrar. O hotel informou que não colaborou com a saída do diretor da Match.
Segundo a polícia, Whelan fugiu para não ser preso mais uma vez. O delegado Fábio Barucke. titular da 18ª Delegacia de Polícia, chegou ao hotel para cumprir o mandado de prisão de Whelan por volta das 16h30.
As câmeras de segurança flagraram o inglês deixando o local pela porta dos fundos às 16h15. Em contato com o UOL Esporte, o promotor Marcos Kac disse que o empresário já é considerado foragido por não ter sido encontrado pela Justiça. Até mesmo a Polícia Federal pode ser acionada na tentativa de encontrá-lo.
Operação Jules Rimet
A operação desbaratou a máfia dos ingressos foi batizada de Jules Rimet, em alusão ao nome do primeiro presidente da Fifa. Ela é resultado de mais de um mês de investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro e Ministério Público.
Na operação, quase 200 ingressos da Copa já foram apreendidos na ação, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidades e até a membros de comissões técnicas. Dez ingressos, inclusive, eram reservados as integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.
Segundo Polícia Civil, a quadrilha vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo. Na Copa, o grupo poderia faturar R$ 200 milhões.
A polícia informou que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.