Dom Pedro I teve filho “brasileiro” que preferiu a vida nos Estados Unidos
Batizado com o primeiro nome do pai, Pedro fez fortuna na Califórnia
Por
– por Marcelo TestoniPedro Brasileiro de Saisset foi um dos muitos filhos que o imperador do Brasil Dom Pedro I teve de forma polêmica. Nascido na França em 1829, um mês após o segundo casamento do seu pai com a imperatriz Amélia de Leuchtenberg, era fruto de uma traição. Sua mãe era Henriette Clemence de Saisset, casada com outro homem e uma das amantes de Dom Pedro I.
Como é sabido na História, o imperador do Brasil teve vários casos sexuais e o que teve com Saisset foi mais um deles. Os dois começaram a se relacionar depois que a primeira esposa de Dom Pedro I, a imperatriz Maria Leopoldina, morreu e Domitila de Castro, sua até então amante, havia sido ordenada por ele a deixar o Rio de Janeiro. O motivo era que Pedro I precisava encontrar uma nova esposa, mas a presença da marquesa de Santos só dificultava as coisas. Foi em meio a essa situação que ele conheceu Saisset, mas não para se casar. Ela era francesa, morava no Rio de Janeiro com o marido e era conhecida por ser uma “fashionista”.
Herdeiro não saiu barato
Como o imperador tinha uma libido elevada e os contraceptivos da época não eram muito eficazes, Saisset engravidou. Ao saber, Pedro I ficou aflito, pois se já enfrentava dificuldades para arranjar uma pretendente por conta da reputação de infiel, o que seria se descobrissem que uma amante sua estava grávida? Ele então assinou uma garantia de pensão anual para o filho, a amante e o marido dela, que sabia do caso extraconjugal, e assim foram para a França.
Porém, o casal Saisset não se contentou com a oferta e como sabia da situação delicada do imperador, decidiu extorqui-lo. Primeiro, cobraram o adiantamento da pensão, depois pediram uma indenização generosa. Se não fossem atendidos, bastaria que apresentassem as várias correspondências que Dom Pedro I enviava para Clemence a fim de ter notícias. Só foram contidos, momentaneamente, após agentes diplomáticos oferecerem um acordo.
O herdeiro então nasceu, recebeu o nome de Pedro, em homenagem ao pai biológico, e foi criado em Paris como um príncipe, mas sem saber de nada. Nem mesmo depois da morte de Dom Pedro I, em 1834, passou por dificuldades financeiras. O casal Saisset rompeu o sigilo e contou toda a verdade para a viúva, dona Amélia. Dela então receberam uma parte adiantada da herança que o imperador do Brasil havia deixado para seu filho em testamento.
O sonho americano
Pedro se formou bacharel em Letras, estudou Direito e em 1848, perto de completar 20 anos, decidiu trocar a França pelos Estados Unidos. As notícias da descoberta de ouro na Califórnia se espalharam e milhares de pessoas no mundo inteiro estavam indo para lá na tentativa de enriquecer. Pedro ficou animado e depois de investir $ 5 mil dólares na compra de mercadorias que capitalizaria por lá, pegou um navio e se mandou com sua valiosa carga.
Porém, um imprevisto arruinou com seus planos. Após seis meses de viagem pelo oceano, ele desembarcou em São Francisco, mas por algum problema seus produtos não e o navio zarpou. Com apenas a roupa do corpo, as bagagens de mão e cerca de $ 100 dólares no bolso, Pedro então percebeu que teria de trabalhar para recuperar o prejuízo e sobreviver. Resultado: arranjou um serviço em um navio e depois, com o tempo, seu talento empreendedor e para os negócios o levou a se envolver com compra e venda de seguros, terrenos e propriedades.
Fez fortuna como empresário, teve vários imóveis, fundou e presidiu a Brush Electric Light Company, uma importante companhia americana de fornecimento de energia, e por manter laços com seu país de origem, a França, onde no passado serviu como oficial da Guarda Nacional, conseguiu ainda estabelecer posição política na Califórnia como agente consular francês. Na esfera pessoal, foi casado com Maria Palomares e juntos tiveram quatro filhos.
Passado foi revelado
Em 1864, com a morte de sua mãe, Pedro retornou para a França a fim de resolver questões relacionadas ao testamento e descobre por meio de um bilhete deixado por Clemence de Saisset de que era filho de Dom Pedro I. Munido de provas, como documentos, comprovantes de pensão e herança e as cartas que o pai enviou para sua mãe, ele então decidiu escrever para Dom Pedro II, seu irmão e até então novo imperador do Brasil, a fim de se aproximarem.
A partir daí o que se sabe é muito pouco, pois até o momento não há nenhuma evidência nos registros históricos sobre uma relação entre os dois. Por exemplo, é fato que Dom Pedro II sabia da existência do irmão, pois o marido de Saisset chegou a procurá-lo no Rio de Janeiro para cobrar o dinheiro excedente da herança que Dom Pedro I havia deixado para o filho. Além disso, Pedro II era quem havia custeado a educação do irmão quando ele morava na França.
No entanto, não há confirmação de que tenha respondido ao contato do irmão e depois se encontraram. Dom Pedro II chegou a visitar a Califórnia alguns anos depois e os dois podem ter se conhecido nessa ocasião, mas o monarca não registrou nada a respeito em seu diário, o que fazia de costume. Pedro de Saisset permaneceu nos EUA até o final de sua vida e morreu em 1902. Seu legado rendeu na Califórnia o Museu de Saisset, da Universidade de Santa Clara.
Fontes: Sites Museu de Saisset, Biblioteca Nacional (BN) do Brasil, Universidade de Santa Clara, historysanjose.org (History San Jose); canal no YouTube do pesquisador Paulo Rezzutti, autor do livro “D. Pedro, a história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos”; e livros “Dom Pedro Primeiro e a Marquesa de Santos”, de Alberto Rangel, e “Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825 – 1891”, de Roderick J. Barman.