Dono da Globo foi esnobado por pescador que não conhecia a emissora

Victorio Berredo, Roberto Marinho e Carlos Tavares após pesca submarina em 1974 - Fotos: Acervo Pessoal

Victorio Berredo, Roberto Marinho e Carlos Tavares após pesca submarina em 1974

É difícil de acreditar, mas o todo-poderoso Roberto Marinho (1904-2003), trinta anos atrás, foi esnobado por um pescador que não quis lhe entregar alguns peixes sem receber o pagamento na hora. O então presidente das Organizações Globo tinha como hobby a pesca submarina e, além de praticar, apoiava e patrocinava eventos do gênero. Nos anos 1980, era um dos homens mais ricos e poderosos do país, mas o humilde pescador, sem televisor em casa, não sabia o que era Rede Globo.

Quem conta essa história é o jornalista Carlos Tavares, 92 anos, amigo pessoal e companheiro de pesca submarina de Marinho. Tavares foi colunista do jornal O Globo. Antes, trabalhou na TV Tupi. Conheceu Marinho antes da Globo, em 1965.

Tavares conta que foi bicampeão brasileiro de pesca submarina, em 1958 e 1959. Em 1960, Roberto Marinho começou a patrocinar o evento nacional e apoiou a realização de um campeonato internacional da modalidade. Com a grande repercussão em torno do evento, Marinho se interessou pela pesca submarina e passou a mergulhar junto com Tavares.

A partir daí, foram mais de 20 anos de aventuras nos litorais de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia (Abrolhos), sempre a bordo do iate Tamarind, de Marinho.

O fato mais inusitado ocorreu na década de 1980, quando eles saíram para mergulhar em Paraty (RJ). “Estávamos no Tamarind junto com o comandante quando ocorreu uma forte tempestade, que deixou as águas sujas, impróprias e perigosas para o mergulho”, explica o jornalista. “Mas o Roberto estava com visitas e queria levar alguns peixes para casa. Só que, com o mar sujo, era impossível”, completa.

Roberto Marinho exibe sua pesca em 1974

Foi aí que eles avistaram um pequeno barco e foram até lá. “Nos aproximamos da embarcação e vimos que os pescadores tinham quatro badejos. O Roberto então teve a ideia de comprar os peixes e levá-los para casa, mas se lembrou de que não tinha dinheiro”.

Marinho, então, pediu 50 cruzeiros emprestados para Tavares, mas ele também não havia levado nada. “Afinal, quem vai levar dinheiro na roupa de mergulho?”, lembra.

A única opção era tentar comprar fiado. Seria fácil para Roberto Marinho, certo? Ledo engano. Ele pediu para o pescador lhe dar os peixes e ir buscar o dinheiro em sua casa na segunda-feira. “Propôs pagar não apenas 50, mas 200 cruzeiros ao pescado”.

Mas o pescador disse que não entregaria os peixes sem o dinheiro. “Vendo que não conseguia convencer o pescador, ele resolveu dizer quem era: ‘Eu sou Roberto Marinho, dono da Rede Globo’, pensando que, dessa forma, o homem lhe entregaria os peixes. Mas qual foi a surpresa ao ouvir a resposta do pescador? ‘Não conheço essa Rede Globo’, ele falou. Moral da história: Roberto Marinho foi para casa sem nenhum peixe e, sempre espirituoso, achou muito engraçado o pescador nunca ter ouvido falar da emissora”, conta Tavares.

 

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