Na última quarta-feira, Ivana foi ao Centro de Referência Estadual de Assistência à Saúde do Idoso (Creasi), para retirar a medição de sua mãe, Maria do Rosário Ferreira, de 74 anos, diagnosticada com Alzheimer há dois anos. Principal cuidadora da mãe, Ivana conta que tem sido um processo com vários aprendizados, que exigiu a reorganização da rotina familiar, e muitas adaptações. No começo, a família achou que os episódios de esquecimento e as mudanças de comportamento de dona Rosário eram por conta da depressão após a morte do marido devido à Covid-19.
Mas mesmo tratando a depressão, os sintomas continuaram, confirmando o diagnóstico e exigindo mudanças para a mãe, uma professora aposentada que morava sozinha, e para seus três filhos. Atualmente, eles se revezam, junto com cuidadoras, na atenção integral à idosa. “Cheguei a morar com ela mas não deu certo. Eu adoeci, literalmente, mas depois de muita orientação envolvi meus irmãos, aluguei um apartamento perto e agora chegamos em um formato que está funcionando”, conta Ivana, lembrando que a mãe só aceitou o acompanhamento noturno após quatro quedas próximas.
Funcionalidade – Dona Rosário não é paciente do Creasi, mas poderia ser, já que o centro localizado na Avenida ACM recebe idosos em risco funcional ou fragilizados. Mas ela utiliza um dos serviços do espaço, a Farmácia Especializada, que é voltada para pacientes usuários do SUS, internos e externos. Os idosos chegam ao centro encaminhados pela rede básica pública de saúde, inscritos via plataforma telecreasi ou telesaúde.
Segundo a diretora do Creasi, Helena Patarro Novais, atualmente a primeira consulta tem uma espera de 45 a 60 dias. Depois do atendimento com a equipe de especialistas, que inclui geriatra e neurologista, é montado um plano de cuidado, que pode incluir acompanhamento com psicólogo, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, entre outros profissionais. E que é extensivo aos cuidadores. “Sabemos que o processo é muito sofrido e os cuidadores precisam muito de suporte”, afirma Helena.
Terapeuta Ocupacional de formação, Helena destaca que a meta no tratamento de Alzheimer, doença que não tem cura, é combinar medicamentos e terapias para retardar sua progressão. Ou seja, manter o paciente por mais tempo na fase inicial, quando ainda não foram comprometidas as funções básicas como tomar banho, se vestir ou se alimentar sozinho. Por isso, destaca, é importante um diagnóstico precoce. Atualmente, segundo o Relatório Nacional de Demência, divulgado na semana passada pelo Ministério da Saúde, esse diagnóstico demora em torno de dois anos para acontecer no serviço público.
“Acho que houve uma melhora, mas ainda não o suficiente. Precisamos avançar na capacidade de diagnóstico, principalmente do médico que está no posto de saúde. Os profissionais, ao atender um idoso com queixas de esquecimento, precisam investigar o que está acontecendo, não naturalizar”, diz Helena. Ela destaca que neste mês de setembro, que marca a conscientização em torno do Alzheimer, foram realizadas uma série de ações para melhorar essa capacidade de diagnóstico nas equipes de base. Já entre as medidas futuras, ela cita a criação de um ambulatório específico para diagnóstico e rastreio de demências no Creasi, que deve funcionar a partir de novembro.
Não é coisa de velho – Neurologista e professora da Faculdade de Medicina da Unex, em Feira de Santana, a médica Thainá Jahel reforça que é preciso não minimizar os primeiros sintomas, combatendo ideias preconceituosas de que determinados comportamentos é coisa de velho ou que se trata de um idoso teimoso. Ela explica que as demências podem afetar a memória, a linguagem, o comportamento e as noções de tempo e espaço. Na rotina do dia a dia, ilustra, o idoso começa a repetir e confundir histórias e situações; a não encontrar objetos guardados por ele mesmo; esquecer nomes de pessoas ou sair para fazer uma determinada tarefa e não executá-la. Também pode ter dificuldades de voltar para casa, ou ficar apático e desinteressado pela vida.
“Alguns pacientes chegam ao consultório se queixando apenas de lapsos de memória e acredita que pode ser falta de alguma vitamina ou com uma agressividade sem explicação. Como a saúde do idoso é muito mais delicada, precisamos realizar uma consulta com uma história clínica detalhada e, se necessário, alguns exames complementares para avaliar diagnósticos diferenciais até chegar ao diagnóstico preciso da doença de Alzheimer, que é um conjunto de sintomas, e tem o diagnóstico clínico. É muito importante que as famílias, os filhos estejam atentos a essas modificações comportamentais”, afirma a neurologista.
Na rotina do consultório as realidades são diversas, reforça Thainá, e um idoso de 90 anos pode seguir bem com suas rotinas, mesmo com as limitações da idade. “Existe perda cognitiva, existe, mas esquecer não é sinônimo de envelhecer”, garante a profissional, lembrando que é preciso deixar o etarismo de lado e parar de “culpar” a velhice por tudo.
Fatores de risco do Alzheimer
Fonte: Site da Associação Brasileira de Alzheimer (www.abraz.org.br)